O número de trabalhadores que ainda possuem fundos de ações da Petrobras e da Vale – lançados respectivamente em 2000 e 2002 – com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é de 214 mil, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Ao todo, esses 214 mil cotistas registravam um patrimônio de R$ 2,5 bilhões no último dia 6 de abril, conforme informações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Os Fundos Mútuos de Privatização (FMP) do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) da Petrobras foram criados em 2000 quando 310 mil trabalhadores compraram um montante de R$ 1,7 bilhão. A permissão do conselho curador era para um volume de R$ 3,5 bilhões.
Já o leilão da Vale aconteceu em 2002, com investimento de R$ 3,4 bilhões por 728 mil trabalhadores. Na época, o conselho curador liberou R$ 1 bilhão para aquisição de papéis da Vale.
No que se refere a rentabilidade, a volatilidade desse investimento é diária porque esses dois papéis estão ligados ao mercado de ações e a conjuntura nacional afetada hoje pela instabilidade no cenário político brasileiro e do possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Até 6 de abril último, a rentabilidade no mês corrente apresentava queda de 4,91%, enquanto os ganhos no ano eram positivos em 14,05%. Diante desse contexto, a captação líquida mensal foi negativa de R$ 2,2 milhões, a anual apontou saída de 32,6 milhões de recursos até o dia 6 de abril deste ano, segundo os dados da Anbima. A retirada de investimento dos fundos pode acontecer a qualquer momento, mas o rendimento dos trabalhadores pode cair dependendo do direcionamento desses recursos.
Se o investidor vender suas ações e retornar ao FGTS- com juros de 3% ao ano mais a taxa referencial (TR) – sua rentabilidade será muito baixa se comparada a dos fundos FGTS.
No caso do rendimento das ações da Vale, se o trabalhador comprou R$ 10 mil na época, hoje estaria valendo R$ 18.954,87, o que equivale a um rendimento 89,54% nesse período, se analisarmos a ação da Vale ON que estava valendo R$ 17,08. Mas para cada ação houve o desdobramento de 12 ações. O trabalhador que investiu R$ 10 mil na Vale, conseguiria resgatar R$ 27.662 mil contra R$ 18.954 mil que teria rendido no FGTS.
“Assim, resgataria R$ 8.708 a mais em relação ao rendimento do FGTS, o que equivale a 45,98% a mais de ganho”, calculou o presidente do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, Mario Avelino.
Ele pontuou que o trabalhador só deve sair desses fundos se for possível também retirar esse valor do FGTS, como, por exemplo, em casos de demissão e compra de imóveis.
Para Ricardo Humberto, professor de finanças do Insper, o momento de saída está ligado à disponibilidade do investidor de permanecer no fundo por um período de longo prazo porque a rentabilidade do FGTS é baixa.
Assim, o trabalhador precisa primeiro avaliar se já está satisfeito com seu rendimento para vender sua aplicação ou se pode esperar o desfecho dos acontecimentos políticos em relação ao impeachment.
“O investidor precisa esquecer o curto prazo porque a governança dessas companhias está em crise e isso deve continuar por um tempo, mas pode ser que as ações subam fortemente se a presidente Dilma for afastada de seu cargo”, apontou o professor.
Para Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Corretora, neste momento, o investidor pode manter seus fundos, esperando que as companhias tenham uma real recuperação. Eduardo Montalba, diretor da área de gestão de recursos da Planner, também frisou que a saída para manter o dinheiro no FGTS não é interessante por sua baixa rentabilidade.
Em nota, a Caixa Econômica Federal informou que esses fundos com FGTS encontram-se fechados para captação. “Não é possível realizar aplicações nesses fundos”.
Imprevisibilidade
Desde o primeiro leilão, os papéis da Petrobras renderam 190% e os da Vale valorizaram 281%, mas o cenário atual é de imprevisibilidade. Hoje, as ações da Vale apresentam melhora em função do aumento do preço do minério de ferro, mas se houver queda desta commodity, as cotas podem sofrer queda, além da forte ligação com o crescimento global relacionado com a China. Já a Petrobras tem uma volatilidade grande, devido à cotação do petróleo no mercado internacional e principalmente pelo cenário político do País, apontou Roberto Indech, analista da corretora Rico.
Fonte: DCI – 13/04/2016