O Brasil sofre de uma doença econômica séria, cujos principais sintomas são recuo da produção de bens e serviços, inflação elevada e desemprego em alta. Mas que enfermidade é essa? A economia, como a medicina, dá nome às suas mazelas. A Folha perguntou a seis economistas qual seria a melhor definição para a crise atual. Todos acreditam que vivemos uma recessão profunda. Para alguns, ela já evoluiu para sua versão agravada: a depressão. Há consenso entre eles que, seja recessão, seja depressão, a crise está acompanhada de um fenômeno raro que é a alta continuada nos preços, mesmo após uma queda no consumo. Outro ponto em relação o qual os economistas concordam é que, sem ações rápidas do governo, a situação pode se agravar ainda mais.
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“Trata-se de uma profunda recessão, de estagflação, pois o modelo econômico não gera crescimento, com potencial de virar uma depressão se um caminho adequado não for adotado logo – Armínio Fraga – sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do BC (1999-2002)
“A atual crise é uma profunda recessão, que pode evoluir para uma depressão caso perdure o impasse político que impede a implementação de reformas que apontem para a redução de gastos públicos – Otaviano Canuto – representante do Brasil no FMI e ex-vice-presidente do Banco Mundial
“Com dois anos de queda do PIB dessa magnitude [2015 e 2016], está com cara de depressão –uma forte variação negativa combinada com dados ruins do balanço das empresas e da inadimplência – Luiz Gonzaga Belluzzo – professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica (1985-87)
“Estaríamos mais próximos de uma estagflação, mas, dado que esta crise tem efeitos prolongados, podemos dizer que é um longo período de recessão ou baixo crescimento, pois o Brasil não voltará a crescer em 3 a 5 anos – Mailson da Nóbrega – sócio da consultoria Tendências e ex-ministro da Fazenda (1987-1990)
“Vivemos uma longa e profunda recessão com inflação elevada. Podemos enfrentar difíceis reformas ou continuar a optar pelo populismo com ajuste cosmético e mergulhar em uma crise ainda mais aguda – Marcos Lisboa – presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica (2003-05)
“Estamos em uma recessão profunda, que ruma para uma depressão –uma recessão com características de continuidade. É pouco comum ao combinar-se com inflação alta, que realimenta o processo recessivo – Carlos Geraldo Langoni – Sócio da Projeta Consultoria e ex-presidente do BC (1980-83)
Fonte: Folha de S. Paulo – 04/03/2016