06/03/2020
Organização da conferência convida Bruna Arruda entre várias personalidades negras do Brasil com destaque na área da educação e da defesa da equidade racial
Bruna Arruda, professora e embaixadora da Engenharia do Insper, foi selecionada para a Brazil Conference at Harvard & MIT 2020. A organização do evento, que ainda divulgará a data da edição deste ano, convidou Bruna entre várias personalidades negras do Brasil com destaque na área da educação e da defesa da equidade racial.
“Sabemos que no Brasil, por todo o contexto histórico, a mulher negra é marginalizada e tem grandes desafios para enfrentar em função de uma situação de vulnerabilidade. Então posso dizer, que no aspecto pessoal, este convite não é apenas para mim: vejo como uma oportunidade para representar todas essas mulheres, em especial, aquelas que lutam em áreas tecnológicas como eu, e buscam diariamente o respeito e valorização em uma sociedade onde somos periféricas”, comenta Bruna. “Representar o Insper, uma escola influente e de grande impacto no Brasil é uma honra. Estar em um lugar aberto à busca e ao incentivo à diversidade me traz segurança em lutar e buscar os objetivos nesta área”, completa.
Para Regina Madalozzo, professora do Insper e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero e Diversidade do Centro de Estudos em Negócios, o convite para Bruna participar da conferência é motivo de grande orgulho para nossa escola. “Afinal, estaremos com uma representante da nossa casa com a possibilidade de trocar informação com outras pessoas tanto sobre como estamos trabalhando a questão de diversidade e inclusão na escola, como políticas e ações que nos ajudariam a caminhar mais rápido nesses objetivos.”
Regina ressalta que, mais do que isso, Bruna é uma engenheira negra. “Ela faz parte do grupo que se percebe muito diferente da maioria – homens e brancos – e que agora tem a chance de inspirar mais meninas e mais pessoas negras a ingressarem nas áreas de ciências exatas. Os modelos de carreira e de profissionais bem sucedidos atualmente ainda são restritos e pouco diversos. Bruna faz pessoas que não se identificam com esse modelo perceberem que têm potencial e podem chegar onde ela mesma já chegou.”
Trajetória
Desde antes de ingressar na graduação, Bruna já via a educação como um agente de transformação, tanto do indivíduo, quanto da sociedade como um todo. “Vi como estudar mudou a vida dos meus pais e, consequentemente, a minha, da minha irmã, de toda a nossa família”, observa.
Seu pai trabalhava como engraxate e entregava jornal para ajudar em casa. Ele conseguiu cursar faculdade de química e de medicina e, com essas conquistas, transformou a vida de todos ao seu redor. Com a sua mãe, aconteceu o mesmo: trabalhava na roça, como boia-fria e, mesmo com todas as dificuldades, se formou em direito. “A educação muda a vida das mais diversas maneiras e é uma forma de auxiliar também outras pessoas por meio dos estudos, do conhecimento e da profissão”.
Na escola, Bruna já se identificava com disciplinas como química, matemática e física e decidiu cursar engenharia para desenvolver habilidades de cálculo, base lógica e demais conceitos ligados às ciências exatas. Cursou graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialização em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), na área de ciências térmicas e é doutoranda na Faculdade de Engenharia Química na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Está no Insper desde 2018, onde leciona Química Tecnológica e Ambiental para Engenharia Mecatrônica.
Desafios
Na escola, durante o ensino básico, Bruna e sua irmã eram as únicas alunas negras em uma escola particular. Essa constatação, somada ao exemplo dos pais e da percepção do estudo como agente de transformação, a motivaram a querer lutar por ambientes com mais inclusão, diversidade e respeito.
Tanto no ambiente acadêmico como no profissional, Bruna enfrentou diversos desafios para ter a sua voz ouvida e respeitada. “Ser uma mulher, negra e engenheira em uma área onde existe predominância de homens brancos sempre me deixou incomodada. Mas canalizei esse desconforto para tentar mudar a realidade a minha volta, um passo de cada vez, sempre tentando sair da minha zona de conforto.”
Atuação
Por meio de diversas ações, Bruna busca aumentar a quantidade não só de mulheres como também de alunos negros no ensino superior. Realiza, no Insper, a prospecção de potenciais estudantes, com foco especial em alunos negros e também mais alunas para a engenharia. Efetua visitas em escolas públicas e particulares, levando a arte da engenharia a estes alunos e mostrando que ingressar em um curso superior é possível para todos. Também atua na divulgação do Programa de Bolsas.
“Com acesso à educação de qualidade, estes alunos poderão futuramente ocupar cargos de destaque em seus futuros empregos. Com minha experiência pessoal, tento mostrar às jovens, incluindo mulheres negras, o quanto é importante buscar o conhecimento e a educação como agentes de transformação da vida e da sociedade. Como diz Angela Davis: ‘Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela’”, conta Bruna.
A professora ainda participa, no Insper, do Coletivo Raposas Negras, formado por alunos, professores, colaboradores negros e por demais pessoas que apoiam a causa, e da Comissão da Diversidade, que promove ações e medidas que visam prevenir e enfrentar todas as formas de violência, discriminação e assédio. “Temos o sonho de que os jovens, independente de raça, cor, renda ou patrimônio, tenham a oportunidade de estudar em nossa escola, além de fazer com que estes alunos se sintam pertencentes ao Insper. Nossa missão também é conscientizar toda a Comunidade Insper sobre questões raciais, colaborando para que sejam agentes da inclusão e diversidade”.
Aumento da presença feminina
De acordo com Bruna, o aumento da presença feminina na engenharia pode ser impulsionado especialmente em duas vertentes. “Primeiro, com um maior ingresso de mulheres na academia, rompendo os paradigmas de que engenharia é coisa de homem”. Além das visitas às escolas para falar sobre como é ser engenheira, Bruna ressalta a importância deste incentivo acontecer desde criança. “É claramente percebido que os meninos são mais motivados que as meninas a realizar atividades práticas com tendência para engenharia. Assim, é necessário que a criança seja desde cedo livre e saiba que não existem profissões para mulheres e profissões para homens.”
Na segunda vertente, entram em discussão as empresas de engenharia, que precisam investir em talentos femininos e abrir novas oportunidades para as mulheres. “Além disso, as empresas também podem atuar na difusão de políticas de igualdade de gênero no ambiente de trabalho e avançar também em ações como a criação de ouvidorias e redes de apoio para mulheres”.