02/09/2014
Na contramão do desaquecimento do mercado de trabalho observado neste ano nas principais regiões metropolitanas do país, o interior vem se mostrando mais pujante economicamente, registrando taxas positivas de emprego em todos os primeiros seis meses do ano.
Dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), compilados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que, só em julho, o interior abriu 25.279 oportunidades formais, enquanto as regiões metropolitanas registraram uma retração de 13.483 vagas.
O cenário também se repete nos meses anteriores. Em junho, as cidades pequenas abriram 37.937 vagas. Já os grandes centros apresentaram saldo negativo de emprego de 12.574 postos. Em maio, a queda foi um pouco menor nas capitais, onde foram fechados 912 postos de trabalho. No entanto,nas regiões não metropolitanas foram abertas ainda mais oportunidades, 59.748 ao todo.
Os incentivos fiscais concedidos pelos governos do estado e cidades do interior, atrelados ao custo da mão de obra — mais barata do que as dos grandes centros urbanos — são algumas das causas apontadas para essa nova dinâmica, segundo o economista e professor do Insper, Otto Nogami.
“Nas cidades do interior, os salários de admissão são bem menores do que nas regiões metropolitanas. Além disso, os incentivos fiscais concedidos às companhias compensam a falta de mão de obra qualificada. Em Camaçari (BA), por exemplo, as posições de nível médio para cima existentes emumdos grandes polos automotivos da região vêm todas de São Paulo. A mão de obra é ainda um problema, mas que se consegue contornar, já que muitos profissionais qualificados optam ir para o interior em busca de qualidade de vida”, afirma Nogami.
Na avaliação do economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/ FGV), Rodrigo Leandro de Moura, o Caged vem mostrando, há alguns anos, que o mercado de trabalho no Brasil está mais vigoroso nas regiões menos desenvolvidas do país. Segundo Moura, esse movimento vem ocorrendo especialmente nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Nas regiões mais ricas, como no Sudeste e no Sul,houve umadesaceleração forte da geração de empregos. Já nas regiões menos desenvolvidas o mercado de trabalho mostra algum vigor. Ao meu ver, graças aos setores de comércio e serviços que vêm crescendo bastante”, avalia Moura.
Em julho, o Norte registrou o maior número de vagas abertas no país: 9.438, sendo 9.108 geradas no interior. A segunda região que mais ofertou oportunidades foi o Centro-Oeste, com 6.324. Desse total, 5.218 vagas foram originadas em pequenas cidades e 1.106 nos grandes centros urbanos. Já o Nordeste contratou 6.013 pessoas, sendo 5.502 no interior e o restante, 511,nas regiões metropolitanas. “Em Pernambuco, foi observado uma das melhores distribuições de vagas pelo estado. A maioria das cidades registrou mais abertura do que fechamento de oportunidades”,destaca Rodrigo de Moura, da FGV.
Só o Sudeste e o Sul apresentaram retração no mercado de trabalho em julho. No Sudeste, houve o fechamento de 4.419 vagas, sendo pouco mais de 10 mil nas regiões metropolitanas. O Sul teve uma queda mais forte no total de empregados, com a perda de 5.560 postos. Lá, tanto os centros urbanos, quanto o interior tiveram recuo na geração de vagas.
Embora reconheça que haja um movimento de atração de oportunidades para o interior do país, como a transferência de indústrias, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Saboia salienta que os dados do mercado de trabalho nacional em junho e julho podem esconder o efeito Copa do Mundo.
“Em função dos feriados e das menores perspectivas de faturamento, muitos empresários podem ter optado por não fazer investimentos nesses meses. O que pode ter influenciado em uma menor geração de oportunidades de trabalho nas regiões metropolitanas frente ao interior”, observa o especialista.
Em MG, varejo fecha mais de 9 mil vagas
Pesquisa realizada pela Fecomércio MG, a pedido do Brasil Econômico, revela que o varejo mineiro fechou 9.113 postos de trabalho no primeiro semestre do ano. Um percentual 69,5%( 3.737) maior do que no mesmo período do ano passado, quando haviam sido extintas 5.376 vagas.O levantamento tem como referência os dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Na capital, o saldo negativo de contratações foi de 4.103 postos de trabalho, 30,9% maior em relação ao mesmo período de 2013. Analista de Economia da Fecomércio MG, Juan Moreno de Deus credita o desaquecimento do mercado de trabalho no comércio mineiro ao conjunto de fatores econômicos desfavoráveis que o país vive. “O aumento inflacionário, a queda na oferta de crédito, os juros altos e a maior desconfiança por parte dos empresários e consumidores em relação ao atual momento”, avalia.
No estado, o maior número de demissões foi verificado no segmento de artigos de vestuário e acessórios, que fechou 6.248 vagas, frente a uma redução de 5.246 postos de trabalho no ano passado. Em Belo Horizonte, 2.214 oportunidades foram fechadas no período, número superior ao de 2013, quando houve uma perda de 1.828 vagas.
Na contramão, o varejo alimentício — hipermercados e supermercados — foi o que mais gerou oportunidades. O saldo de empregos foi de 1.087 no estado, contra uma retração de 636 postos verificada em 2013. Já em Belo Horizonte, o setor abriu 395 oportunidades, frente ao recuo de 242 vagas no ano anterior. Para Juan Moreno, o bom desempenho deve-se à recuperação das vendas da atividade que apresenta crescimento de 3,5%no volume de vendas no acumulado do ano.
Fonte: Brasil Econômico – 28/08/2014