08/10/2013
Calcule o valor do seu negócio
Fazer um valuation não é útil apenas para saber quanto você pode receber de um investidor, de um sócio ou de um comprador. Também ajuda a encontrar inconsistências na gestão
Quanto vale a sua empresa? A questão pode surgir em diversos momentos: na hora de buscar um aporte de capital de risco, quando um sócio quer comprar as cotas de outro e na oportunidade de vender o negócio. “Investidores ou compradores vão querer mensurar o retorno de seu investimento”, diz Luís Motta, sócio da KPMG na área de Assessoria em Fusões e Aquisições. Esse tipo de negociação, por sinal, esteve em alta no primeiro trimestre deste ano. No período, foram realizadas 192 fusões e aquisições no país, 9,1% mais que o registrado nos três meses anteriores, segundo pesquisa da consultoria.
Responder à pergunta acima não é tarefa fácil. A precificação exige projeções de receita, despesas e lucro, e costuma ser feita por um especialista em finanças. O método mais usado para chegar ao valor da empresa é o dos fluxos de caixa trazidos ao valor presente. Outra forma é adotar múltiplos da receita ou do lucro anual usado por outras empresas do mesmo setor.
Chegar a um consenso sobre a melhor maneira de precificar um negócio requer longas negociações entre os próprios donos. Esse problema foi enfrentado por Breno Masi, 30 anos. Em 2011, a Fingertips, startup de aplicativos que ele criara em 2007, passou por um processo de fusão. Os seis sócios discordaram em relação à escolha do método. “Ficamos na dúvida entre adotar multiplicadores de Lajida (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), de faturamento ou alguma regra mista. Concluímos que o jeito mais fácil seria adotar um múltiplo, algo entre 1,5 e 1,8 vez, do faturamento à época, que era de cerca de R$ 5 milhões anuais”, afirma.
GANHOS FUTUROS
O cálculo dos fluxos de caixa trazidos para o valor presente é o método de avaliação usado em 95% dos casos, segundo Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper. A conta é dividida em duas partes. Na primeira, aplica-se uma formula sobre o fluxo de caixa livre de cada ano contábil, ao longo de um período que, em geral, varia de cinco a dez anos. Para que sejam trazidos ao valor presente, os fluxos são ponderados pela taxa de custo de capital, porcentagem que mede o custo do dinheiro aplicado no negócio. Essa taxa leva em conta os juros cobrados peto mercado em financiamentos e a expectativa de retorno que o investidor tem. O fluxo de caixa Me do primeiro ano deve ser dividido pelo número (1 + taxa). Se a taxa for de 12%, por exemplo, esse fator será de 1,12. No segundo ano, o fluxo será dividido por (1+ taxa)², e assim por diante.
A segunda parte da conta é o cálculo do chamado valor de perpetuidade ou residual. Depois do prazo de cinco a dez anos. Presume-se que o fluxo de caixa irá se manter em um patamar de crescimento constante. Para calcular a projeção desses fluxos nos anos de estabilidade futura, usa-se o modelo de Gordon. A fórmula divide o fluxo de caixa projetado para o sexto ou 11º ano pela diferença entre o custo do capital aplicado no empreendimento e a taxa de crescimento dos fluxos estimada para a perpetuidade. A soma dos fluxos de caixa descontados dos primeiros anos com o valor de perpetuidade trazido ao presente será o valuation do negócio.
ANÁLISE DE RISCOS
Calcular o valor do negócio ajuda a encontrar problemas na gestão
Más Práticas Contábeis.
O valuation serve como diagnóstico preventivo. “O cálculo detecta a necessidade de melhorias em procedimentos que poderão gerar problemas com um investidor”, diz Luís Motta, da KPMG. São correções relativas, por exemplo, a práticas contábeis e tributárias
Dependências Arriscadas
Se não forem alteradas, algumas estratégias podem impactar o valor da empresa. Apostar demais em um cliente só, por exemplo, é arriscado, assim como concentrar o conhecimento em poucos profissionais.
Casa Desarrumada
O comprador de uma empresa adquire ativos tangíveis e intangíveis, como os equipamentos e o relacionamento com clientes. O empreendedor precisa se organizar para mostrar tudo isso “Ele deve entender seus pontos fortes e fracos e arrumar a casa antes de sair a mercado”, afirma Carlos Mendonça, sócio e líder de Private Company Services da consultoria e auditoria PwC.
VALOR COMPARADO
Nesse método, o valor da empresa é obtido com a multiplicação de um fator por uma determinada variável da empresa. Quatro vezes o valor da receita, ou o lucro anual multiplicado por cinco, por exemplo. O mais usual é adotar o Lajida (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) como ponto de partida para o cálculo.
Para determinar o múltiplo, a metodologia usa modelos de negócio semelhantes entre si como base. Cada mercado tem um múltiplo mais usual, e empresas especificas podem ser avaliadas por fatores maiores. A dica de Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper, é usar como referência um negócio do mesmo setor de atuação que esteja com um múltiplo de valuation alto no mercado, ou seja, bem valorizada por investidores e eventuais compradores. É possível levar varias opções de fator para a mesa de negociação, com o objetivo de chegar a um preço intermediário.
3 DICAS PARA NEGOCIAR BEM
1. Investir na governança corporativa
Inconsistências nos dados contábeis podem derrubar a negociação. Segundo Luís Motta, da KPMG, um fato positivo para a valuation é a governança corporativa, que envolve a solidex nos processos e nas políticas de gestão.
2. Não Dê A Primeira Cartada
É prudente guardar algumas falas para a ocasião certa. Marcelo Nakagawa, do Insper, recomenda que o empresário deixe o investidor abrir primeiro seus valores projetados para a transação. “A partir deles, ficará mais fácil negociar para cirna ou para baixo.”
3. Leve Opções de Valor
Nakagawa sugere ainda que o empresário tenha na manga números de valuation distintos, elaborados segundo diferentes métodos e para cenários diversos, e que lance inicialmente mais alto deles. Contudo, não se trata de trapacear com o uso de cifras irreais. “Precisa ser um valor justo, que possa ser defendido”. diz Motta.
EMPRESAS NASCENTES
Nas startups que não têm histórico de resultados, é mais difícil fazer uma previsão do fluxo de caixa e chegar ao valuation pelos métodos comuns. Um possível investidor irá analisar a capacidade de crescimento do projeto para determinar o valor do apode e. assim, o do negócio.
Em casos assim, é essencial considerar a quantidade de Capital necessária para a expansão determinada no plano de negócios. “Em vez de discutir aspectos intangíveis. em geral se parte para um modelo associado ao desempenho futuro para chegar a uma transação mais justa”, diz Carlos Miranda, fundador e CEO da gestora de fundos de private equity BR Opportunities. O acordo pode firmar que o capital aportado corresponda a um percentual do negócio caso as projeções se confirmem e a uma porção maior se os resultados não forem os esperados. Nesses casos, é possível inserir no contrato uma cláusula de earnout. A regra permite que o investidor faça o aporte pelo valuator definido por ele na ocasião, mas prevê que ele perca participação no negócio com o passar dos anos se o desempenho da empresa seguir as premissas do empreendedor.
Para startups pré-operacionais, ainda no papel, e negócios inovadores sem parâmetro de comparação no mercado, o valuation é ainda mais incerto. Segundo Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil, nesses casos, é possível fazer um cálculo baseado em suposições de resultados futuros. Estima-se qual será o lucro anual da empresa em cinco anos, por exemplo. O valor do negócio pode ser estipulado como o dobro desse montante. De acordo com essas suposições e com a taxa de retorno pretendida, o investidor determine quanto irá aplicar na startup.
Se a empresa, seguindo essas premissas, tiver lucro de R$ 5O milhões no quinto ano, valerá RS 100 milhões. Caso o investidor tenha em mente um retorno de dez vezes o que Investir, desembolsará R$ 1 milhão no presente para comprar uma participação de 10% no negócio, equivalentes a RS 10 milhões, ou dez vezes o aporte, após os 60 meses projetados.
ATIVOS LIQUIDADOS
Nas situações em que uma empresa deve ser liquidada, quando há a dissolução da pessoa jurídica, o seu valor patrimonial costuma ser usado como princípio de cálculo. Esse resultado define o montante que cada acionista deverá receber após a venda dos ativos tangíveis e a liquidação dos compromissos com os credores. O valor é obtido subtraindo-se os passivos (todas as obrigações a serem pagas) dos ativos (imóveis, equipamentos, caixa no banco, capital a receber de clientes e estoques).
Fonte: Revista PEGN – SP
Data: 01/10/2013