Com quase cinco vezes o lucro da Petrobras, a estatal da Arábia Saudita surfa na alta dos preços do petróleo e está avaliada em 2,4 trilhões de dólares
A Saudi Aramco, estatal de petróleo da Arábia Saudita, ultrapassou a americana Apple e se tornou a empresa mais valiosa do mundo. No dia 17 de maio, a companhia petrolífera saudita estava avaliada em 2,415 trilhões de dólares, ante 2,386 trilhões de dólares da fabricante do Iphone.
O topo na lista das maiores companhias em valor de mercado foi conquistado graças à alta dos preços do petróleo desde o ano passado, quando a oferta mundial da commodity não conseguiu acompanhar a recuperação da demanda depois do relaxamento das restrições adotadas no auge da pandemia da covid-19.

Nos últimos meses, os preços do petróleo tiveram nova disparada em consequência da invasão da Ucrânia por forças russas. A Rússia é a terceira maior produtora de petróleo do mundo, depois dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Isso ajudou a valorizar ainda mais as ações da Saudi Aramco, que subiram em torno de 27% neste ano.
Em contraste, os papéis da Apple caíram mais de 17% desde janeiro. A empresa de tecnologia vem enfrentando problemas na China, onde os lockdowns para conter o novo surto de covid-19 prejudicaram a produção da Semiconductor Manufacturing International, a maior fabricante de chips do país asiático e importante fornecedora da Apple. A empresa americana estima que, se persistirem os problemas de produção e logística na China, sua receita neste segundo trimestre poderá ter uma queda de 4 bilhões a 8 bilhões de dólares.
Já a Saudi Aramco não tem do que reclamar. Depois de obter um lucro líquido de 110 bilhões de dólares em 2021 — um crescimento de 124% em relação ao ano anterior —, a companhia petrolífera divulgou nesta semana um lucro líquido de 39,5 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2022, um acréscimo de 82% ante os resultados de um ano atrás. No mesmo período, a Petrobras lucrou 8,8 bilhões de dólares, um nível de lucro que o presidente Jair Bolsonaro classificou de “estupro” contra o povo brasileiro.
Baixo custo de produção
Uma das vantagens da Arábia Saudita é que o país tem muitos campos de petróleo com baixo custo de extração, inferior a 10 dólares o barril. Nos últimos dias, o barril de petróleo estava sendo comercializado a 115 dólares, o que dá uma ideia da margem de lucro dos sauditas.
Além de se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a Saudi Aramco detém o recorde de valor de IPO (oferta pública de ações). No dia 5 de dezembro de 2019, a empresa abriu o capital e começou a negociar suas ações na Bolsa de Valores da Arábia Saudita. Arrecadou 25,6 bilhões de dólares com a venda de 3 bilhões de ações e superou o recorde anterior, da empresa chinesa de tecnologia Alibaba, cujo IPO, em 18 de setembro de 2014, levantou 21,8 bilhões de dólares.
A Saudi Aramco foi fundada em 1933, fruto de um acordo entre o governo da Arábia Saudita e a companhia americana Standard Oil Company, que depois se tornaria a Chevron. Em 1973, o governo saudita adquiriu 25% da Aramco. Ao longo dos anos, aumentou gradualmente sua participação, até assumir o controle total em 1980. Atualmente, detém cerca de 95% das ações da companhia.
A abertura de capital da empresa em 2019 mostrou que a Arábia Saudita está preocupada em reduzir sua dependência do petróleo. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman quer diversificar a economia do país e lançou um plano até 2030 que prevê, entre outras coisas, investir mais em energia solar para tirar proveito das imensas áreas de deserto no país.