São quase 23h25 desta quinta-feira (14) e, até o momento, o STF (Supremo Tribunal Federal) não julgou o mandado de segurança com que o governo pretende anular o processo de impeachment que tramita na Câmara. Por isso, só é possível raciocinar por hipótese, ainda que seja a hipótese mais provável. Se o STF rejeitar o mandado de segurança e mantiver o processo, Dilma terá dado um tiro pela culatra – e, provavelmente, fatal.
Políticos e analistas interpretaram a iniciativa da AGU (Advocacia Geral da União), comandada pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, como a prova de que o governo reconheceu que perderá a briga na Câmara daqui três dias. A carga psicológica dessa tentativa já pôde ser medida na noite de hoje, com a adesão de mais deputados à tese do impeachment.
Pela primeira vez, duas contagens assinalaram que a proposta alcançou os 342 votos necessários para ser aprovado pela Câmara e seguir para o Senado. As sondagens foram divulgadas, separadamente, pelos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo.
Outro efeito colateral tão grave para Dilma, quanto este, é que a possível rejeição do mandado de segurança, pelo STF, pulverizará o argumento de que há um golpe em curso. Se a Corte Suprema do país não enxerga um atentado ao Estado de Direito no pedido para impedir a presidente de prosseguir no cargo, por que os deputados e, daqui algumas semanas, os senadores pensarão diferente?
Veja, a seguir, as principais notícias sobre o impeachment desta quinta-feira (14):
Já deu – O impeachment alcançou, na noite desta quinta-feira (14), os 342 votos necessários para ser aprovado pelo plenário da Câmara, segundo as contagens dos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo, divulgadas nos respectivos sites. Estes são os primeiros placares a informar que o pedido de impedimento conta com os dois terços de deputados necessários para ser remetido ao Senado.
Nunca antes… – O governo admite que está no limite, “lutando com suas últimas forças”, para tentar segurar votos suficientes e impedir a aprovação da abertura de processo de impeachment no próximo domingo, mas fontes palacianas admitem que a situação nunca foi tão difícil.
Deixa eles – A saída do PP, PRB e PSD da base do governo no Congresso a poucos dias da votação do processo de impeachment pela Câmara não neutraliza a capacidade ofensiva do governo na disputa pelos votos dos deputados, disse o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva.
Esperança – O presidente do PT, Rui Falcão, disse a jornalistas que não trabalha com a hipótese da aprovação do relatório a favor da abertura de processo de impeachment contra Dilma pela Câmara neste domingo (17).
Desespero – A Advocacia Geral da União, comandada pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, entrou com um mandado de segurança no STF para anular o processo de impeachment. Na petição, Cardozo alega que a tramitação está cheia de vícios que deveriam impedir seu avanço. Para o cientista político Fernando Schüler, do Insper, isso só mostra uma coisa: o governo concluiu que perderá a briga no domingo.
Tanto faz 1 – A Câmara dos Deputados mudou a ordem de chamada dos deputados para a votação do pedido de impeachment de Dilma marcada para domingo, substituindo a votação que começaria por deputados da Região Sul e seguiria até o Norte por uma chamada alternando as regiões.
Tanto faz 2 – A maioria dos ministros do STF rejeitou liminar solicitada pelo PCdoB e mantiveram a ordem de votação do impeachment definido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Com a decisão, fica mantida a ordem estabelecida por Cunha nesta quinta-feira, que alterna a chamada das bancadas entre um Estado do Norte e outro do Sul e vice-versa, e assim sucessivamente.
Dia seguinte 1 – O intervalo de algumas semanas entre a aprovação do impeachment pela Câmara e a abertura do processo no Senado representará um vácuo de poder, já que o Brasil estará sob uma presidente de saída e um vice que ainda não pode mandar de fato, nem de direito. Mas isso preocupa mais o mercado, do que os políticos. Saiba por que, no Financista Debate com o cientista político Vítor Oliveira, da Pulso Público.
Dia seguinte 2 – Desde que a abertura do processo de impeachment foi acertada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em dezembro, a crise política que assolava o país se acentuou e se tornou um dos principais fatores que influenciam o mercado financeiro. Para o economista-chefe do Wells Fargo, Eugenio Aleman, o impeachment poderia abrir um espaço de mudanças e estabelecer a recuperação econômica, mas a confiança dos investidores no Brasil voltará aos poucos.
Dia seguinte 3 – É praticamente consenso que o novo presidente terá uma equipe econômica pró-mercado para dar um “choque” nas expectativas, o que endossa a atual onda otimista. Outro consenso, que vai na contramão da onda positiva, é o de que aprovar as reformas no Congresso não será fácil.
Fonte: O Financista – 14/04/2016