02/12/2021
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) redefiniu o conceito de burnout, que passará a valer em 2022 como “síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”.
Esse reconhecimento, por si só, é um avanço quando se olha a síndrome como um todo. A ideia da causa do burnout está muito ligada à responsabilidade do indivíduo, que não teria as ferramentas necessárias para lidar com o ambiente de trabalho.
Fato é que o trabalho, atividade na qual a maioria das pessoas passa um terço das suas horas diárias, tem impactos físicos, psíquicos e sociais de grandes dimensões.
Essa questão ganhou destaque com um caso extremo na França. Em 2019, o ex-CEO Didier Lombard, da France Telecom, foi considerado culpado, assim como a empresa, pelo suicídio de 35 funcionários nos anos de 2008 e 2009.
Alguns dos suicidas indicaram claramente em bilhetes de despedida que a morte estava ligada à empresa, que nessa época previa uma reestruturação com a demissão de até 30 mil pessoas. Lombard pegou um ano de prisão e multa de 15 mil euros (cerca de 94 mil reais). Já a empresa teve que pagar 75 mil euros (cerca de 473 mil reais) de multa pelo assédio moral, tipificado como crime no Brasil e que também pode colaborar com o burnout.
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“As organizações precisam começar a refletir com seriedade quais condições de temperatura e de pressão estão dando a suas equipes”, diz a psicóloga Maria Elisa Moreira, professora do Insper.
“Um exemplo desse movimento são as lideranças menos coercitivas que não olham somente para o desempenho, as entregas e os resultados, mas que adotam a empatia, e não apenas a retórica da empatia, com suas equipes. As boas lideranças percebem quando um funcionário não está bem”, completa.
No Brasil, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reconhece aos trabalhadores que sofrem com burnout o direito ao afastamento por licença médica, à estabilidade e à aposentadoria por invalidez nos casos gravíssimos.
Como os sintomas da síndrome se confundem com ansiedade, depressão e síndrome do pânico, muitas vezes há uma subnotificação do burnout. Entre 2017 e 2018, porém, o número de concessões de auxílio-doença relacionados à síndrome apresentou um crescimento de 115% – passou de 196 casos para 421.
O burnout não é uma doença que pode ser detectada por exames laboratoriais, mas sim pela análise clínica de profissionais que cuidam da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos.
A OMS lista três características principais do burnout, que são: sensação de esgotamento ou exaustão de energia, aumento da distância mental do trabalho ou sentimentos negativos em relação à carreira e produtividade profissional reduzida.
Mas a lista dos sintomas é longa, individualizada e pode abranger desde um estado de apatia pessoal e profissional, irritabilidade e dores físicas até o comprometimento da vitalidade, tristeza e sentimento de incapacidade, para citar alguns. Se a pessoa já tem uma propensão à depressão ou ansiedade, pode desenvolver ainda outras doenças e questões fisiológicas.
Apesar de o termo estar associado ao ambiente profissional, engana-se quem acha que o esgotamento mental fica restrito ao trabalho. Médicos já tratam crianças e adolescentes com a síndrome de burnout, cuja incidência aumentou durante a pandemia da covid-19 por causa do isolamento social.
Para Maria Elisa, o burnout é ou o excesso ou a falta de algo que pode comprometer qualquer pessoa. Ela exemplifica com algumas situações para o caso dos adultos. “Excesso de trabalho, de atividades, de cobrança de terceiros, de autocobrança, ou falta de qualidade de vida, de momentos de diversão, de reconhecimento, de vínculos de qualidade e de opções de rentabilidade. Tudo isso pode criar um ambiente propício para o quadro de burnout.”
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As recomendações para evitar o burnout, segundo Maria Elisa, estão mais relacionadas ao autoconhecimento e à percepção da própria pessoa sobre as mudanças que ocorrem com ela.
Para a professora do Insper, esta auto-observação precisa ser diária. “É necessário prestar atenção em si mesmo e se dar conta da gravidade ou não dos comportamentos que se vêm adotando. O comportamento também pode ser uma manifestação de que algo não vai bem. E, nesse caso, mesmo não sabendo dar nome ao que sente, o aconselhável é procurar um profissional médico.”
Ela lista, abaixo, como se manter saudável frente às cobranças do dia a dia:
COMO MANTER A SAÚDE FÍSICA E PSICOLÓGICA |
1- Dimensão física:● Siga uma alimentação saudável. Se estiver comendo ou bebendo muito, pergunte-se o porquê dessa mudança e tente corrigir a tendência. ● Mantenha um ritmo e qualidade de vida apropriados. ● Faça atividade física durante a semana ou realize pequenos exercícios, como andar no seu trajeto diário. ● Respeite um sono de qualidade e “desligue-se” do celular meia hora antes de ir dormir. A insônia compromete a memória. ● Adote o autocuidado, ele é essencial. ● Tenha uma rede de apoio de qualidade para poder conversar e desabafar. |
2 – Dimensão intelectual:● Fique atento à qualidade do seu aprendizado, se está falho ou não. ● Esteja aberto ao aprendizado de coisas novas. ● Considere se o esquecimento ou se a memória ruim é ou não uma condição médica ou que tenha motivação com o seu trabalho. ● Tente manter a imaginação e a criatividade ativas. |
3 – Dimensão psíquica:● Fique atento com a qualidade dos seus pensamentos, se eles são mais positivos ou negativos. ● O mesmo vale para suas emoções. ● Se estiver com dificuldade para lidar com algum aspecto da sua vida, procure um profissional da saúde que possa avaliar seu caso clinicamente. |
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