29/04/2020
Marco Antonio Leonel Caetano une esforços com time da Universidade Federal do Paraná em iniciativa que agrega informações atualizadas, modelos estatísticos, visualizações de dados e links úteis sobre a Covid-19 no Brasil
ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto do vírus Covid-19, estamos publicando uma série de entrevistas com professores, gestores e diretores para abordar ações realizadas pela nossa escola, além de dicas e orientações nas mais diversas áreas para colaborar com a superação dos desafios deste período.
Na entrevista a seguir, Marco Antonio Leonel Caetano, professor do Insper, explica o funcionamento do Portal Covid-19, esforço conjunto de pesquisadores dos Departamentos de Estatística, Informática, Física, Matemática e Saúde da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que conta com a sua colaboração. O Portal tem o objetivo de agregar informações atualizadas, modelos estatísticos, visualizações de dados e links úteis sobre a Covid-19 no Brasil, mais especialmente no estado do Paraná.
1 ) No que consiste a iniciativa da UFPR de previsão, modelagem e estratégia contra a Covid-19 e quais seus objetivos?
Foi formado um grupo de especialistas na UFPR de diversas áreas, incluindo a área da Saúde, Matemática, Física, Computação e Biologia para entender de modo mais amplo o que acontece com o novo coronavírus. A intenção é cada um colaborar num primeiro momento com textos, gráficos e programas de computadores. Mas a discussão está sendo ampliada e cada um coloca seu entendimento sobre parte de diversos temas tais como: estatística para leitos disponíveis em UTI, formas de testagem da população, modelos para estimar casos e óbitos, avaliação de estratégias de combate e métodos de modelagem e estimação de parâmetros para dados da doença.
O objetivo final é a geração de artigos e publicação de estudos acadêmicos científicos, além de recomendações com base nas projeções para os órgãos públicos ligados à área da saúde.
2 ) Como você recebeu o convite para participar dessa iniciativa e como funciona a sua colaboração?
Trabalho há 25 anos com modelos matemáticos ligados à área de infectologia e epidemiologia, com diversos artigos e orientações de mestrado no ITA nessa área. A área é conhecida como Biomatemática e, no início, eu trabalhei 10 anos com modelos da Aids, mais especificamente a nível celular nas relações entre o HIV e os linfócitos CD4-T.
Fiquei um ano no hospital de referência para a Aids na Vila Mariana (São Paulo), que era mantido pelo Banco Mundial. Consegui com o conselho de ética do estado de São Paulo a autorização para ler e fazer aquisição de dados dos prontuários médicos de 60 pacientes, com mais de 10 anos de dados.
Ao final, eu e meu amigo e colega professor do ITA, o professor Dr. Takashi Yoneyama, publicamos uma série de artigos em revistas Internacionais sobre otimização no tratamento da Aids. Além desse trabalho, modelamos e simulamos computacionalmente surtos da dengue e gripes, entre outras doenças, sempre tratadas do ponto de vista matemático-computacional.
Com o avanço da Covid-19, comecei a estimar, desde dezembro de 2019, a evolução da doença e a possiblidade do espalhamento no mundo até chegar ao Brasil, alertando para o perigo. A divulgação foi somente entre diversos amigos e seguidores no twitter. Esses gráficos e resultados chegaram às mãos de um grande amigo de graduação e professor titular da UFPR na área de computação, o professor Dr. Marcos Alexandre Castilho, especialista em inteligência artificial (IA) no departamento de Informática.
Ele me disse que estavam pensando em criar um grupo acadêmico para ampliar e solidificar o entendimento da doença com outros especialistas não somente em modelagem, mas na congregação mais ampla de ideias que levem ao maior entendimento possível.
Ele disse também que seria importante a minha participação para dividir conhecimentos, experiência na área e ajudar a construir ideias que poderiam gerar resultados práticos e acadêmicos, no que aceitei de imediato.
3 ) Quais as principais informações disponíveis no portal http://covid.c3sl.ufpr.br/ ?
O portal está a todo tempo sendo atualizado e sua configuração ainda não está pronta, mas foi colocado no ar com o material que cada um dos especialistas possui. O pessoal da computação fez a “toque de caixa”, em dois dias, um trabalho fantástico de programação do site para colocar dados em movimento que mostram dinamicamente o espalhamento do novo coronavírus. Tiveram que programar com base nos relatórios diários do Ministério da Saúde, e estão ainda programando e baixando dados de diversas fontes para prover a melhor quantidade e qualidade possível de informação. O site começou do zero e está com formato cada dia mais volumoso e informativo.
Existem alguns primeiros documentos com textos técnicos (alguns documentos que enviei para eles), animações do espalhamento da doença e diversos gráficos comparativos entre o desenrolar da doença no Brasil e no resto do mundo. O foco maior ainda é para o estado do Paraná, mas à medida que novas informações chegam, as ideias caminham para tratar o problema de forma mais ampla.
4 ) Já há algumas principais conclusões que podem ser destacadas com a realização dessa iniciativa?
Alguns alertas para Curitiba e governo do estado do Paraná foram feitos com relatórios traduzidos para o público em geral, ainda mais sob o ponto de vista informativo e com alertas. Como o grupo foi criado há um mês, ainda nada mais profundo ou qualquer tipo de conclusão foi possível. Todos estamos estudando e lendo trabalhos uns dos outros, para nos conhecermos e vermos no que podemos ajudar.
5 ) Na sua visão, como iniciativas como essa colaboram para atenuar o impacto da Covid-19 em nosso país?
O mundo inteiro está aprendendo e ninguém tem ideia formada ou fechada sobre o assunto. Técnicas que eram boas na Coréia do Sul, não serviram na China. Muitas técnicas da China não são aplicáveis no resto do mundo. O entendimento inicial sobre a resistência do vírus também está mudando, observando-se agora reincidência em números crescentes em pacientes que já tiveram a Covid-19. Isso não estava previsto no início.
A formação de um grupo multidisciplinar é muito importante para se uniformizar as ideias juntando aquisição de dados, modelos, simulações, comparações com a prática na área da saúde, na área da divulgação e na área da projeção de casos e óbitos. Uma tarefa é a divulgação com diversos tipos de dashboard, sites, painéis de internet e diversas projeções.
Mas uma tarefa muito mais importante e mais árdua é entender como o vírus se espalha, porque resiste tanto, qual a correlação dessa resistência com o ambiente, sob quais parâmetros ele resiste e porque, qual o momento em que ele dispara a infectar mais pessoas e sua relação causa-efeito. Estudos preliminares no mundo todo começam a seguir essa direção, deixando já de lado apenas a divulgação dos dados, mas buscando o estado da arte na ciência para descobrir o funcionamento completo da doença.
Mais grupos como esse deveriam ser incentivados a debater e publicar, publicar muito em revistas especializadas e revistas para o público em geral. É urgente, agora, combater o negativismo absurdo da ciência implantado no mundo, usado por maus políticos para prejudicar e confundir a população com fakenews e colocar todas as pessoas em risco de contaminação e morte. É hora da ciência responder e sair do casulo, e por isso esses tipos de grupos e movimentos de conhecimentos são de muita importância.
Marco Antonio Leonel Caetano fez graduação em Bacharelado-Matemática pela UNESP de S.J. do Rio Preto (SP) em 1987. Concluiu mestrado em Engenharia Aeronáutica pelo ITA em 1990 e defendeu sua tese de Doutorado em Engenharia Aeronáutica pelo ITA em 1995.
Trabalhou 12 anos na UNESP como Professor, Pesquisador e Consultor em Probabilidade e Estatística, possuindo cerca de 40 consultorias na área de bioestatística, auxiliando em projetos e teses de mestrado, doutorado, livre-docência e empresas.
Possui artigos em revistas internacionais indexadas nível A pela CAPES, artigos em revistas nacionais e anais de congressos, orientações de iniciação científica na UNESP, orientações em trabalhos de graduação no ITA e orientações na pós-graduação do ITA.
Atualmente é responsável pelas disciplinas que envolvem Sistemas de Informação no Insper em São Paulo desde 2004, com orientações de iniciação científica e trabalhos de formaturas na mesma faculdade. Recebeu diversas homenagens, sendo a principal da ABRUEM (Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais) pelo índice que avaliou o provão para as universidades de 1996 a 2000.