Encontro promovido pelo Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper compartilhou experiências de correspondentes e debateu as perspectivas para a função nos próximos anos
Quais são as perspectivas para a função de correspondente internacional nos próximos anos, na medida em que a interdependência entre os países são mais evidentes do que nunca e, ao mesmo tempo, os veículos tradicionais do jornalismo ocidental enfrentam dilemas estruturais sem precedentes e dificuldades financeiras que constrangem muito sua capacidade de manter repórteres permanentemente em cidades distantes de sua sede?

O Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper, para responder essa e outras questões relativas ao tema, convidou jornalistas com vasta experiência como correspondentes internacionais para um debate, realizado no dia 5 de setembro. Estiveram presentes Moisés Rabinovici (EBC), Lourival Sant’Anna (Estadão/CBN), Luciana Coelho (Folha) e Carlos Eduardo Lins da Silva (Insper), como mediador.
De acordo com Pedro Burgos, coordenador do Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper, o objetivo do evento foi buscar explicar, especialmente para jovens profissionais, o que se perde por não ter um olhar brasileiro vivenciando em primeira mão o que acontece em outras partes do mundo.
“A ideia do debate foi explorar essa contradição de estarmos vivendo em um mundo mais conectado, onde acompanhamos do Brasil os desdobramentos da política mundial em tempo real, mas ao mesmo tempo com as lentes dos estrangeiros. Assim, propomos uma reflexão sobre o passado e a tentativa de encontrar caminhos para o futuro e entender qual o perfil deste novo profissional de mídia que irá explorar o mundo estrangeiro”, explicou Burgos. “Ter alguns dos maiores nomes do ramo no evento permitiu, ao público, entender com mais clareza qual caminho o jornalista que quer conhecer e explicar o mundo deve seguir.”
O jornalista Moisés Rabinovici compartilhou a sua experiência de 58 anos de jornalismo, 20 desses como correspondente no Oriente Médio, Estados Unidos e França. “Hoje, o correspondente é um animal em extinção. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas os maiores jornais não abrem mão deles. A maior parte contrata freelancers que não têm segurança de ligação trabalhista com o jornal, entre outros aspectos que fragilizam o trabalho, como a possibilidade de quererem aparecer mais que a notícia”, disse Moisés.
“Muito do trabalho de um correspondente hoje é facilitado pelo acesso online a informações do mundo inteiro. Porém, o correspondente pode enxergar pautas e publicar matérias que não seriam tocadas por agências ou jornais locais, como é o caso do trabalho feito pelo correspondente do Washington Post no Rio de Janeiro sobre gangues de cachorros selvagens”, completou.
Repórter internacional há 30 anos, Lourival Sant’Anna fez reportagens em 70 países e abordou suas principais experiências como correspondente internacional, como as entrevistas com os Taleban e as coberturas de guerras no Iraque, Líbano e Geórgia. “A presença do correspondente internacional no local do acontecimento dos fatos, entre diversos aspectos, torna possível perceber fatores emocionais dos conflitantes e ir além do factual, o que gera histórias importantes para o público e que propiciam uma melhor compreensão do que acontece nesses momentos.”
A jornalista Luciana Coelho, correspondente nos EUA e na Europa por quatro anos, contou sobre sua atuação na cobertura internacional com foco na crise econômica. “Sempre procurei buscar histórias de pessoas afetadas pela crise e desenhar esse mosaico de situações que os jornais europeus ou norte-americanos não iriam fazer sobre seus locais de origem. Esse é um papel fundamental do correspondente”.
O debate foi concluído com um bate-papo mediado por Carlos Eduardo Lins da Silva, no qual o público pôde contribuir com perguntas. Entre os principais assuntos, foram discutidas as possibilidades para contornar a crise não só da figura do correspondente estrangeiro como do jornalismo de modo geral.