30/07/2021
Vencedor de prêmio com um projeto de produtividade na construção, o engenheiro e alumnus Gabriel Borges criou a start-up ConnectData e também é líder do Pilar LGBTQIA+ no Comitê Alumni de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper
Existem muitos pontos de conexão entre uma instituição de ensino superior e as pessoas que fazem parte dela. Aulas, pesquisas, incentivo à criação de projetos inovadores, relacionamento com a comunidade de ex-alunos e ex-alunas, engajamento com organizações estudantis… Gabriel Borges, alumnus Insper, acumula vários deles em sua trajetória. Aos 43 anos de idade, ele é um dos líderes do Pilar LGBTQIA+ no Comitê Alumni de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper. Recentemente, também se envolveu em projetos de pesquisa aplicados em sala de aula, em parceria com professores da escola.
Borges se formou em engenharia civil na Universidade Federal de Goiás em 2006 e, desde o período da graduação, se incomodava com a desorganização, a falta de controles, o desperdício e a quantidade de resíduos gerados em canteiros de obras em Goiânia. Ele começou, então, a direcionar sua atenção para aspectos ligados à gestão desses ambientes. Paralelamente a este viés mais pragmático de sua atuação, Borges sempre desenvolveu projetos de pesquisa, por meio de programas de Iniciação Científica. Depois de formado, teve experiência em construtoras e, em 2008, se mudou para São Paulo, a convite de uma empresa de consultoria, na qual trabalhou por oito anos.
A relação com o Insper começou em 2013, quando fez dois cursos de curta duração (Empreendedorismo em Ação e Innovation and Strategy). Ele concluiu ainda o MBA Executivo no Insper em 2015, tornando-se oficialmente um alumnus da escola. Borges sempre teve inclinação ao empreendedorismo e para o desenvolvimento de ferramentas que otimizassem processos de trabalho. Esses conceitos são centrais para o ConnectData, projeto criado por ele e vencedor do Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes na categoria early stage em 2020. Trata-se de uma iniciativa pioneira em tecnologias que geram maior economia e produtividade para a construção civil, além de rastreamento logístico sem qualquer intervenção humana, especialmente em canteiros de obra. Confira a seguir mais detalhes sobre essa trajetória rica e cheia de pontos de interseção com o Insper.
Qual a influência do Insper em sua formação empreendedora?
O Insper tem total influência e foi um divisor de águas na minha carreira. Fiquei totalmente fascinado pela escola, inicialmente pela sua estrutura física, afinal havia estudado praticamente toda a minha vida em escolas públicas e encontrar uma estrutura nos moldes de Harvard no coração de São Paulo foi incrível. Durante o período em que fiz cursos livres, pude firmar parcerias com excelentes profissionais e professores com que tive contato no Insper.
Como escolheu a pós-graduação?
Enxergando toda a inclinação para o empreendedorismo e inovação da escola, decidi me candidatar à pós-graduação, marcando entrevistas tanto para o Mestrado Profissional quanto para o MBA Executivo. Resolvi seguir inicialmente o MBA Executivo, mas com planos para logo após fazer o Mestrado.
O curso estimulou o seu lado empreendedor?
Durante o curso de MBA, o projeto da ConnectData amadureceu e veio a oportunidade de colocá-lo em prática, com o apoio de alguns professores, entre eles o Marcelo Nakagawa. Assim, a ConnectData foi tomando forma, sendo estruturada e decidi formalizar o negócio ainda antes do término do curso. Gosto de brincar que tive os melhores “mentores” para o direcionamento inicial da ConnectData, que foram os professores do Insper, indiscutivelmente excelentes profissionais.
No que consiste o projeto?
A ConnectData é uma empresa de tecnologia que tem a inovação e tecnologia em seu core. O principal desenvolvimento da ConnectData é uma solução composta de dispositivos de hardware (sensores basicamente) e uma plataforma de software. O foco principal é a coleta de dados relacionados ao monitoramento de ativos e pessoas em canteiros de obras e plantas industriais. Gera informações sobre a segurança dos trabalhadores e índices de produtividade, além da eficiência dos processos, desperdícios ou desvios de insumos e materiais, entre outros indicadores que agreguem valor aos negócios. Por ser uma tecnologia modular, é adaptável e aplicável a diferentes casos de uso e indústrias.
Como foi a experiência de participar do Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes em 2020?
A participação no Prêmio foi muito importante, primeiramente para a ConnectData como negócio, assim como para mim, pessoalmente. Afinal, estávamos naquele momento enfrentando os efeitos que a pandemia causou, em todos os sentidos. Os principais resultados da premiação foram relacionados à abertura de portas para realização de projetos em diferentes áreas como, por exemplo, gestão hospitalar de pessoas e ativos. Além disso, nos possibilitou a aproximação com diferentes fundos de investimento, interessados em se aprofundar no projeto, enxergando a grande oportunidade e a diferenciação da tecnologia frente às demais oferecidas no mercado.
Como se tornou um dos líderes do Pilar LGBTQIA+ do Comitê Alumni de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper?
Sempre busquei estar muito próximo ao Insper e participar das iniciativas que envolvem tanto alumni, quanto todos os assuntos relacionados ao Cemp (Centro de Empreendedorismo) e ao empreendedorismo de maneira geral. A liderança do Pilar LGBTQIA+ veio totalmente alinhada às diretrizes de condução da ConnectData e dentro um planejamento pessoal, para trazer mais visibilidade e esclarecimento ao assunto. Pois acredito que ainda exista pouca informação disponível sobre a diversidade, além de muito preconceito, mesmo que velado, inclusive dentro do ambiente das start-ups, que, em teoria, se posiciona como mais aberto à diversidade e à inclusão.
Qual a importância de iniciativas desse tipo no ambiente acadêmico, corporativo e empreendedor?
Julgo extremamente importante a iniciativa do comitê e fiquei muito feliz de assumir a liderança do Pilar LGBTQIA+. Por experiência própria, precisei buscar bastante informação para entender todas as travas e bloqueios que me impediam de progredir profissionalmente. Isso envolve a capacidade de me expressar com criatividade, me relacionar com os pares e superiores e, principalmente, me posicionar com segurança sobre questões mais complexas e delicadas. Acredito que as pessoas conseguem atingir um nível melhor de criatividade e, principalmente, ser mais felizes atuando profissionalmente quando podem expressar sua verdadeira identidade.
Que barreiras as pessoas LGBTQIA+ têm de enfrentar?
Infelizmente, a manipulação psicológica acontece, muitas vezes de maneira indireta, mas também de maneira direta. O pior de tudo é que ela geralmente começa na formação das pessoas, dentro de suas casas, continuando depois nos ambientes escolares e no ambiente de trabalho. Quem já passou por situações de total constrangimento por simplesmente ser quem é entende do que estou falando. Portanto, quanto mais informação e liberdade conseguirmos trazer dentro da comunidade Insper, desde os alunos da graduação até a disseminação dentro das organizações pela comunidade alumni, maior é o valor que entregamos à sociedade e ao mercado de maneira geral.
Atualmente, você é doador do Programa de Bolsas do Insper. Qual sua motivação para contribuir?
A educação é essencial ao desenvolvimento das pessoas, além de ser um fator primordial ao desenvolvimento da economia e de toda a sociedade. Grande parte da minha educação foi em escolas públicas, portanto, entendo as limitações existentes e os gaps que surgem para o desenvolvimento das competências desses estudantes. Ser doador é uma forma de proporcionar a essas pessoas uma oportunidade de se desenvolver, nesse caso em umas das melhores escolas do mundo, de conseguir atingir seu potencial, realizando seus sonhos e objetivos. E, claro, torço para que um dia possam retribuir isso para a sociedade.
Como avalia os impactos do projeto na escola?
O projeto impacta de maneira muito positiva os alunos e alunas, não somente os bolsistas, mas também toda a comunidade estudantil. Afinal, traz ainda mais diversidade e inclusão na prática, além de um nivelamento de oportunidades e acesso ao ensino de qualidade. Fora isso, o Insper ganha com o fortalecimento dos colegiados, dos esportes e das organizações estudantis de maneira geral.
Você também atua em um projeto em sala de aula, em parceria com professores do Insper. Fale sobre essa iniciativa.
Sempre busquei estar muito presente nos assuntos relacionados ao empreendedorismo e à inovação dentro do Insper, principalmente após o Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes. Tive a chance de conversar com o Professor Vinicius Picanço durante o evento de premiação e começamos a avaliar as diferentes possibilidades e formas de levar essa experiência aos alunos (principalmente por se tratar de tecnologia de software/sistemas, além de tecnologias de hardware com todo um processo de propriedade intelectual já traçado) em projetos já existentes com as disciplinas. Com isso, iniciamos o relacionamento com alguns professores da disciplina Desenvolvimento Ágil, especialmente com o professor Marcelo Hashimoto, e tivemos um projeto de sucesso com os alunos do 3º período de Engenharia. A iniciativa trouxe excelentes resultados para todas as partes envolvidas. A apresentação dos resultados com os alunos e, principalmente, o feedback recebido deles sobre os desafios e o valor agregado à sua formação é impressionante. Por meio dessa experiência, pudemos perceber o desenvolvimento de soft skills, como a persistência para a solução dos desafios e o aumento da autoestima pela superação das dificuldades enfrentadas.
Que outros objetivos ainda tem com o Insper?
Tenho como objetivo estar cada vez mais próximo das iniciativas de inovação e empreendedorismo do Insper, inclusive agora com o Hub de Inovação. Existem várias oportunidades e possibilidades de desenhar estratégias para essa interação entre tudo o que a escola oferece, desenvolvendo isso nas comunidades de alunos e alumni. Desse modo, o Insper pode ser cada vez mais reconhecido como referência de empreendedorismo, inovação, tecnologia e, ainda, na geração de novos negócios e start-ups, assim como se tornou para mim. Gosto bastante da interação com as pessoas e, nesse caso, com os alunos. Além disso, dedico grande parte do meu tempo à pesquisa, à busca do novo e ao desenvolvimento tecnológico, e isso dá sentido à minha trajetória.
Tem planos de entrar na carreira docente?
No fim da graduação, realizei alguns projetos de pesquisa com a possibilidade de dar continuidade, naquele momento, se ingressasse em um mestrado no mesmo assunto. No entanto, por questões pessoais, precisava decidir entre o mercado de trabalho e a academia. Ainda assim, sempre busquei me capacitar e sempre pesquisei muito, me tornando até inventor de quatro patentes hoje depositadas em meu nome. Neste ano, fui aprovado para um mestrado profissional na Escola Politécnica da USP, com foco em inovação na construção civil, em uma linha de pesquisa voltada à simulação computacional. Portanto, caso seja possível, pretendo cada vez mais atuar no sentido de aproximar a academia e o mercado, e a carreira docente poderá ser parte dessa jornada.