Um termômetro do apetite de investimentos do empresariado brasileiro, a importação de bens de capital acumulou retração de 7,3% até agosto, na comparação com igual período do ano passado. O boletim econômico da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei) revela que foram negociados US$ 31,9 bilhões pelo segmento nos oito primeiros meses do ano, contra US$ 34,4 bilhões de janeiro a agosto de 2013.
A compra de máquinas e equipamentos importados sofre quedas consecutivas desde janeiro deste ano, no acumulado de 12 meses, chegando ao pior nível agora. O tombo até aqui foi maior que o das importações gerais do País, que recuaram 4,1% até agosto. A participação do setor na pauta geral de importações brasileira recuou para 20,7% de 21,44% nos meses de janeiro a agosto do ano passado.
O consultor econômico da Abimei e professor do Insper, Otto Nogami, diz que o recuo reflete a retração dos investimentos no setor produtivo e segue como tendência. “Há uma maior importação de peças e acessórios em lugar de grandes máquinas. Isso sinaliza que a importação está sendo feita hoje apenas para manutenção do maquinário já existente, não para a expansão da capacidade produtiva da indústria”, disse, destacando que o ano foi atípico por concentrar a Copa do Mundo de 2014 e as eleições presidenciais.
O maior impacto foi sentido nas importações de partes e peças para a agricultura (-19,5%) e maquinaria industrial (-17,3%), cujos volumes negociados somaram US$ 175,9 ,milhões e US$ 9,1 bilhões, respectivamente. Apenas os segmentos de equipamentos fixos para transporte e partes e peças para bens de capital da indústria registraram alta nas importações até agosto, de 16,5% e 4,5%.
O presidente da Abimei, Ennio Crispino, atribuiu a redução das importações de bens de capital à situação econômica que o País atravessa e à baixa atividade industrial, em especial em setores propulsores das vendas de equipamentos como automotivo e de óleo e gás. Ambos enfrentam problemas: a menor demanda doméstica e de parceiros como a Argentina afetam o setor de automóveis e a crise da Petrobras os fornecedores do setor de petróleo.
“O investimento em bens de capitais, sejam máquinas nacionais ou importadas, tem a ver com aumento de produção, produtividade e modernização do parque industrial. Como o mercado não tem apresentado demanda satisfatória, os investimentos estão freados”, disse.
Segundo Crispino, o segmento de importação de bens de capital tem hoje faturamento 50% inferior ao do período pré-crise de 2008, movimentando em torno de US$ 2 bilhões para o ano. Apesar do fim da incerteza eleitoral, com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o empresário não enxerga uma retomada desse investimento antes do segundo trimestre de 2015, mais provavelmente apenas na segunda metade do ano.
A Abimei reúne cerca de 90 associadas, entre distribuidores de máquinas e equipamentos, fabricantes de máquinas importadas que dão suporte às vendas e fornecem peças de reposição, empresas de assessoria em comércio exterior, fabricantes nacionais que também importam e empresas na área de serviços como de fretes internacionais.
Abimaq vê setor ‘no fundo do poço’
A queda de 16% no faturamento da indústria brasileira de máquinas no acumulado do ano até setembro, na comparação com o igual período de 2013, aponta para mais um ano de queda nos lucros do setor de bens de capital, que já haviam caído em 2013 ante 2012. A avaliação é da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Segundo a entidade, a relativa estabilidade dos resultados em agosto/julho e a pequena melhora em setembro/agosto (6,4%) podem indicar que o setor “já bateu no fundo do poço”.
Em relatório para apresentar os resultados,a associação destaca que, neste ano, os preços de máquinas e equipamentos passaram a crescer menos do que a variação de custos, reduzindo ainda mais as margens do setor. “O IPP (Índice de Preços ao Produtor) acumulado em 2014 é de -0,3%, contra 4,6% do IPCA”, afirma.
A Abimaq destaca que a apreciação do real nos últimos meses e um mercado “anêmico” ajudam a explicar o comportamento do preço. A entidade pondera que a depreciação cambial de setembro e outubro ainda não teve efeito no mercado.
A associação ressalta que o resultado do mês só não foi pior em razão das exportações, que totalizaram US$ 1,087 bilhão em setembro, alta de 7,9% ante setembro de 2013 e de 13,3% no acumulado do ano, embora sejam 5,4% inferiores às registradas em agosto. O destaque negativo ficou para o setor de infraestrutura e indústria de base, cujo peso é de 22,7% na exportação da indústria de bens de capital mecânicos, que reduziu suas exportações em 3,6% no mês, embora tenha crescido 36,9% no acumulado do ano.
O maior recuo nas exportações em percentual absoluto ocorreu no segmento de máquinas para petróleo e energia renovável (cuja participação é de 10,2%).Houve baixa de 51,4% em setembro ante agosto, apesar de ainda ser responsável pela maior alta, de 75,1%,no acumulado do ano.
Fonte: Jornal do Commercio – 30/10/2014.