23/05/2023
Convidados da Tech Week Insper falaram sobre as habilidades e os desafios que moldam as diversas carreiras da Engenharia e da Computação
Leandro Steiw
Os seis dias de programação da Tech Week Insper, realizada de 15 a 20 de maio, ajudaram a dar mais foco aos jovens que pensam em seguir carreira em tecnologia da informação, como Computação e Engenharia. Deu para perceber que, como em qualquer profissão, os obstáculos podem ser superados com estudo, perseverança e dedicação. Para quem gosta bastante de desafios, a escolha vale a pena.
No sábado, último dia da Tech Week Insper, o jornalista Iberê Thenório, criador do canal Manual do Mundo, falou sobre cultura maker, tema que está ligado às tecnologias que surgiram na virada do século 20 para o 21, como a impressão 3D, o corte a laser e as plataformas programáveis, como o Arduino. Mais importante ainda, a internet permite, já na década de 1990, a criação de espaços de colaboração entre entusiastas, não mais obrigatoriamente presenciais.
Thenório citou também a importância das oficinas compartilhadas, um pouco no espírito do Fab Lab do Insper, com equipamentos que seriam caros de adquirir. “Você encontra pessoas que estão fazendo os projetos delas e começa a criar uma comunidade em volta disso”, disse. “Esses lugares acabam se tornando centros de entrosamento, um ambiente em que as pessoas gostam de ficar.”
O que isso tem a ver com a escolha da profissão? Para Thenório, a cultura maker ajuda a desenvolver várias habilidades, desde as chamadas hard skills — que incluem tudo o que aprendemos na escola, como matemática, física, química, eletrônica, programação, línguas estrangeiras — até as soft skills — a capacidade de se comunicar e se relacionar em grupo. “O mundo maker te força a experimentar coisas que você não gostava e essa é uma das missões do Manual do Mundo”, afirmou.
Além disso, as pessoas que se envolvem com esses grupos começam a ter um olhar mais empreendedor. “A cultura maker começa a mostrar para você os limites que a vida te impõe, mas também a descobrir onde é possível avançar”, acredita Thenório. Para criar um negócio próprio, por exemplo. “Outra habilidade é gostar de resolver problemas e, então, gostar de desafios. Quem contrata quer pessoas assim. Essa habilidade vai te abrir muitas portas. O que as pessoas não se ligam é que podem colocar no seu currículo o que fizeram em projetos makers, um diferencial óbvio num processo de seleção.”
Na mesma roda de conversa, o engenheiro Alex Bottene, professor da Engenharia Mecânica e Mecatrônica do Insper e coordenador do TechLab do Insper, reforçou que essa formação maker já é um diferencial no mercado de trabalho. Na segunda fase do vestibular do Insper, os candidatos experimentam aulas reais para poderem avaliar como se sentiriam nas aulas do curso escolhido. Ele apresentou dados de empregabilidade dos formandos da escola: 92% estão trabalhando em empresa privada e 7% empreendem um negócio próprio.
Durante os cursos de Ciência da Computação e Engenharia de Computação, por exemplo, os estudantes são incentivados a publicar os seus projetos no repositório de softwares GitHub, explicou o engenheiro Fabio Ferraz, professor dos cursos de Engenharia Mecânica, Mecatrônica e de Computação do Insper. “Aqui praticamos engenharia desde o primeiro dia de aula, desenvolvendo conhecimentos técnicos e éticos dos nossos alunos”, disse Ferraz.
Na conversa “Computação na Prática”, com estudantes do Insper, na quinta-feira, o professor Fabio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação, lembrou que participou do projeto de implantação dos cursos de Engenharia na instituição. “Uma das características do curso que queríamos é que fosse meio parecido com o dia a dia profissional”, contou. “Para que depois, quando o aluno caísse numa equipe, soubesse que a rotina era como se fazia no Insper. Você fica bastante tempo na faculdade, mas sai de lá, no fim do dia, com tudo mais ou menos liquidado, não precisa trabalhar em casa.”
A engenheira de computação e influencer Giulia Bordignon conhece bem as dificuldades que as mulheres enfrentam no mercado de tecnologia. Na faculdade de Sistemas de Informação, iniciada em 2013, ela era a única mulher da turma. Durante os estágios profissionais, invariavelmente também estava sozinha. Na palestra online “Mulheres na Tecnologia”, realizada durante a Tech Week Insper, Giulia contou que, naqueles primeiros passos, uma dúvida logo surgiu: “Será que a tecnologia é um espaço para mim?”.
Hoje, ela tem certeza de que é. “A tecnologia precisa das nossas perspectivas de mundo e de vida”, disse Graziela Tonin, professora do curso de Ciência da Computação do Insper e colíder da Frente Gênero, da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão da escola, que conduziu a conversa. “Existe um mecanismo que tenta silenciar a mulher e nos excluir da área. Resta resistir e nos apoiarmos como mulheres e colegas. Construindo um lugar mais acolhedor para nós, não precisaremos gritar quando formos maioria.”
Por que as meninas devem estudar computação? “Porque o futuro é tecnológico”, afirmou Gi Bordignon, como é mais conhecida no canal spacecoding, que criou no Instagram e que tem 124.000 seguidores. “Mas não existem pessoas pensando as nossas dores de ser mulher ou de entender e construir tecnologias para mulheres. Não há mais como não usar tecnologia na nossa sociedade, então ela tem que ser inclusiva.”
Ela trouxe da própria experiência pessoal um conselho para encorajar as meninas a escolherem uma carreira em tecnologia. “Sempre fui influenciada a conhecer profissões quando via uma referência feminina mandando bem: professoras, advogadas, contabilistas”, recordou. “Em 2010, quando a quarta onda do movimento feminista estourou no Brasil, abriu-se um mar de possibilidades na minha mente de adolescente. Eu queria ocupar todos os espaços, em todas as carreiras, e viver a plenitude da área que escolhesse, inclusive nas que diziam que não eram para mulheres.”
Lá no início, a adolescente gaúcha começou a visitar feiras de ciências, nas quais descobriu os potenciais da tecnologia e soube que era a carreira que queria seguir. Anos depois, além de se tornar desenvolvedora de softwares, acabou estudando as relações de gênero dentro e fora do universo da tecnologia. Como em qualquer profissão, as barreiras estavam todas impostas: mansplaining, manterrupting e bropriating — alguns dos comportamentos tóxicos dos homens. “Mas decidi dar o meu melhor porque gostava para caramba de tecnologia”, disse Gi.
Não importam gênero ou idade. O potencial da inteligência artificial generativa, popularizada pelo ChatGPT, vai exigir conhecimentos sólidos em programação dos futuros cientistas da computação. Essa foi uma das conclusões da roda de conversa sobre aplicações práticas, desafios e futuro da IA, outra das atrações da Tech Week Insper. “Há estimativas de que a tecnologia vai transformar diversas profissões”, afirmou o jornalista Pedro Burgos, programador e coordenador do Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Insper, que mediou o encontro.
Vanessa Weber e Gabriel Fróes, bacharéis em Ciência da Computação e empresários e criadores de conteúdo no canal Código Fonte TV, concordaram. A rotina dos programadores de softwares já está mudando e vai alterar o paradigma e o jeito com que os profissionais de computação lidam com os códigos. As aplicações de IA generativa, por exemplo, são consideradas ferramentas de produtividade no trabalho, explicou Vanessa.
Com a mesma percepção, Marcel Saraiva, gerente nacional de vendas enterprise da indústria de tecnologia Nvidia, reforçou a importância de o cientista da computação e do cientista de dados estarem atentos às mudanças, conhecerem as demandas do mercado e saberem programar. Independentemente das soluções de inteligência artificial adotadas pelas empresas no futuro, o programador é que saberá solucionar os problemas de TI.
Quem acompanhou as atividades presenciais da Tech Week pôde conversar com os professores do Insper e conhecer a infraestrutura de laboratórios da escola, que contribuem para a pegada “mão na massa” dos cursos de Engenharia e de Ciência da Computação.