O mercado de saúde suplementar, que movimenta até R$ 107 bilhões por ano no Brasil, quer reduzir seus custos. Para isso, começa a trabalhar no modelo de classificação de pacientes hospitalares que leva em consideração os tipos de diagnóstico e o consumo de recursos exigidos. De acordo com definição do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), o Grupo de Diagnósticos Relacionados (DRG) é um método que reúne pacientes clinicamente homogêneos, em um mesmo grupo.
A partir da classificação, o pagamento dos serviços hospitalares é realizado. Ou seja, os valores são definidos pela média de custos dos grupos e não pelo caso isolado de cada paciente. “Os principais custos dentro da saúde suplementar têm sido dos serviços assistenciais. Isso pelo modelo de remuneração atual, o fee-for-service, que beneficia o uso e não os resultados”, diz a sócia da PwC Brasil e Líder de healthcare, Eliane Kihara. Para ela, existem diferentes modelos que podem ser adotados no Brasil, no entanto o DRGs tem sido o mais utilizado no mundo. “Na África do Sul, 70% dos modelos utilizados são DRGs. E a Austrália, onde a inflação da saúde crescia a índices de dois dígitos, em 2014 conseguiu inflação zero. “O modelo deve ter entre 15 e 20 anos e foi implementado em partes. Por isso, é urgente rever isso no Brasil. Os ganhos são a longo prazo e precisamos começar agora”, ressalta Eliane. Etapas Questionada sobre a preparação das empresas para receber o modelo, a executiva explica que existe um caminho a ser percorrido. “Menos de 50% das companhias estão preparadas para implementar imediatamente o modelo. Primeiro devem preparar a governança corporativa. Com a redução de custo podem investir em tecnologias de gestão e depois estarão preparadas para aplicação mais rápida do DRG”. A executiva explica que existem diferentes sistemas que podem ser utilizados, além do DRG. “Quem não atualizar vai fechar, porque custos se tornam insustentáveis.” “Na África do Sul, muitos hospitais aplicaram o modelo antes das seguradoras”, afirma o diretor de healthcare da PwC África do Sul, Etienne Dreyer, ao explicar como o modelo beneficia toda a cadeia do mercado de saúde.
Para o começo da aplicação, Dreyer aconselha que seja implementado paralelamente ao modelo atual para que possa se obter uma base de comparação. “O benefício do DRG é que permite a flexibilidade, de acordo com o caso. Temos uma margem de preços para utilizar, diferente de modelos fixos”, acredita o diretor-executivo da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Antonio Carlos Abbatepaolo. Para ele, o mais importante é que o modelo determina o preço ao longo da estada do paciente. “Não é algo que é visto no final”. O executivo diz que se os custos não forem controlados pode ocorrer uma elitização dos planos. “Quem vai ter poder aquisitivo para arcar com isso? Além disso, a receita de muitos hospitais depende dos planos de saúde. Se os planos sumirem, muitos hospitais sofrerão”, analisa Abbatepaolo. O presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar, Marcio Coriolano, disse ao DCI que para escolher um modelo todas os fatores devem ser ponderados. “No mercado, temos segmentos diferentes – cooperativas, medicina de grupo, cooperativas – além de estar em um país com características regionais distintas. Não existe um modelo certo”. Alta de custos O envelhecimento da população, investimentos em tecnologia, o aumento do poder aquisitivo da sociedade e falhas de mercado são os principais motivos para a alta dos custos segundo pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper.
“Grande parte da elevação ocorre pelo sucesso. Por um lado o investimento em tecnologia aumenta a qualidade do serviço e por outro a entrada da população nos planos devido ao poder aquisitivo”, explica o coordenador do núcleo de regulação e concorrência do Insper, Paulo Furquim.
Para ele, são as falhas de mercado que devem ser corrigidas. “O grande desperdício ocorre porque quem toma a decisão não sofre com a decisão”. Algumas medidas citadas por ele são o DRG e o modelo de coparticipação, onde o paciente também paga e ajuda no controle de gasto.”
Fonte: DCI – 27/05/2015