03/02/2016
Para alguns, a pós-graduação é uma maneira de aprofundar escolhas da faculdade. Para outros, pode ser o caminho para alterar por completo os rumos da carreira.
Segundo Sérgio Lex, pró-reitor de extensão e educação continuada da Universidade Mackenzie, a especialização lato sensu é a melhor escolha para quem quer mudar de profissão. “O curso otimiza o tempo do aluno e ainda capitaliza a sua experiência profissional no mercado”.
Para Cristiane Alpersted, diretora de qualidade acadêmica da Universidade Anhembi Morumbi, a proposta de aprofundamento de conteúdo da pós-graduação ajuda na colocação profissional em alguns segmentos.
Alpersted lembra que é preciso checar as exigências do curso antes de se aventurar em uma área completamente nova.
Fisioterapeuta pulou da publicidade para bistrô
Anne Caroline Bitencourt Lima, 33, se formou em fisioterapia, em Porto Alegre, em 2004. Após um MBA em marketing, mudou de área e abriu um bistrô em São Paulo.
“Atirava para todas as áreas da fisioterapia, em busca de satisfação financeira e realização pessoal. Foi árduo, não compensava.”
Depois de uma tentativa frustrada de fazer mestrado na área de fisiologia do exercício, decidiu mudar de carreira e começar a trabalhar como estagiária numa empresa de comunicação.
A decisão rendeu à ex-fisioterapeuta uma pós e nove anos de carreira na publicidade. Mais recentemente, Anne juntou os conhecimentos na área da saúde com os que adquiriu no marketing para montar sua própria empresa.
“Abri em 2013 o Troquei Fritas por Salada, delivery de congelados veganos. No ano passado, com um sócio, abri um restaurante da marca. E estou cada vez mais indo para o marketing”, diz.
Colegas deram estímulo para arquiteta virar fotógrafa
Quando se formou em arquitetura e foi trabalhar, Patrícia Palomino, 34, percebeu que a profissão não era como sonhava.”A burocracia dos projetos me desanimou.”
O ânimo que faltava no escritório sobrava na distração descoberta em viagens de família: a fotografia. “Era a única coisa que me deixava focada”, diz.
Depois de um curso básico, ingressou em uma pós-graduação no Senac para se aprofundar na técnica.
Com o estímulo dos colegas, que lhe indicaram trabalhos e possíveis caminhos a seguir, o hobby finalmente se transformou em ganha-pão.
“A transição de carreira foi bem suave, nem senti muito. Quando vi, já era fotógrafa profissional”, diz Patrícia, que aconselha outras pessoas com dúvidas na carreira a mudar de área.
Desiludida com mercado, publicitária abriu haras
Viagens a trabalho, equipes para coordenar, um bom salário, reuniões e mais reuniões. Se aquilo era sucesso profissional, não era o que Thaís Perez, 32, queria. Formada em publicidade, com MBA em marketing e dez anos em multinacionais, ela não se sentia realizada.
“O mundo corporativo é muito frio. Ou você bate a meta ou não é mais útil”, diz.
Por meio de uma amiga, descobriu a equoterapia, um método que usa cavalos para estimular o desenvolvimento de pessoas com deficiência.
Começou a pesquisar sobre o assunto e foi fazer um estágio não remunerado na área. Depois, fez pós na Fundação Rancho GG, em Ibiúna, no interior de São Paulo.
Thaís diz que o aprendizado foi difícil, sobretudo por não ter vindo da área de saúde. Mas credita a ele a possibilidade de ter deixado o trabalho anterior para fundar a Estância Tordilha, em Indaiatuba (SP), dedicada à equoterapia para crianças.
Fonoaudióloga se dedica aos esmaltes em novo negócio
Camila Negretti, 33, trabalhou como fonoaudióloga por nove anos e deu consultoria para executivos, mas sempre quis ter seu próprio negócio.
Fez, então, uma pós em administração no Insper. “Queria algo mais rápido que uma graduação e precisava de um retorno para saber se estava no caminho certo.”
Hoje, ela é dona de uma esmalteria, mas a primeira formação ainda lhe é útil.
“A experiência em fonoaudiologia foi importante pois exigiu atenção, organização, planejamento e cuidado com pessoas”, explica.
Camila diz que não se arrepende das escolhas. “É muito difícil deixar para trás uma carreira, mas a recompensa de alcançar um novo objetivo é enorme”, afirma. “Eu demorei muito a tomar a decisão de deixar minha profissão e seguir um outro rumo, mas hoje vejo como foi importante para mim.”
Economista deixou banco para buscar desafios na moda
Quando terminou a faculdade de economia, Ana Carolina Ramos, 30, trabalhava em um banco de investimentos. Depois de dois anos ali, entediada, quis voltar a estudar. “Vi mestrados e pós-graduações na área, mas achei que eram muito parecidos com o que eu tinha estudado”, diz.
Decidiu fazer uma pós em moda e criação na Faculdade Santa Marcelina, em SP.
“O curso deu uma boa pincelada em todos os assuntos, o que me ajudou, uma vez que eu não era da área”, diz. Para ela, o maior desafio foram as aulas de desenho.
A oportunidade de mudar de área veio ao ler uma entrevista da estilista Glória Coelho. “Ela dizia que, durante a própria carreira, aprendeu que precisava dar importância para a administração, e não apenas a criação, e que queria profissionalizar isso na empresa dela”, afirma.
Ramos mandou um e-mail para a estilista contando sobre a sua formação dupla e conseguiu um emprego.
Agora está focada em seu doutorado na área de negócios. “Ainda não sei que caminho seguir, mas tenho as portas abertas para a moda.”
Doença fez professora ir trabalhar em hospital
Formada em educação artística, Graziele da Silva, 27, chegou a dar aulas de artes plásticas, mas um problema de saúde causado pelo pó de giz a obrigou a procurar uma nova área. Acabou indo trabalhar no setor administrativo de um hospital em São Bernardo do Campo.
Gostou da área e decidiu se especializar. Por isso, fez um MBA em administração hospitalar e sistema de saúde na Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo.
“O curso abordava os pontos específicos que eu buscava para minha atuação, o que era mais vantajoso do que fazer uma nova graduação”, explica Graziele.
Prestes a se formar, ela conta que a pós-graduação ajuda muito no dia a dia do trabalho. “Tive aulas e aperfeiçoei um pouco mais meus conhecimentos sobre direito em saúde.”
Psiquiatra tenta deixar o plantão para ser roteirista
A médica psiquiatra Bruna Roncatti, 32, está, aos poucos, deixando a carreira para abraçar o mundo do cinema.
“Na medicina, sinto falta da criatividade. Não há muito espaço para ser criativo, porque, se você for, pode matar alguém”, diz.
Para a transição, pensou em fazer uma nova graduação, mas optou pela pós em roteiro de ficção audiovisual do Senac, que ainda cursa.
Um dos maiores desafios, conta, foi voltar a escrever, prática que havia deixado de lado em favor da medicina.
“Tenho me dedicado à medicina desde os 14, é algo que exige muito, não é à toa que tenho letra feia”, brinca.
Atualmente, ela está finalizando seu primeiro curta-metragem e sonha em ser roteirista profissional. Por enquanto, porém, ainda atende como psiquiatra. “Não se muda de área do nada aos 32 anos”, diz.
Fonte: Folha Online – 31/01/2016