05/09/2014
Para economistas, BC indicou que irá manter juros até o fim do ano.Copom decidiu deixar os juros em 11% ao ano pela terceira vez seguida. Com a atividade econômica fraca e a inflação em nível elevado – acumulada em 6,5% em 12 meses, em julho –, economistas consideram correta a decisão do Banco Central de manter a Selic em 11%, na reunião desta quarta-feira (3).
O Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter os juros básicos da economia estáveis em 11% ao ano pela terceira vez seguida. A Selic continua no maior patamar desde o fim de 2011.
Os especialistas destacam que o comunicado do BC divulgado após a decisão aponta que a taxa de juros dos país deve ficar estáveis pelo menos até o fim do ano. Na frase divulgada após a decisão foi retirada a expressão “neste momento” que, para os economistas, indicava perspectiva de alta: sem ela, o BC estaria dizendo que a Selic deve se manter.
As entidades da sociedade civil consideram que há espaço para reduzir os juros por conta da queda da atividade econômica.
Otto Nogami, professor do MBA em Finanças do Insper.
A economia não está preparada para um nova alta dos juros. O consumidor está endividado e elevar seria o ideal se os preços estivessem subindo por demanda. No entanto, são os custos de produção que estão aumentando e a empresa repassa a alta ao consumidor, que reage consumindo menos. Se o BC baixasse os juros, por outro lado, teria um efeito psicológico no consumidor – mesmo o endividado ou inadimplente –, que iria comprar e a reação em cadeia faria os preços subirem.
José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do IBRE da FGV.
Antes havia um sinal de alta na política monetária do Banco Central, agora não tem viés. Ou seja, pode-se prever uma estabilidade prolongada dos juros. Acho que foi uma decisão acertada a manutenção dos juros já que a inflação ainda está muito alta apesar de a atividade estar fraca.
Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg&Associados.
Eu vejo como correta a decisão do BC, já que tem um quadro bastante complicado de inflação e atividade fraca, como reflexo da política monetária mais apertada deste ano. Por outro lado, também tem pressões inflacionárias grandes então o melhor mesmo é optar pela neutralidade (não subir nem descer os juros). A retirada da expressão ‘neste momento’ passa a sinalização de que os juros devem ficar estáveis nesse patamar pelo menos até o fim do ano.
Pedro Raffy Vartanian, professor de economia do Mackenzie.
A decisão foi correta por conta do cenário esperado para a inflação. Tendo em vista os preços de 2014 e 2015, é necessário. A manutenção interfere mais na inflação de 2015 do que na deste ano, que já está praticamente determinada pelas condições atuais e pela política monetária dos últimos meses. Um aumento não teria espaço em função da atividade econômica ainda fraca e uma redução também não seria possível por conta do aumento dos preços.
Samy Dana, professor da Escola de Administração de Empresas (EAESP) da FGV.
Acho que foi certo manter, mas não resolve com a economia do jeito que está. Falta infraestrutura, competição e acho que no final de 2014 teremos mais quatro meses duros e 2015 também será difícil. A inflação está alta, acima de 6%, e deve se manter nesse patamar. Pode ser que os preços sejam controlados pela queda da atividade econômica, já que não tem porque subir o valor com a atividade fraca, mas pelo lado do crescimento continua preocupante.
Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A manutenção da taxa Selic em 11% a.a. coloca em risco a situação financeira de empresas e trabalhadores. Por causa do cenário desenhado pelos números do PIB, somado à contínua deterioração da confiança das empresas e dos consumidores, esperávamos um corte na taxa básica de juros. Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) O Sistema Firjan insiste que uma política fiscal mais equilibrada, com redução dos gastos públicos de natureza corrente, é essencial para um recuo sustentável da inflação, de forma a abrir espaço para um processo de queda permanente da taxa de juros.
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de SP.
Acreditamos que haveria espaço para uma redução moderada da taxa, considerando o baixo nível das atividades econômicas, que não apresentam perspectivas de melhora no curto prazo. O Banco Central, no entanto, parece mais preocupado com a inflação – que efetivamente continua elevada – do que com o crescimento da economia.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter os juros altos representa mais uma oportunidade perdida pelo governo de virar o jogo. A Força Sindical é contra os juros altos, e já realizou inúmeros protestos contra essa política do governo.
Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Manter a Selic nesse patamar elevado, no momento em que a inflação está próxima de zero e o PIB não sai do lugar, é frear o crescimento econômico e apostar na recessão, o que terá consequências desastrosas para o país e para os trabalhadores, trazendo de volta o fantasma do desemprego e de redução da massa salarial.
Fonte: Portal G1 – 03/09/2014.