A geração de empregos no Brasil não para de perder força. Pesquisa da companhia de recrutamento ManpowerGroup mostra que a expectativa de contratação das empresas para o quarto trimestre chegou ao patamar mais baixo desde que levantamento teve início, em 2009. A projeção para os últimos três meses de 2014 apresentou alta de 7%. No ranking dos 42 países avaliados, os empresários brasileiros figuram na 20 ª posição.
Entre os empregadores brasileiros, 77% avaliaram que manterão o número de funcionários, outros 14% estimam que farão contratações e 9% anteciparam que farão cortes na folha de pessoal. Entre os oito setores pesquisados, o de construção civil e o da indústria projetam queda de 2% no número de vagas. Os mais otimistas são os executivos das áreas de serviços que esperam aumento de 19% no contingente de trabalhadores. No grupo agricultura, pesca e mineração, a expectativa é de reforçar o quadro de empregados em 13%.
A desaceleração na abertura de vagas no mercado de trabalho brasileiro ocorrerá em um momento em que economias emergentes contratarão mais. Na Índia, a expectativa de abertura de vagas chega a 46%, na Colômbia, a 18%, no México, 16%; e na China, 9%. Somente na Finlândia, na República Tcheca, na Irlanda, na Itália e na Espanha os empresários projetam mais demissões do que geração de empregos.
O presidente da ManpowerGroup Brasil, Riccardo Barberis, destacou que os empregadores brasileiros demonstram cautela para aumentar seus quadros de funcionais. “Apesar disso, o crescimento de 7% indica que o ritmo de contratação deverá manter-se positivo, com o Brasil se posicionando entre os 20 países com as maiores perspectivas de contratação”, comentou.
Na opinião do professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo Rocha, a redução no ritmo de criação de empregos é consequência do péssimo momento econômico do país. Ele explicou que a combinação perversa entre baixo crescimento e inflação alta desestimula os empresários a fazerem investimentos, a contratar, e adia qualquer plano que resulte em elevação de gastos. “O governo Dilma Rousseff mostra uma incapacidade total em gerir o país. Com isso, a confiança dos executivos despencou e não vejo como isso vai mudar caso ela seja reeleita”, ressaltou.
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos, com o nível de atividade econômica em queda, é natural que o ritmo de contrações também diminua. Ele comentou que parte dessa queda está relacionada à proximidade do período eleitoral, em que os empresários preferem ser cautelosos antes de fazerem qualquer movimento, seja de demissão seja de abertura de vagas.
Calote cresce 17,2%
A inflação mais alta, os juros elevados e o enfraquecimento do mercado de trabalho levaram muitos brasileiros ao calote. Segundo a Serasa Experian, agosto apresentou a maior taxa de inadimplência desde julho de 2012, 17,2%, em relação ao mesmo mês do ano passado. De janeiro a agosto, a variação foi de 2,5%, no mesmo tipo de comparação. De acordo com o relatório da Serasa, a alta “reflete o cenário conjuntural mais adverso neste ano no tocante à capacidade de pagamento de dívidas por parte dos consumidores”.
A situação atual é reflexo do alto endividamento das família. Estudo realizado pela KantarWorldpanel revela que 51% dos brasileiros gastaram mais do que podiam em 2013. Das famílias analisadas, 53% das mais endividadas pertencem às classes D e E. A pesquisa identificou que entre 2012 e 2013, a renda média do brasileiro variou 6,8%,de R$2.603 para R$ 2.779, enquanto que o gasto médio teve aumento de 8,7%, chegando a R$ 2.762.
Segundo a executiva de Marketing da KantarWorldpanel Carolina Andrade, o impacto da inflação nas compras das famílias foi percebido desde o início da pesquisa, no primeiro trimestre de 2013. “Alguns hábitos do consumidor brasileiro mudaram. As pessoas passaram a ficar em casa, evitam comer fora, fazem compras em volume maior para ir menos vezes ao supermercado, evitando, dessa forma, produtos supérfluos.”
O professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, acredita que é natural que os gastos aumentem com a renda. Mas alerta: “É interessante investir naquilo que realmente importa e ficar atento aos pequenos gastos diários que, quando anualizados, poderiam pagar uma viagem”.
Fonte: Correio Braziliense – 10/09/2014.