O dólar encerrou fevereiro com recuo de 3,14% e ficou na lanterna do ranking de investimentos. A moeda americana não registrava uma queda mensal desde setembro do ano passado.
A desvalorização do dólar pode ser explicada pela trégua do mercado com a economia brasileira depois da tentativa do governo de mostrar mais preocupação com a política fiscal. Na semana passada, o governo anunciou um contingenciamento no Orçamento da União de R$44 bilhões e uma meta de superávit de 1,9 do Produto Interno Bruto.
“Viemos de vários meses de pessimismo e fevereiro foi de mais otimismo, Houve uma melhora nesse sentido, mas é uma trégua e ninguém pode dizer se ela vai continuar”, afirma Fabio Colombo, administrador de investimentos.
Além do dólar, a Bolsa recuou em fevereiro (-1,14%). O Ibovespa – principal índice do mercado acionário brasileiro – soma quatro meses seguidos de queda. Em 2013, a baixa acumulada é de 8,57%. “A Bolsa não foi tão mal em dólar, porque a moeda se desvalorizou. Mas, para o investidor local, foi bastante ruim em função dos problemas econômicos que a gente continua enfrentando”, diz Colombo.
A liderança do ranking de fevereiro foi do ouro (2,18%). No ano, a alta é de 9,06%, também a maior entre todas as aplicações. A commodity é considerada um porto seguro dos investidores em momentos de turbulência internacional. A alta de fevereiro pode ser explicada pelas crises na Ucrânia, Argentina e Venezuela.
“Estão ocorrendo eventos internacionais que deixam o mercado um pouco mais receoso para correr risco”, afirma Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper.
Outro destaque do mês foram os fundos de inflação, de acordo com Viriato. As altas ficaram entre 4%e 6%. “Houve um fechamento da curva de juros e isso fez com que os fundos referenciados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que vinham muito ruim, tivessem uma rentabilidade surpreendente em fevereiro”, afirma Viriato.
Expectativa. O cenário para o investidor deve continuar desafiador ao longo deste ano, de acordo com a avaliação de analistas, mesmo com a alta da taxa básica de juros. Na quarta-feira, o Banco Central elevou a Selic em 0,25 pontos percentual, para 10,75% ao ano. O problema é que a inflação em alta deve limitar o ganho real das aplicações. O IPCA 15 – uma prévia da inflação oficial do País – marcou 0,7% em fevereiro, segundo o IBGE. “No caso dos juros, dependendo da taxa de administração, o ganho real de uma aplicação pode ficar próximo de zero” afirma Colombo.
Para o investidor que mira o longo prazo, a Bolsa pode ser uma possibilidade de buscar ganho real. “Os próximos meses não devem trazer grande ânimo e a volatilidade da Bolsa deve persistir”, diz Viriato. “Já houve uma correção muito forte da Bolsa, e os investidores que estavam foram do mercado de ações podem começar a aplicar um pouco nessa modalidade”.
Fonte: O Estado de S. Paulo – 01/03/2014