Para os especialistas, é preciso um trabalho prévio na preparação dos profissionais de imprensa e na definição de uma conduta para a cobertura de grandes tragédias.

O papel da imprensa na cobertura de grandes fatos é fundamental para informar a sociedade sobre os seus acontecimentos e desdobramentos. A atuação da mídia, porém, pode direcionar a opinião pública ou até mesmo dar notoriedade a culpados, encorajando novas tragédias. O tema voltou ao debate no recente caso do atentando à escola na cidade de Suzano, questionando-se o papel e a conduta da imprensa na cobertura do caso.
O Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Insper iniciou a série de debates Jornalismo a Quente para refletir sobre o caso de Suzano. O encontro teve a mediação de Carlos Eduardo Lins da Silva, do Núcleo de Jornalismo do Insper, e a participação dos jornalistas Nelson de Sá, da Folha de S. Paulo e Maurício Stycer, do portal UOL.
“Felizmente não estamos acostumados com tragédias desse tipo e isso reflete na cobertura jornalística, revelando um despreparo na cobertura desses eventos”, destacou Stycer.
Para os especialistas é preciso que seja feito um trabalho prévio pelos veículos de imprensa na preparação dos profissionais e na definição de uma conduta para a cobertura de grandes tragédias, evitando erros, como a transmissão de imagens delicadas e a abordagem invasiva de vítimas e familiares.
“São questões que devem ser debatidas antes, não no dia da tragédia. É preciso investir no treinamento desses profissionais, com debates, seminários, manuais de redação. Mais do que tudo, falta uma discussão dentro dos próprios veículos sobre a conduta que será seguida e cobrada dos jornalistas”, avalia Stycer.
Para Lins da Silva, o papel das chefias é fundamental nesses casos.
“Muitas das condutas dos jornalistas são pautadas pela orientação da chefia, que pede um furo de reportagem, um fato novo e diferente do abordado pela concorrência, uma declaração das vítimas e dos envolvidos”, exemplifica.
Um caminho, segundo os participantes do encontro seria adotar o projeto de jornalismo americano, que tem regras mais rígidas e claras para a cobertura desse tipo de acontecimento, com o objetivo de evitar que a tragédia vire um espetáculo.
“Há discussões para se implantar esse projeto no Brasil com regras claras do que é aceitável ou não na cobertura e deve ser seguido por toda a mídia”, defende Sá. Entre as medidas está a não divulgação de imagens chocantes, não dar protagonismo aos culpados e preservar as vítimas.
Stycer destaca a restrição de veiculação de imagens violentas em determinados horários pela televisão brasileira. “Os programas jornalísticos não entram nas normas de restrição de veiculação de determinadas cenas de acordo com o horário como as aplicadas aos programas de ficção. Devemos discutir essas restrições também para os programas de TV policiais, evitando a exposição de determinadas cenas em qualquer horário”, conclui.
Assista o debate na íntegra em: