17/02/2017
Fonte: Nexo – 17/2/2017
A eleição do empresário João Doria para a Prefeitura de São Paulo era vista como central nas pretensões presidenciais de Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Ter um aliado na maior capital do país, calculava o governador paulista, mostraria sua força política e daria impulso para se tornar o nome tucano na corrida pelo Palácio do Planalto.
Doria foi eleito no primeiro turno e em menos de dois meses de gestão atraiu a atenção e a avaliação positiva de parte considerável do eleitorado. Para 44% dos paulistanos, a gestão do prefeito é considerada “ótima ou boa” e para 33% é “regular”. O “ruim ou péssimo” foi a opção escolhida por 13%, segundo a pesquisa Datafolha divulgada domingo (12).
Se o sucesso de Doria era visto como positivo para Alckmin, dentro do PSDB já há quem preveja os efeitos diretos para o futuro político do próprio prefeito e cogite a possibilidade de ele ser candidato de novo já em 2018.
Oficialmente, a escolha do nome para a eleição ao governo do Estado, que ocorre concomitantemente à eleição presidencial em 2018, não está, no momento, em pauta dentro do partido. A opinião de Alckmin, por ser o atual governador, tende a ter peso maior quando for se definir o seu sucessor. Hoje, uma alternativa é seu vice, Márcio França (PSB), opção sem consenso dentro do PSDB, que prefere um nome tucano. Alckmin está em seu segundo mandato consecutivo — o quarto, no total — e não pode disputar o cargo novamente em 2018.
O Nexo ouviu a opinião de dois cientistas políticos a respeito da sucessão paulista e das primeiras ações de Doria. São eles:
Carlos Melo, cientista político e professor do Insper
Cláudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas
A maneira como Doria governa simboliza um perfil de gestão de alguém que está tentando se projetar para 2018?
Carlos Melo É cedo para dizer porque se está em um momento em que o governo é novo e a máquina administrativa reage rapidamente ao novo gestor (servidores nesse período ficam com medo de perder cargos de confiança etc). É preciso uma avaliação mais adiante para avaliar de fato o perfil da gestão. Ele impôs um ritmo frenético, mas chegará o momento em que será necessário institucionalizar a gestão, com ações e projeções de longo prazo. Ainda não é possível saber se isso é exclusivamente uma característica pessoal dele.
Cláudio Couto É possível. Não dá para dizer que por conta desse estilo acelerado, que até combina com o slogan de campanha dele, que Doria já esteja almejando a eleição de 2018, que esse seja o motivo do estilo com que ele tem administrado. Não podemos excluir a possibilidade de ser de fato o estilo dele para, no início de governo, fixar uma marca e garantir satisfação popular. Muitos eleitores gostam dessa ideia de que o prefeito é um zelador e talvez por essa razão ele explore esse tipo de estratégia.
Caso seja esse o objetivo, quais as consequências para ele e para o PSDB?
Carlos Melo É claro que se junta a fome com a vontade de comer. Quando o gestor tem esse ímpeto todo e o PSDB começa a pensar na sucessão do Alckmin — e o partido teme que ele faça um acordo com o PSB para indicar o Márcio França —, a legenda passa a ter uma outra opção. Acho que isso até complica um pouco o jogo para o Alckmin. Por ora não está claro se o governador será candidato à Presidência em 2018 pelo PSDB, já que ele disputa esse lugar com o senador Aécio Neves.
Então seria preciso que algumas peças se movessem para analisar o cenário com mais clareza. Não me parece também tão simples que o Doria seja um nome. Há outros postulantes, como o próprio ministro José Serra ou mesmo o vice-prefeito Bruno Covas. Além disso, abandonar a gestão com dois anos de mandato pega mal. Basta lembrar que isso pegou muito para o Serra [em 2006 ele deixou a prefeitura para disputar o governo]. Acho que essas discussões, agora, mostram ainda o quanto o PSDB tem questões a resolver para o quadro presidencial em 2018. Depois que tiver alguma definição nessa direção, aí se pode começar a pensar em como as outras peças do tabuleiro serão mexidas.
Cláudio Couto Não existe um sucessor natural do Alckmin hoje para o governo. Por ora, fala-se no vice Márcio França, mas que não é um nome de consenso. Até agora Alckmin não formou um supersecretário ou alguém que parece um sucessor. O Doria, mesmo sendo alguém recente, é um nome do PSDB. Nesse sentido, não descartaria Doria como opção ou ao menos para o partido ter mais uma alternativa. No momento de desgaste da classe política, as chances de candidatos com o perfil dele aumentam.
Para o Doria, sair candidato poderia causar um ruído à imagem dele. Ele disse que concluiria o mandato. Voltar atrás será sempre lembrado pelo eleitor. Ainda mais depois de um discurso de não político. Pular de um cargo para outro parece típico de um político profissional no seu estilo mais puro. Ele falava o contrário, então por que fazer carreirismo na política? A contradição piora as coisas.