21/07/2022
A solução de pagamentos conhecida como BNPL (Buy Now Pay Later) mira principalmente os consumidores desbancarizados ou sem cartões de crédito
Em muitos países, não existe a cultura de “comprar a prestações”, exceto quando envolve a aquisição de bens de alto valor, como imóveis e veículos. Mas a pandemia da covid-19 impulsionou as compras online no mundo inteiro e fez crescer um novo meio de pagamento de itens consumidos no dia a dia: o BNPL, ou Buy Now Pay Later (“Compre agora, pague depois”).
De acordo com um estudo da Precedence Research, empresa indo-canadense de pesquisa de mercado, as soluções de pagamento BNPL devem movimentar globalmente perto de 180 bilhões de dólares neste ano, ante 125 bilhões de dólares no ano passado. Até 2030, esse mercado deve chegar a 3,3 trilhões de dólares, um crescimento anual de quase 44%, segundo as projeções do estudo.
As soluções BNPL podem ser oferecidas tanto em lojas virtuais quanto em lojas físicas, mas o grande impulso veio mesmo com a expansão do comércio eletrônico na pandemia. De acordo com a Precedente Research, o segmento online deverá ser responsável por 82% da receita global das soluções BNPL em 2022.
Em termos de produtos, os eletroeletrônicos deverão liderar as compras por meio de soluções BNPL, com uma fatia de 36% do faturamento global esperado para 2022. Na sequência vêm as compras de vestuários (31%), móveis e artigos para casa (24%) e demais produtos (9%).
Entre os principais compradores nessa modalidade estão os jovens da Geração Z, que inclui pessoas nascidas entre 1995 e 2010. Também chamados de “nativos digitais”, esses jovens têm grande familiaridade com o mundo da computação e da internet. Muitos deles têm aproveitado as facilidades do BNPL para comprar smartphones mais caros, dividindo o pagamento em várias parcelas.
Na prática, o BNPL mira principalmente os consumidores desbancarizados ou que não possuem cartão de crédito — muitos deles por não preencherem os requisitos para obter crédito em instituições financeiras tradicionais. Entre as plataformas de BNPL mais conhecidas lá fora estão a Afterpay, a Billie, a Affirm e a Klarna. No Brasil, surgiram fintechs nesse segmento como a Provu e a VirtusPay.
Mas esse não é um negócio só de startups. Grandes empresas, como a PayPal e a Amazon, também já oferecem soluções nessa área. Outro gigante, a Apple, vai lançar neste ano o sistema operacional iOS 16, que incluirá um serviço “Apple Pay Later” — a empresa emprestará dinheiro para quem quiser comprar praticamente qualquer coisa, sem juros, em quatro parcelas.
Um problema desse modelo de negócio: é muito difícil para um credor saber quanto dinheiro um consumidor já deve a outras empresas BNPL. Por ser um mercado desregulado, não há troca de informações entre as empresas para identificar os maus pagadores. O BNPL também não oferece a maioria das proteções ao consumidor que existem nos cartões de crédito.
A alta dos juros representa um desafio adicional para as empresas que atuam nesse mercado. Com o custo de captação de dinheiro mais elevado, fica mais difícil conceder empréstimos a consumidores com juros zerados ou reduzidos. O cenário de aperto monetário já fez com que o valor de mercado da maior empresa desse segmento nos Estados Unidos, a Affirm, caísse atualmente para pouco mais de 6 bilhões de dólares — queda de quase 87% em relação ao pico em novembro do ano passado, quando era avaliada em 47 bilhões de dólares.
No Brasil, a fintech VirtusPay, criada há cinco anos, também vem enfrentando dificuldades. Seu principal negócio é fazer o parcelamento de compras realizadas no comércio eletrônico em boletos para quem não tem crédito na praça. Para isso, a fintech utiliza os limites dos cartões cedidos por pessoas que, em troca, recebem o dinheiro de volta para pagar a conta do cartão, mais o benefício de milhas. Um dia antes de a fatura do cartão vencer, a VirtusPay depositava o dinheiro para que o portador quitasse a conta. Nas últimas semanas, porém, a empresa parou de fazer esses pagamentos para a maioria dos cedentes. Muitos clientes estão buscando agora os meios judiciais para recuperar o prejuízo.