A sensação no mercado financeiro é de um déjà vu. Desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva,em 2002, Bolsa e dólar não eram tão influenciados por pesquisas eleitorais. Há 12 anos, o temor era de que a chegada do PT ao poder poderia alterar bruscamente a política econômica. Na época, a campanha de Lula escreveu a Carta aos Brasileiros, mas ela foi insuficiente, e o dólar chegou a quase R$ 4.
Em menor grau, nas eleições deste ano, a Bolsa e o dólar se comportaram na esteira do desempenho da candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas eleitorais. No início de setembro, por exemplo, quando a candidata Marina Silva (PSB) entrou na disputa e ameaçou a liderança de Dilma tanto no 1.º quanto no 2.º turnos, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) – principal termômetro do mercado acionário – subiu e chegou ao patamar de 61.895 pontos, o nível mais alto desde janeiro de 2013.
O contrário também ocorreu. O crescimento da petista nas últimas pesquisas de intenção de voto tanto no 1.º como no 2.º turnos derrubou o índice. Na sexta-feira, a Bolsa fechou aos 54.539 pontos.
O mesmo efeito vale para o dólar. Com a melhora eleitoral da petista, a cotação da moeda americana passou de R$ 2,25, no início de setembro, para quase R$ 2,50 em pouco mais de um mês. “Esse tipo de reação está ligada à velha frase do mercado, que diz o seguinte: o mercado reage no boato, e se consolida no fato”, afirma Otto Nogami, professor do Insper.
O mau humor de investidores com o governo Dilma começou há dois anos. A gestão petista passou a ser considerada intervencionista em setores básicos da economia, como o energético. “O mercado quer uma redução do intervencionismo, que foi intensificado nos últimos anos, e previsibilidade de política econômica”, diz Juan Carlos Rodado, economista do banco Natixis e especialista em América Latina.
Descontente com o governo atual, o mercado procurou candidatos da oposição. O preferido sempre foi Aécio Neves, mas não houve dificuldade em aceitar Marina Silva, após a ex-ministra assumir a candidatura no lugar de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo.
Para o mercado, o programa econômico de Marina é bem parecido ao do tucano. “No caso de uma vitória da Marina Silva, o mercado reage positivamente, mas com certa resistência, em função de todo o discurso passado dela com relação à questão ambiental”, diz Nogami.
A presidente Dilma Rousseff já anunciou mudanças na equipe econômica, com a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no caso de ser reeleita. Mas a promessa tem sido insuficiente para reconquistar a confiança na economia.
Estados Unidos. O mercado também tem sido influenciado pela expectativa de quando o Federal Reserve ( Fed, o banco central dos Estados Unidos)começará a subir as taxas de juros. Esse movimento deve fazer com que recursos deixem países emergentes e retornem para a economia americana.
Fonte: O Estado de S. Paulo – 05/10/2014.