Cientistas de dados ganham espaço e ajudam as empresas a resolverem um dos principais desafios da era digital
Muitos dados são gerados diariamente e quase todos eles podem ser analisados e mensurados. Desde o horário em que a pessoa sai de casa em direção ao trabalho, o número de passos que deu até uma loja, o que consumiu e em quanto tempo. No entanto, é necessária uma análise correta para que esses dados deixem de ser um aglomerado de números e se transformem em informação que faça a diferença no planejamento das empresas. Com base na localização, preferências do consumidor, rotina e outras informações disponíveis, as companhias podem estimar tendências e fazer previsões mais embasadas e que, efetivamente, determinem o rumo dos negócios.
Nesse cenário, surge a necessidade de um novo profissional nas empresas: o cientista de dados. Esses profissionais devem ter a habilidade de fazer a leitura correta das informações, identificando padrões de comportamento. Essa é uma das profissões mais promissoras no segmento de Tecnologia da Informação, segundo a consultoria Michael Page, líder mundial em recrutamento de executivos, e serão os especialistas mais requisitados no setor nos próximos dois anos, com salários variando de R$ 12 mil a R$ 30 mil.
“Além das competências técnicas, este novo profissional deve saber interpretar e comunicar os resultados e orientar os líderes na tomada de decisões importantes para o negócio”, destaca Hedibert Freitas Lopes, professor de Estatística e Econometria do Insper. “O cientista de dados precisa ser ativo, com autonomia até mesmo para propor soluções. Não há mais espaço no mercado para quem faz apenas o que é solicitado.”
Formação
Até recentemente, acreditava-se que apenas um estatístico ou um engenheiro de dados seria o suficiente para suprir esta demanda. Nos últimos anos, o mercado brasileiro percebeu que o cenário é mais complexo. Mais do que observar as informações disponíveis, é preciso analisá-las e traçar planos e metas consistentes.
Apesar da demanda do mercado por profissionais com essas características, ainda não há muitas opções de graduação específica em Ciência de Dados no Brasil. O caminho são cursos de curta, média e longa duração, que envolvem o estudo de temas como inteligência artificial, mineração e dados, big data, estatística, programação, bancos de dados estruturados e não estruturados.

O conhecimento específico em Estatística e Programação são essenciais para os profissionais que trabalham nessa área, possibilitando uma análise criteriosa e analítica. A Estatística mostra a relação entre variáveis explicativas e tenta provar, com certo nível de confiança, os fatores que influenciam uma tendência ou comportamento. A Programação, por sua vez, ajuda o profissional a extrair e ler esses dados corretamente.
Esses conceitos associados à inteligência artificial e baseados na premissa de que sistemas podem aprender com dados, identificam padrões e tomam decisões com cada vez menos intervenção humana. Aos profissionais, cabe entender as ferramentas e processos disponíveis, além de comparar os resultados obtidos com as metas da empresa.
Ciência de dados na prática
Em empresas de varejo, por exemplo, as informações geradas pelo consumidor são essenciais. A relação de produtos mais procurados, os horários de busca e até mesmo o canal escolhido (ambiente físico ou on-line) podem impactar diretamente na estratégia. Com a busca cada vez maior por atendimentos e produtos personalizados, entender os diferentes momentos e perfis de consumo é essencial para essa entrega.
Na área da saúde, sintomas parecidos em pacientes de uma mesma região podem servir como um alerta para que médicos identifiquem uma epidemia ou surto que se aproxima. A sugestão de filmes e séries em serviços de streaming também usam a tecnologia, analisando dados de perfil e histórico de buscas para indicar o que o usuário gostaria de assistir entre os títulos disponíveis.
“O paradigma de como a estatística é usada nas companhias deve mudar muito. As empresas terão mais evidências e análises quantitativas para tomar decisões. Áreas como Marketing e Recursos Humanos, que antes não necessitavam de profissionais com esse perfil, hoje dependem cada vez mais de análises sofisticadas, com cruzamentos de dados complexos”, conclui Lopes.