13/08/2014
A aposentadoria pode estar longe, mas a hora de começar a desenvolver competências para prolongar a vida útil de sua carreira é agora
Daqui a 25 anos, 57% da população brasileira potencialmente ativa terá mais de 45 anos de idade, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2011, esse grupo representava 29,1%. Se considerarmos que, em cinco décadas, a expectativa de vida no país, que hoje está em 75 anos, deve alcançar os 81 anos, significa que os profissionais vão se aposentar mais tarde e serão muito mais valiosos para o mercado.
As empresas ainda não estão preparadas para enfrentar esse cenário. “É a primeira vez que vemos esse panorama aqui no Brasil. Mas os europeus, que vivem esse movimento desde os anos 70, continuam auxiliando as companhias como mentores, recrutadores ou gerentes de talentos depois de se aposentar”, diz Wellington Moreira, da Caput Consultoria, de Londrina, no Paraná.
De acordo com um estudo da empresa de recrutamento Hays com 100 empregadores no Brasil, apenas 20% deles já começaram a contratar aposentados. E uma pesquisa sobre envelhecimento e força de trabalho no Brasil conduzida pela Pricewaterhouse Coopers (PwC) em parceria com o a Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo e com outros apoiadores identificou o seguinte: 37% das 108 empresas ouvidas acreditam que aproveitar melhor o potencial da força de trabalho mais velha é urna das alternativas para o apagão de talentos.
Um número ainda baixo, mas relevante. Pode parecer precoce pensar nisso agora, mas, lá na frente, os mais bem preparados serão aqueles que enxergarem desde já quais habilidades levam à construção de uma carreira duradoura. Com base nos dados da pesquisa da PwC, pedimos aos especialistas que mapeassem as competências do profissional indispensável em qualquer idade.
COMPROMETA-SE
89% dos empregadores destacam como vantagem dos profissionais seniores a fidelidade, que reduz os custos com turnover
A lealdade, o comprometimento e o senso de responsabilidade estão entre as principais competências do profissional que tem vida longa nas companhias.
“As pessoas mudam de emprego hoje sem fechar um ciclo, sem uma real motivação para mudar. Com menos de três anos, não dá para dizer que se construiu alguma coisa”, afirma Raphael Falcão, diretor da Hays.
ATUALIZE-SE
69% indicam a dificuldade em se manter atualizado como um ponto que pesa contra o profissional com o passar dos anos
O empregado valorizado por mais tempo assume as rédeas de seu desenvolvimento.
“Não adianta ter valor só no lugar onde você trabalha. É preciso ganhar aptidões atraentes para todo o mercado, e não só para desempenhar essa ou aquela posição almejada dentro da companhia”, afirma Guy Cliquet, coordenador dos programas Certificates do lnsper, em São Paulo.
Foi o que fez Mario Antonio Sacchi, de 63 anos. Formado em matemática e administração de empresas, começou a carreira trabalhando com varejo em 1967. Depois, já empregado na Lacta, passou por vários setores até adquirir experiência na área de tecnologia da informação. Ficou também sete anos na IBM e 15 como consultor de tecnologia da informação e de processos da Strategy& (anterior Booz Allen & Hamilton). Entre uma ocupação e outra, Mario não parou de estudar. Concluiu especializações em planejamento estratégico e e-business e um MBA na FGV. Tamanha disposição para se manter atualizado pesou a favor dele quando, cinco anos depois de se aposentar, em 2009, foi convidado para implantar um projeto de vendas na rede varejista Mansa, em São Paulo. Os três meses de trabalho temporário resultaram em um convite para assumir a área de processos e projetos do grupo, da qual é gerente desde 2010.
CONTINUE SE ADAPTANDO
96% creem que profissionais mais velhos passam a ter dificuldade para se adaptar às mudanças
A tendência sempre foi de os mais novos serem abertos a mudanças, e os mais velhos, resistentes. Mas isso está ficando para trás. “Existe uma geração madura que compete de igual para igual com os mais jovens, porque está preparada para administrar contratos flexíveis, mobilidade física e situações que exigem jogo de cintura”, diz Raphael, da Hays. Portando, vale observar se sua capacidade de adaptação se mantém ou se diminui ao longo da carreira.
CUIDE DAS EMOÇÕES
96% afirmam que profissionais com idade mais avançada são mais equilibrados emocionalmente
Crises fazem parte da vida corporativa. E para atravessá-las é preciso mais do que competência técnica. “Há entre os mais jovens o medo da responsabilidade pelo fracasso”, diz Falcão. Isso pode lavá-los a se sentir desconfortáveis em uma empresa que passa por dificuldades e a largar o barco. “O equilíbrio emocional e a sabedoria para administrar períodos conturbados são características de um profissional que quer se tornar indispensável.”
PASSE O CONHECIMENTO ADIANTE
94% das empresas acreditam que o maior benefício de contar com profissionais mais velhos nas equipes é a possibilidade de aproveitar o conhecimento que eles acumularam ao longo da carreira para enriquecer a bagagem dos mais novos
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), indústria com sede em Volta Redonda (RJ), iniciou em 2011 o programa Usina do Conhecimento, voltado para identificar entre os funcionários maduros aqueles que são fundamentais para a transmissão de conhecimento na organização.
O programa, ainda em fase de aprimoramento, está começando a constatar que a CSN está perdendo para a aposentadoria mão de obra especializada importante para a manutenção dos negócios. “Em alguns setores, como metalurgia, automação e manutenção, o sinal está amarelo”, afirma Silas More i, analista de recursos humanos da CSN. “Não podemos abrir mão de know-how e deixar esse tipo de funcionário ir embora. Quando se perde alguém com experiência, perde-se conhecimento.” Se você também quer ser um profissional relevante lá na frente, não se limite a acumular habilidades. O interesse em disseminar o que sabe desde já vai contribuir para que seu nome esteja no radar da empresa na hora de fazer a lista dos indispensáveis.
DESENVOLVA VISÃO GLOBAL
87% Acham quem acumula décadas de experiência tem mais capacidade de fazer diagnósticos acertados sobre as questões enfrentadas pela empresa
O economista Wilson Trivillin, de 63 anos, começou a carreira no Unibanco, com uma rápida passagem pela BF Goodrich, indústria de pneus americana.
Na área financeira das duas instituições, era responsável por conduzir financiamentos para pessoas jurídicas. Em 1986, entrou na empresa de benefícios Ticket, em São Paulo, como gerente de tesouraria. Lá, chegou ao cargo de diretor corporativo, demonstrando competência em gerenciar pessoas e processos e conhecimento amplo dos negócios. Pouco antes de se aposentar, em 2006, recebeu a incumbência de procurar um novo local para a sede do grupo no Brasil, além de conduzira mudança para o endereço e continuar no quadro da empresa. Não era uma atividade totalmente ligada à sua formação de economista, já que exigia habilidade de negociar e capacidade de fazer diagnósticos a favor da empresa. “Naquele mesmo período, recebi o convite para continuar na Ticket e administrar os imóveis da operação em São Paulo, lidando com proprietários, síndicos e gerentes desses escritórios”, diz.
Fonte: Revista Você S/A – 01/08/2014