18/02/2013 – Brasil Econômico
Por Natália Flach
É cada vez maior o número de empreendimentos com impacto na natureza e sociedade; veja como participar.
A primeira imagem que vem à cabeça quando se fala em empreendedorismo é de jovens construindo computadores na garagem de casa. O estereótipo remete às décadas finais do século passado quando Bill Gates e Steve Jobs deram início a dois gigantes do mundo da tecnologia.
Hoje, não apenas o leque de empreendedores foi ampliado como também os temas pelos quais eles se interessam. Um deles é o empreendedorismo socioambiental que investe em projetos com impactos no meio ambiente e/ou na sociedade sem perder de vista o retorno financeiro.
“O Brasil ainda engatinha nesse tipo de negócio. São raros os casos que conseguem crescer e os que conseguem são, em geral, associados à reciclagem e gestão do lixo”, afirma Marcelo Nakagawa, professor do Insper-SP. “Mas é uma tendência que tem crescido.”
É o caso de Ivan Dias. O jovem de apenas 22 anos decidiu empreender, em parceria com o pai, em uma empresa que comercializa pneus e presta serviços mecânicos. O modelo de gestão da Shop Car é a que a diferencia das concorrentes: além das vendas de pneus, decidiu-se apostar na reciclagem.
“A expectativa da Shop Car é reciclar pelo menos 6 mil pneus em 2013”, diz Dias, acrescentando que a produção de recapados teve início assim que o selo do Inmetro foi obtido pela empresa.
Em janeiro, 620 pneus já foram reciclados, utilizando apenas 40% da capacidade instalada de produção. “A classe C está comprando mais carros, por causa da maior facilidade nos financiamentos, mas muitas vezes não tem condições de renovar os pneus. Além disso, quando vendemos um pneu novo, a margem de lucro é pequena. Já na reciclagem, conseguimos gerar mais valor, financeiramente e ambientalmente.”
Para quem pensa em empreender, Nakagawa explica que é importante discernir o tipo de empreendimento. Existem negócios sociais que têm impacto social e os sustentáveis, com impacto ambiental e social. “Rotular é importante para o momento de buscar apoio”, aponta.
Aqueles que têm interesse na área social podem procurar a ONG Artemísia, que ajuda desde as pessoas que só tem uma boa ideia até aquelas que já tiraram os planos do papel.
Outra dica é o programa Visão de Sucesso da Endeavor, que é patrocinado pelo BID em parceria com o Itaú. Se o foco for impacto ambiental, pode-se procurar a entidade New Ventures.
Há ainda a possibilidade para quem quer atuar como mentor, como Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril, que tem assento no conselho do fundo especializado em projetos de impacto social Vox Capital.
“Aqueles que pretendem investir nesses projetos precisam saber que o horizonte de retorno é de cinco a seis anos. Hoje, a Vox, Pragma e a Gera fazem esse trabalho. O mercado brasileiro está na infância, mas é um caminho sem volta”, diz Nakagawa. “O problema é que o empreendedor ainda tem receio de ser criticado de ganhar dinheiro. Além disso, não existe legislação que apoia essas iniciativas no Brasil, como nos Estados Unido”.