Conhecidos como empreendedores seriais, os gestores que criam e pilotam várias companhias ao mesmo tempo não devem postergar negócios por conta da crise financeira. O Valor ouviu três empresários que abriram, juntos, 28 negócios, entre 1996 e 2014. Metade das operações continua no mercado e todos planejam novos projetos, a maioria baseada na internet.
O empreendedor Walter Sabini Jr., 43 anos, abriu oito empresas entre 1996 e 2014. Do total, duas foram vendidas e seis continuam em operação. O conjunto inclui a e-smart, de desenvolvimento de plataformas de comércio eletrônico; a Precifica, de precificação de produtos, e a Virtualbiz, de sistemas para lojas virtuais. Mantém ainda a Greenclick, de selos de certificação sustentável para sites e a HiPartners, de investimento em negócios de tecnologia. A Shelfpix, de gerenciamento de pontos de venda, é a caçula do grupo, criada em junho.
“Juntas, devem faturar R$ 12 milhões em 2014, com projeção de R$ 20 milhões de faturamento, em 2015”, diz Sabini. “Gosto de investir em negócios que ajudam no dia a dia das empresas.” Segundo ele, vale a pena se dedicar a projetos simultâneos. “Essa prática permite diluir riscos. Há ganhos financeiros, novos relacionamentos profissionais e o reconhecimento do mercado.”
Mesmo com as incertezas do cenário financeiro, o empresário não vai brecar a criação de novos projetos. Para Sabini, o momento exige mais atenção, mas também pode se transformar em uma fase de grandes oportunidades. “Muitas empresas buscam recursos para se sustentar”, diz ele, que também atua como CEO de uma firma de investimentos.
Em 18 anos de empreendedorismo, o empresário nunca faliu.
“O mais próximo disso foi um investimento errado em um setor desconhecido, mas vendemos a empresa e diminuímos a perda”, ensina. “Procure investir em negócios com diferenciais de mercado, para aumentar a taxa de sucesso. Concorrer em segmentos bem atendidos é sempre mais difícil.”
Para Fred Ferreira, 34 anos, CEO do Grupo Vale do Silício, empreender no Brasil é sempre correr riscos. Ele também nunca foi à lona, mas já teve de abrir mão de negócios e recomeçar com algumas dívidas. Aos 16 anos, já tinha seu primeiro empreendimento, com um sócio maior de idade. De 1996 a 2014, fundou 13 empresas, como uma corretora de seguros, restaurante e gráfica. Hoje, mantém oito negócios, somente nas áreas de internet e tecnologia, como o Ligue Site, rede de agências digitais, e a franquia de locação de sistemas Doutor Software. O faturamento total chega a R$ 12 milhões.
“Quando muitas frentes são abertas, é preciso se estruturar melhor para gerir todos os negócios”, diz Ferreira, que está formatando mais quatro empresas de tecnologia. “A vantagem de investir em vários projetos é a possibilidade do crescimento rápido. À medida que aprendemos com os erros, as ideias seguintes nascem mais aperfeiçoadas.”
O carioca Daniel Muniz Silva, 33 anos, CEO da DCAN+M, quebrou duas vezes, mas conseguiu absorver lições das experiências. “Em uma delas planejei mal e não pesquisei o mercado como deveria. Na outra, a ideia não tinha força para evoluir”, lembra. “Mas ganhei aprendizado. Isso te prepara para o próximo desafio.”
Em 11 anos como empreendedor, Silva fundou sete empresas, entre 2003 e 2014. Quatro encerraram as atividades e três operações estão abertas. A DCAN+M desenvolve soluções móveis, a VaiMoto criou uma ferramenta para o transporte de produtos e a PrintPic originou um aplicativo que permite receber em casa fotos em papel, feitas no celular. Faturam cerca de R$ 2 milhões. Outro negócio, para a indústria farmacêutica, está em fase de elaboração.
Segundo Cynthia Serva, coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper, os empreendedores seriais não devem engavetar projetos por conta da desaceleração econômica. “Eles veem oportunidades onde a maioria enxerga crise. Acreditam que, enquanto uns choram, eles poderão vender lenços“, compara. “Também são muito mais motivados por realização pessoal ou de criar algo novo do que pelo dinheiro.“
Fonte: Valor Econômico – 31/10/2014.