Em mais um pregão volátil, o dólar fechou ontem em alta de 0,12%, cotado a R$ 3,681 para venda 0 aumento das incertezas políticas, a forte intervenção do Banco Central (BC) no mercado e a elevação das expectativas de que o Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária norte-americana, aumente os juros afetaram o preço da divisa estrangeira. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) registrou ligeira queda de 0,07%, para 49.657 pontos.
O temor de que um pacto de sobrevivência seja firmado entre políticos governistas e de oposição para evitar o avanço da Operação Lava-Jato contaminou os mercados. Após a revelação de que a Odebrecht mantinha um suposto esquema de pagamentos para 316 parlamentares, governadores, ministros e prefeitos de 24 partidos, analistas passaram a questionar a celeridade do processo de impeachment da presidente Duma Rousseff e da resolução da crise política.
A redução da meta fiscal de R$ 24 bilhões para R$ 2,8 bilhões anunciada pelo Ministério da Fazenda e a possibilidade de que, na verdade, o ano termine com rombo de até R$ 96,6 bilhões nas contas púbicas também afetaram os mercados. Nos Estados Unidos, os discursos mais firmes de Dennis Lockhan, do FED de Atlanta, e de James Bullard, do FED de Saint Louis, deixaram no ar o temor de que a alta de juros nos Estados Unidos pode ocorrer antes do previsto, pressionando o dólar.
No Brasil, o BC ofereceu ao mercado US$ 3 bilhões em leilões de linha, 3 mil contratos de compra futura de dólares (swap reverso) e outras duas mil operações para venda futura da divisa norte americana (swap tradicional). Nenhum dos 3 mil contratos de swap reverso foi negociado. Para analistas, isso indica que a autoridade monetária atuou durante a semana para atender demandas específicas de agentes precisavam diminuir sua proteção. Da oferta de swaps tradicionais, somente mil contratos foram aceitos.
Para o economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Newton Rosa, o BC quer evitar instabilidade cambial em meio a novos fatos políticos. “O humor do mercado tem sido alterado a cada notícia que surge. Esse ambiente permanecerá por tempo indeterminados”, comentou.
Banda
O economista João Luiz Mascolo, professor do Insper, avaliou que o BC está procurando criar uma banda cambial para evitar mudanças bruscas na cotação da moeda. Ele observou que as operações de swap tradicional contêm a subida do preço da divisa e as operações reversas são feitas para evitar desvalorização. “A impressão é de que ele quer manter um piso de R$ 3,60 para o dólar.”
Na opinião de Mascolo, ao definir um piso para a moeda estrangeira, o BC deixa de se beneficiar de um processo que poderia facilitar a queda da inflação e da taxa básica de juros (Selic). Para ele, a autoridade monetária pode estar mais interessada em preservar o ajuste nas contas externas e favorecer as exportações brasileiras.
Fonte: Correio Braziliense – 25/03/2016