18/11/2014
A nova fase da Operação Lava Jato, que atinge fornecedores da Petrobras e resultou na prisão de mais um ex-diretor da empresa (Renato Duque), acendeu o sinal amarelo dentro do governo, por causa de seus impactos políticos e econômicos, e deve levar a uma “inevitável” reformulação da estatal.
A principal preocupação da equipe da presidente Dilma Rousseff é com o risco de a Petrobras entrar num processo de paralisia em alguns setores. Isso afetaria não só o desempenho da companhia. Teria impacto na economia brasileira, num momento de desaceleração da atividade produtiva.
Um assessor presidencial destaca que a prisão de executivos de fornecedores estratégicos da Petrobras pode gerar uma reação defensiva destas empresas, parando ou reduzindo o ritmo de obras e serviços da estatal.
Segundo o assessor de Dilma, será preciso fazer algum tipo de negociação para que as atividades relacionadas a estas empresas não sejam afetadas seriamente a ponto de comprometer as atividades da estatal.
O clima de preocupação dentro do Palácio do Planalto é assim definido por outro auxiliar da presidente: “Você acha que o Brasil está crescendo pouco? Imagine com a Petrobras no chão”.
O desabafo traduz o temor de que o escândalo acabe paralisando a estatal.
Dilma sempre considerou a Petrobras uma empresa estratégica para impulsionar o investimento. Ela conta com o aumento da produção do petróleo do pré-sal para fazer o país voltar a ter taxas de crescimento mais elevadas. Neste ano, o país deve crescer próximo de zero.
Setores do governo avaliam que, para afastar o risco de paralisia, a presidente Dilma terá de fazer uma profunda reformulação na Petrobras, com reforço em seus mecanismos de transparência e de fiscalização dos contratos da empresa.
Segundo a Folha apurou, a reformulação defendida por alguns assessores passa, inclusive, pela saída da atual presidente da estadal, Maria das Graças Foster, e uma “profissionalização” da diretoria da estatal.
Graça Foster, como é conhecida, foi colocada no comando da empresa pela própria Dilma. A avaliação é que ela acabou se transformando em vítima do processo de mudança que implementou na estatal sob orientação do Palácio do Planalto.
Segundo técnicos, o estilo centralizador de Graça Foster, adotado para exercer maior controle nos procedimentos da empresa, prejudicou alguns setores da companhia. Fornecedores reclamam que estão recebendo pagamentos por serviços com meses de atraso.
Assessores próximos da presidente concordam que a Petrobras terá de passar por uma reformulação “completa”, mas alertam que trocar a diretoria agora pode ser ainda mais prejudicial.
Primeiro, diz um deles, porque não há um nome inquestionável dentro da empresa para substituir Graça Foster. Segundo: um nome do mercado só aceitaria assumir o posto com “carta branca” para promover as mudanças que julgar necessárias, algo difícil de ser aceito pela presidente Dilma.
Avalia-se que uma mudança na empresa teria de vir não só como resposta interna.
Diante das investigações que estão sendo conduzidas por órgãos dos Estados Unidos, como o Departamento de Justiça, teria que mirar, principalmente, nos investidores estrangeiros.
Escândalo obriga estatal a fatiar seu balanço
Diante da indefinição de quando terá o aval dos auditores independentes para divulgar as informações financeiras do terceiro trimestre, como exige a lei, a Petrobras decidiu que vai publicar os dados em três etapas. Executivos da empresa não se recordam de episódio semelhante nos últimos 20 anos.
Foram necessários três comunicados ao mercado, em menos de 24 horas, para que ficasse clara, enfim, a forma como pretende informar seu desempenho trimestral.
“Estão tentando minimizar o dano à imagem da empresa”, disse Fábio Fuzetti, sócia da Antares Capital.
O adiamento do balanço derrubou as ações. Os papéis preferenciais cederam 2,94% no dia e 7,50% na semana, para R$ 13,20 cada um. Já os ordinários caíram 2,67% no dia e 7,19% na semana, a R$ 12,78.
Na noite de quinta (13), sem o parecer dos auditores da PwC e alegando necessidade de entender o real impacto das denúncias de corrupção levantadas pela operação Lava Jato, a empresa havia informado que só divulgaria informações em 12 de dezembro –o prazo legal encerrou-se nesta sexta-feira.
A PwC vinha pressionando a Petrobras a aprofundar as investigações sobre os desvios, ameaçando-a de não assinar as demonstrações, como de fato ocorreu.
Na segunda (17), a Petrobras vai apresentar informações sobre produção de petróleo e gás e refino. As informações financeiras agora sairão “até 12 de dezembro”, sem aval da auditoria. A Petrobras diz que ainda não sabe quando divulgará o balanço auditado, como exige a lei.
“Caso persista o impasse sobre o balanço, a auditoria poderá vir a assiná-lo com ressalvas”, disse Fuzetti.
O atraso na divulgação do balanço pode custar caro. Os contratos de emissão de títulos no exterior preveem prazo para divulgação sobre o endividamento da empresa. Caso a exigência não seja cumprida, os títulos podem ter o vencimento antecipado.
Segundo a Bloomberg, há US$ 11 bilhões em dívida no exterior que vencem de 2017 a 2023. Desses, US$ 3,5 bilhões, que vencem em 2023, exigem publicação de balanço em 90 dias depois do trimestre. Depois de mais 45 dias de tolerância, o vencimento será antecipado.
As denúncias podem trazer outro efeito – a perda do seu “grau de investimento”, nota dada por agências de risco e que lhe dá o direito de captar dinheiro a juros menores. No mês passado a Moodys cortou sua nota, sem torná-la investimento de risco. “A tendência é que os indicadores piorem, aumentando o risco de ser rebaixada“, diz Sérgio Lazzarini, do Insper.
Fonte: Folha de S. Paulo – 15/11/2014.