11/02/2021
Diretor de Assuntos Acadêmicos e coordenadoras do Núcleo de Ensino e Aprendizagem do Insper publicam livro focado no desenho de disciplinas e cursos
Em janeiro de 2021, a editora Atlas publicou o mais novo livro escrito por Irineu Gianesi, Diretor de Assuntos Acadêmicos do Insper, Juliana Massi e Débora Mallet, coordenadoras do Núcleo de Ensino e Aprendizagem do Insper. No livro Formação de Professores – No Desenho de Disciplinas e Cursos, os autores discutem metodologias e experiências de aprendizagem adquiridas a partir da vivência no Insper.
A obra publicada pelo trio é fruto de anos de pesquisa focada em processos de ensino e aprendizagem desenvolvidos dentro da escola. Esse método, pensado a partir de diversas referências internacionais, é ensinado em cursos da Educação Executiva do Insper desde 2018, e agora, por meio do livro, essa discussão educacional pode ser compartilhada com um público ainda mais amplo.
“O livro sistematiza o trabalho desenvolvido ao longo de vários anos no desenvolvimento e aperfeiçoamento do corpo docente do Insper, a partir do que aprendemos estudando, interagindo com outras instituições internacionais, aplicando e recebendo feedback. Chegou a hora de compartilharmos este conhecimento para que este movimento possa ser seguido em outras instituições do Brasil”, explica Irineu.
Juliana diz que os autores já cogitavam a vontade de escrever um livro sobre o tema mas tinham dúvidas de qual seria o formato ideal. Até que, logo na primeira turma, a demanda por um livro com os conteúdos e metodologias discutidos no curso veio dos próprios alunos. “Logo nessa experiência inicial, a primeira pergunta que os alunos faziam era se teríamos um livro para acompanhar as aulas. Já tínhamos referências de universidades e livros produzidos no Brasil e no exterior embasando o curso. Mas colocamos a meta de criar um livro compilando toda a nossa pesquisa relacionada ao ensino e aprendizagem.”
Para Débora Mallet, a experiência trabalhando no Insper foi fundamental para a produção do método exposto no livro. “Nosso trabalho no Insper traz muito a necessidade de evidências, não apenas aquelas vindas das percepções e trocas em sala de aula com os alunos, mas também as que conseguimos a partir dos dados. Com essa pesquisa para o livro e para o curso, podemos afirmar que educar é um fazer científico.”
No dia 04/03, os autores irão participar de um debate de lançamento do livro, conversando com educadores convidados. Não perca!
Confira a entrevista completa com Débora e Juliana:
Como surgiu a ideia de discutir a Formação de Professores neste livro?
Débora: O livro é uma etapa de um processo longo. Já tínhamos um curso ACA (Aprendizado Centrado no Aluno) dentro do Insper, e achamos que era o momento de fazer uma revisão. Dada a característica do Insper, de ser uma instituição que quer impactar a sociedade e oferecer conhecimento a todos os interessados, propomos um novo curso que também pudesse ser ofertado para profissionais de Educação. Após bastante discussão, chegamos ao princípio fundamental de que tudo começa pelo desenho da aprendizagem. Por isso, quisemos propor um olhar para o caminho de onde você parte para conquistar seus objetivos em termos de aprendizagem e formas de traçar esse processo.
Juliana: Chegamos à conclusão de que não existe boa aula sem planejamento. Nós começamos pensando um curso para ajudar justamente nesse processo de mensuração e execução do ensino. Rodamos a primeira turma na Educação Executiva, em 2018. Logo nessa primeira experiência, muitos participantes perguntaram se havia algum livro para acompanhar as aulas. Já tínhamos referências, como as experiências de Ollin College, Harvard e os livros Understanding by Design e How learning Works, embasando o curso. Mas colocamos a meta de criar um livro compilando toda a nossa pesquisa relacionada ao ensino e aprendizagem.
Como se deu o processo de pesquisa e escrita do livro a três mãos?
Débora: Acho que o processo nasceu com a estrutura do DEA, que é o centro de Ensino e Aprendizagem da escola. O DEA foi dividido em dois núcleos, um focado em avaliação e desenho de curso, e outro olhando para a gestão do corpo docente, que inclui formação e dinâmicas. Claro que essas duas coisas se relacionam, mas esse trabalho em duas frentes foi fundamental para nossa pesquisa, com processos divididos que se unem e se traduzem em conceitos muito próximos da prática em sala de aula.
Acho que o livro reflete isso. Nele, nós três criamos juntos as propostas de desenho de curso, nos baseando na experiência de cada um com ensino e aprendizagem, e também abordando plenamente todas as etapas metodológicas. Nós três somos docentes do curso de formação e qualquer um de nós pode dar qualquer uma das aulas. Foi uma construção conjunta, muito alinhada e inspirada.
Juliana: Para chegar nesse modelo, recebemos a orientação da liderança da escola para buscarmos formas de auxiliar o aprimoramento contínuo dos professores com base em indicadores. A escola já tinha discutido junto aos professores uma ideia inicial sobre o que seriam os Critérios de Excelência em Ensino que deviam considerar o planejamento, as dinâmicas com foco na aprendizagem centrada no aluno e em formas de mensurar a aprendizagem, mas tudo isso ainda não era bem sistematizado. A partir daí, tivemos a oportunidade de desenvolver os PDAF (Planejamento, Dinâmicas, Avaliações e Feedbacks), uma metodologia de desenho de curso e também de formação de professores. Já tínhamos o curso do ACA (Aprendizado Centrado no Aluno), que já tinha mais de 200 pessoas formadas, mudava o mindset dos professores, mas não ensinava sobre planejamento, o que dificultava sua aplicação. Por isso, o método que nós desenvolvemos ajudou a dar maior acesso às propostas, nos aproximando daquilo que chamamos de gestão da aprendizagem.
Qual o impacto da pandemia na produção do livro e como vocês avaliam a formação de professores em um contexto de ensino remoto?
Débora: Esse método que o livro propõe, que também é o método do curso, no fundo faz sentido para qualquer modalidade de aula (remoto, presencial ou híbrido), pois trata de princípios que deveriam ser pensados sempre em qualquer contexto educacional. Nós incluímos, no livro, alguns boxes que procuram conectar os assuntos tratados com o contexto do ensino remoto. Com a pandemia é que vimos, de fato, o que é a função e o potencial da tecnologia para a aprendizagem.
Juliana: Acho que nós tivemos um encaixe muito bom com esse momento que vivemos. Em março de 2020, nós já estávamos na revisão final do livro e chegou a pandemia. Por termos ajudado a escola a fazer a passagem do ensino presencial ao remoto – praticamente da noite para o dia – nós aprendemos muito com o processo. Isso possibilitou que a gente aproveitasse essa experiência e inseríssemos várias dicas sobre esse novo formato ao longo do livro.
Acho que o maior aprendizado da pandemia, que validou uma percepção que nós já tínhamos, foi descobrir que o método do PDAF funciona para todo e qualquer modelo de ensino. Uma boa aula só vai funcionar se a gente tiver objetivos de aprendizagem, e aí cabe ao professor olhar qual a tecnologia disponível e quais dinâmicas ele vai construir para que o objetivo seja atingido.
A experiência no Insper teve influência na formulação das teses expostas no livro?
Débora: Influenciou totalmente. Eu sempre trabalhei com educação e tive diversas experiências nessa área. Sabemos que esse é um campo repleto de dados, exames e avaliações, mas, na prática da sala de aula, essas coisas nem sempre estão presentes. Isso quer dizer que ao fazer uma avaliação de aprendizagem de um aluno, muitas vezes não se sabe exatamente o que está sendo avaliado. Não é comum olhar para os resultados e pensar quais são os problemas que temos e como intervir para ajudar o aluno a superar o que não está bom.
Nosso trabalho no Insper quebra com essa lógica e traz a necessidade constante de evidências, não apenas aquelas vindas das percepções e trocas com os alunos, mas também as que conseguimos a partir dos dados. Com essa pesquisa para o livro e para o curso, podemos afirmar que educar é um fazer científico. Acho que esse culto da escola às evidências não era uma referência tão clara para mim antes de estar aqui.
Juliana: Eu também já vinha de atuação em educação antes de entrar no Insper. Tive algumas experiências como coordenadora de curso. Mesmo tendo um interesse maior em formação de professores, eu não tinha tempo para estudar e me dedicar a isso da forma que eu gostaria. Então, quando eu cheguei no Insper e vi uma área exclusivamente dedicada a isso, pude entender por que se trata de uma escola de excelência. Acho que essa possibilidade de se dedicar exclusivamente à formação de professores e à aprendizagem foi fundamental para que o livro pudesse nascer. Foram cinco anos de tempo e recursos para a dedicação à temática.