11/12/2012
Especialistas acreditam ser necessário ação dos governos e inclusão da disciplina nas escolas para que brasileiro aprenda a poupar por prazos mais longos; previdência ajudaO Brasil ainda engatinha quando o assunto é educação financeira. Principalmente no que diz respeito à constituição de reservas para garantir o futuro. Embora o cenário atual seja propício para poupar, já que é mais fácil se planejar por conta da estabilidade dos preços, muita gente ainda não consegue se organizar financeiramente e separar parte do rendimento para assegurar, nas próximas décadas, o mesmo padrão de vida levado nos dias atuais. Há 30 anos o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu média anual de 330% e, por isso, o salário era engolido pelos custos galopantes dos produtos e serviços; hoje a expectativa é de que a inflação encerre 2012 em 5,43%.
Neste contexto, a previdência privada desempenha importante papel por ser a ferramenta mais usada para complementar a aposentadoria. O valor máximo que o contribuinte do INSS consegue receber é R$ 3.916,20 mensais, mesmo que ele tenha tido vencimentos com cifras muito maiores no decorrer de sua vida. Ou seja, se não houver recursos extras, o poder aquisitivo pode se reduzir bruscamente.
“O brasileiro carece de educação financeira. Não há disciplina sobre o assunto nas escolas, então as pessoas crescem despreparadas para tomar importantes decisões sobre o assunto.
Faltam ações do governo, que deveria ter essa responsabilidade, e das instituições de ensino, que deveriam ajudar no processo, para que a poupança se torne hábito do cidadão”, avalia Samy Dana, professor da escola de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ele, as pessoas não têm o costume de fazer orçamento e, no fim dos anos, vivem apenas com o que sobrou.
O professor do MBA da Fundação Instituto e Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) Silvio Paixão ressalta que muitas vezes o brasileiro consegue poupar, mas no curto prazo, pensando só em melhorias pontuais.
“Tem quem poupe R$ 5 mil e troque de carro, ou R$ 10 mil e vai viajar. Porém, não junta reservas para viver bem e, quando se aposenta, está morando de aluguel e sem dinheiro para pagar plano de saúde.” Para ter seu pé de meia na terceira idade, porém, é preciso se atentar para não perder tempo- e dinheiro. “A aplicação tem que render mais do que a inflação e é importante monitorar o investimento e acompanhar as mudanças de regras”, diz Paixão. Ele destaca que uma vez acertadas as taxas, o banco ou instituição de previdência não podem mudálas no meio do caminho.
Uma mudança que impactou indiretamente os planos foi a reforma da Previdência Social de 1999, instituída pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso com o intuito de reduzir o déficit público. Com a instituição do fator previdenciário, foi elevada a idade mínima para se aposentar, que saiu da casa dos 40 anos e saltou para a dos 50 anos, e o valor diminuiu por não mais considerar como base os últimos 36 salários, mas uma média dos rendimentos. “Com valor do benefício menor, a previdência privada teve de ser reforçada, o que a tornou ainda mais importante no processo da aposentadoria”, aponta Luiz Calado, vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef). Ele destaca, porém, que grandes mudanças são sempre alertadas de alguma maneira, e com tempo para alterar decisões.
Hoje, o investidor deve ficar atento à taxa de juros, que faz com que o rendimento de aplicações atreladas à Selic, em 7,25% ao ano, se reduzam. Com a inflação controlada, também é recomendável atenção às oscilações.
A carteira de previdência, composta geralmente por renda fixa e variável, pode conter títulos desse tipo, tanto indexados à inflação como à Selic.
“Na década de 1990, os juros chegaram a 20% ao ano. Ou seja, os investimentos em renda fixa não são mais tão rentáveis, o que reforça a necessidade de se poupar mais”, analisa Calado.
Por isso, quanto antes fizer o plano de previdência, e quanto mais jovem for, maior deve ser a parcela em renda variável.
Para o professor de Finanças do Insper, Ricardo Rocha, é aconselhável alocar até 20% em ações. Por ter característica de aplicação de longo prazo (acima de cinco anos), não ter come-cotas semestrais e cobrar o Imposto de Renda somente no resgate dos recursos, há tempo suficiente para reverter eventuais perdas.
“Se o aporte inicial for superior a R$ 5 mil, por exemplo, é possível negociar a não cobrança ou redução da taxa de carregamento, o que ocorre geralmente com os planos empresariais”, diz. “O investidor não pode ter vergonha de perguntar e de pechinchar.” Os especialistas avaliam que taxas entre 1,5% a 2% são salgadas, por isso é importante pesquisar antes de fechar ‘negócio’.
Para Dana, da FGV, é essencial realizar alterações no plano no decorrer da vida, a fim de que ele seja mais rentável. “Para os bancos é muito cômoda a situação, já que os gerentes, para cumprir metas, convencem os clientes a fazer plano de previdência que nem sempre contempla o perfil do investidor.
As indicações normalmente visam maximizar a carreira na instituição, e não o maior rendimento”, adverte. “É muito confortável para o gestor fazer uma lambança no investimento e o aplicador descobrir 20 anos depois.” E o tempo perdido não se recupera. Nem o dinheiro.
Brasil Econômico – SP – 11/12/12