31/07/2013
Cada vez mais brasileiros sentem vontade de empreender. Tanto é que cerca de 45% da mão de obra ativa no país deseja sair do emprego e ter seu próprio negócio. Mas ao escolher esse caminho é preciso ter em mente que aprender gestão financeira é primordial. Isso porque a falta de planejamento financeiro é um dos principais motivos da mortalidade de novos negócios no Brasil. Pesquisa do Sebrae Nacional divulgada neste mês de julho aponta que 25% de cada cem novas empresas não chegam a dois anos de vida.
“Metade das empresas que fecham as portas o fazem por falta de planejamento financeiro e não porque faltou mercado para seu produto ou serviço”, avalia Mario Pinto, professor responsável pelos cursos de pós graduação lato sensu da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para evitar experiências amargas, o brasileiro tem a opção de recorrer a cursos de curta e média duração – há opções que levam um fim de semana ou os que chegam a até pelo menos seis meses. O empreendedor vai descobrir que uma das falhas comuns que derivam da falta de planejamento é ter de recorrer a empréstimo em banco porque a empresa não tinha um fundo em caixa para cobrir consequências de eventos inesperados – caso das manifestações que ocorreram recentemente. Esses eventos acabaram prejudicando o ritmo de vendas de muitos comerciantes que tiveram de fechar as portas por horas ou viram seu patrimônio depredado. “Só que os salários dos funcionários terão de ser pagos do mesmo jeito”, diz Mario Pinto.
Na opinião de especialistas, os empreendedores brasileiros são, em geral, otimistas e não consideram que eventos desse tipo possam ocorrer a si mesmos: não terão problemas em receber de clientes, não pensam que podem enfrentar dificuldades na hora de negociar prazos de pagamento a fornecedores, entre outros. Dessa forma, não se preparam financeiramente para enfrentar contratempos.
Ter capital de emergência e um fundo reservado para o pagamento do 13º salário dos funcionários, aprender a controlar o fluxo de caixa – com projeções de receitas e custos – e saber onde e quando buscar crédito são alguns dos pontos abordados por cursos oferecidos pela FGV, Sebrae Nacional e Endeavor.
Há alternativas presenciais e on-line para os empreendedores que precisam aprender gestão financeira mas têm pouco tempo no dia a dia. Na FGV, é possível aprender a lidar com aspectos pontuais, como fluxo de caixa, em dois dias, nos Cursos de Curta Duração (Cademp). Há, ainda, uma outra opção recomendada: o curso chamado “analistas de finanças” tem uma grade mais abrangente, ocorre a cada 15 dias – aos sábados -, e tem duração total de quatro meses.
Uma das novidades do mercado de educação financeira é o primeiro curso on-line lançado pela Endeavor neste mês de julho. Os principais tópicos são o já citado controle de projeções financeiras – como fazer previsão de receitas e gastos -, além da chamada demonstração de resultados. “Nesse último abordamos os conceitos de caixa e lucro. É importante para a sobrevivência do negócio conhecer as diferenças entre eles”, explica Sofia Hernández, coordenadora da área de ensino à distância da entidade.
O curso é dividido em cinco blocos e tem duração total de quatro horas. Como os vídeos podem ser assistidos a qualquer momento, não há prazo para conclusão do aprendizado. Para a especialista, outro erro comum é não saber calcular qual linha de produtos ou serviços dão mais lucratividade, ponto que também é abordado pela Endeavor.
No Sebrae há pacotes de cursos destinados ao empreendedor individual, a exemplo de muitos camelôs que caminham para a formalização de seus negócios, e para o micro e pequeno empresário. No primeiro caso, para os que faturam até R$ 60 mil anuais, duram quatro horas e abordam aspectos básicos de controle de fluxo de caixa. Para microempreendedores, cuja receita anual alcança até R$ 360 mil, há um pacote de cursos chamado ‘Na Medida’.
“Nessa esfera o empresário já tem outra estrutura de negócio. Há interação com fornecedores e bancos, ele já começa a trabalhar com indicadores financeiros”, diz Paulo Alvim, gerente de acesso a mercados e serviços financeiros do Sebrae. Por isso é necessário aprender, entre muitos outros temas, a calcular quais os prazos de pagamento a fornecedores adequados às necessidades da empresa e a ter controle sobre o capital de giro.
Já no curso destinado ao pequeno empresário, com receita anual que pode chegar a R$ 3,6 milhões, o foco é tomada de decisão. Como decidir um investimento – se é a hora certa para fazê-lo, onde buscar as melhores linhas de financiamento – ao se deparar com uma oportunidade para ampliar o negócio. Nesse caso, o “Sebrae Mais” traz ao aluno a realização de bom volume de simulações para que ele aprenda a não tomar decisões ‘por instinto’. O empresário ainda tem apoio de consultores.
O Insper e a Academia do Dinheiro trazem opções voltadas ao planejamento financeiro pessoal. São alternativas que abordam gestão de patrimônio e ensinam, por exemplo, a não misturar os caixas da empresa e de pessoa física. “O empresário precisa ter um olhar abrangente sobre suas finanças. Além dos mecanismos de gestão de seu negócio, ele tem de ver se possui seguros adequados à sua realidade, se sabe fazer planejamento tributário e patrimonial, e pensar em regimes de sucessão”, diz Ricardo Rocha, professor de finanças do curso de planejamento financeiro do Insper.
Esse curso tem carga de 60 horas presenciais, terá início em setembro com aulas nas noites de segundas e quarta-feiras e conclusão em novembro. Muitos se esquecem da questão da sucessão. É importante ter alguém preparado para assumir o negócio na falta do sócio fundador, até mesmo para que a família não corra o risco de perder o patrimônio pessoal se não conseguir vender a empresa ou se deparar com dívidas que ficaram para quitar, entre outras situações. “A maior parte só tem herdeiros e não sucessores”, diz Mauro Calil, educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, que ministra cursos presenciais com duração de um fim de semana.
Fonte: Valor Econômico
Data: 31/07/13