O desempenho das vendas do varejo ficou negativo pelo segundo mês seguido. A Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou uma queda de 0,4% em abril na comparação com março. Nem mesmo a Páscoa foi suficiente para impulsionar os negócios e impedir o pior resultado desde 2001 para o mês. Os especialistas consideraram o recuo como um sinal claro de desaceleração do setor, devendo fechar o ano com um crescimento moderado em relação aos anos anteriores.
O pesquisador do IBGE Nilo Lopes informou que, na comparação entre abril e igual mês do ano passado, houve alta de 6,7%. Entretanto, ele ressaltou que esse avanço só foi possível porque, em 2014, a Páscoa foi comemorada no quarto mês do ano, diferentemente de 2013, quando foi março. “O comércio está em um patamar de acomodação porque, no primeiro semestre, o consumidor tem que pagar impostos e despesas escolares dos filhos. Prova disso é que as vendas de tevês para a Copa estão ocorrendo em maio e em junho”, completou.
Em sete das 10 atividades pesquisas pelo IBGE, houve retração nas vendas. As maiores quedas ocorreram nos setores de livros, jornais, revistas e papelaria (2,7%), de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,6%), de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%), de tecidos, vestuário e calçados (1%), e de combustíveis e lubrificantes (0,8%).
Na avaliação do economista chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, os dados evidenciam que o setor está perdendo fôlego. Ele salientou que a longa trajetória de elevação da taxa básica de juros (Selic), hoje em 11% ao ano, encareceu os financiamentos para a compra de bens duráveis. Por outro lado, a inflação criou dificuldades ao consumo dos bens não duráveis, sobretudo alimentos.
Para Gomes, o comércio deverá acumular um crescimento anual de 4% a 4,5%, após sucessivos períodos de expansão em torno de 10%. Ele explicou que essa alta vai refletir um mercado de trabalho ainda aquecido. “Quem está empregado continuará a consumir, mesmo que de maneira mais contida. A partir do segundo semestre, devemos perceber alguma melhora”, apostou.
Riscos
O economista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo Humberto Rocha calculou que esse resultado negativo do varejo, somado à retração da indústria, deverá pesar contra o Produto Interno Bruto (PIB) no segundo semestre, o levando à retração. Para ele, com a fraca atividade econômica, o país amargará um crescimento anual de, no máximo, 1%. “Esse é um ano de muitas incertezas. A inflação tirou renda dos brasileiros e isso explica a retração do comércio”. afirmou.
Rocha destacou que o governo não foi competente para adotar medidas para estimular a economia e atrair investimento estrangeiro. Ele ressaltou que apenas após as eleições esse pessimismo que ronda o país pode mudar. “Sri após esse período teremos clareza sobre os rumos que a economia tomará”, finalizou.
Fonte: Correio Braziliense – DF – 13/06/2014