O clínico-geral Rafael Mialski, 31, de Curitiba, atende em um hospital público em horário comercial. Mas seu dia de trabalho não acaba quando ele deixa o local.
Usuário do aplicativo DocWay, ele recebe ao menos uma chamada por semana em seu celular para atender pacientes na casa deles.
O DocWay segue modelo popularizado pelo Uber e pelos aplicativos para chamar táxi: o cliente pede um atendimento e, após alguns minutos, é informado sobre quem irá prestar o serviço e em quanto tempo.
As consultas custam entre R$ 200 e R$ 300, e a DocWay fica com 10% do valor. O serviço chegou a São Paulo em fevereiro e também está disponível em Belo Horizonte.
Mialski diz que a ferramenta é usada principalmente por pacientes que não podem dispor de um dia de trabalho para ir ao médico e que têm queixas simples. Ele conta que as consultas que vêm pelo aplicativo servem para lhe dar uma renda extra, sem a necessidade de fazer investimento, como a abertura de um consultório próprio.
A medicina é só mais uma entre as muitas áreas em que conectar clientes com profissionais está gerando lucros.
O movimento de “uberização” engloba setores como estética (Singu), manutenção automotiva (Easy Carros), entregas (Shippify, Loggi, VaiMoto), limpeza doméstica (Parafuzo e EasyQasa), advocacia (Jurídico Correspondentes e Justiça Seja Feita), reformas (Iguanafix) e chefs de cozinha (ChefEx).
TEMPO E RENDA EXTRA
Além do sucesso da companhia americana, fatores econômicos e comportamentais favorecem a criação desse tipo de serviço, segundo Hercules Maimone, sócio da consultoria PwC Brasil. Um deles é a crise, que leva os profissionais a procurar alternativas para ter renda extra.
Foi durante a crise de 2008 que o movimento da economia compartilhada, no qual o patrimônio e o tempo livre são disponibilizados em plataformas virtuais como forma de ganhar dinheiro, começou a tomar forma nos EUA.
Mudanças no modo como as novas gerações veem o trabalho impulsionaram esse tipo de negócio –segundo pesquisas, os nascidos a partir dos anos 1990 valorizam mais a vivência de experiências e a realização de projetos com os quais se identificam do que um emprego seguro.
A maquiadora Gabriela Massa, 25, se encaixa nesta tendência. Formada em relações internacionais na ESPM, ela decidiu deixar sua área de formação e ficou um semestre estudando maquiagem em Los Angeles (EUA).
Desde novembro ela atua como freelance, indo de carro atender chamadas que recebe pelo aplicativo da Singu. O serviço contratado pelo aplicativo custa R$ 220.
“Não pretendo trabalhar em um salão de beleza nem abrir um deles. Isso dá trabalho e deixa você presa. Não quero ficar presa a nada.”
Já a estudante de engenharia de produção Neuza Bernardo, 33, paga parte da faculdade com bicos que faz na plataforma Crowdtask.
Bernardo classifica imagens em categorias para sites de e-commerce, fotografa objetos em lojas físicas e busca contatos comerciais. Diz que já chegou a ganhar R$ 1.400 em um mês, trabalhando cerca de quatro horas por dia.
Por meio de uma dessas plataformas, Marcelo Freitas, 45, deixou a advocacia e virou passeador de cachorros há seis meses. Insatisfeito com o salário em sua área (cerca de R$ 1.600), ele agora cobra a partir de R$ 50 por uma hora de passeio. Os clientes chegam pela plataforma virtual Dog Walk.
“Antes, trabalhava das 9h às 21h e não tinha tempo para mais nada. Agora, faço uma coisa de que gosto e sobra tempo para muito mais.”
Fonte: Folha Online – 27/03/2016