Após a cerveja Budweiser e a rede de fast-food Burger King, outro ícone americano, a marca de alimentos Heinz, entrou ontem para a lista de negócios capitaneados pelo fundo 3G, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da Ambev. Eles se uniram ao mega investidor Warren Buffett e pagaram US$ 28 bilhões pela empresa fundada em 1869. O objetivo é tornar a Heinz uma potência global de alimentos comparável à AB InBev em bebidas.Conhecido por buscar pechinchas que precisam de um “choque de gestão”, o 3G teve de pagar caro para ficar com a Heinz, uma marca que conseguiu, ao longo dos últimos 15 anos, se tornar menos americana e mais global – hoje, dois terços da receita da companhia têm origem fora dos Estados Unidos. O 3G e Buffett pagaram US$ 72,50 por ação para ficar com 100% do negócio e fechar o capital da Heinz. O valor representa um prêmio de 30% em cima da cotação média do papel no último ano. Do total de US$ 28 bilhões, US$ 5 bilhões são relativos a dívidas.
A Berkshire Hathaway, de Buffett, e o 3G terão parcelas iguais da Heinz, informou ontem o bilionário em entrevista à rede de TV americana CNBC . Cada parte pagará US$ 4 bilhões em dinheiro. O restante será captado em empréstimos com os bancos JP Morgan Chase e Wells Fargo. Como é de praxe nos negócios em que Buffett está envolvido, ele terá influência limitada na gestão. O comando da Heinz ficará, portanto, nas mãos dos sócios do 3G -mentores intelectuais da mega aquisição.
Ideia. Quarto homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em US$ 53 bilhões, Buffett foi apresentado ao negócio em dezembro, durante uma viagem de avião com Lemann, o 37.ºdalista de bilionários da Bloomberg, com patrimônio de US$ 19 bilhões. O brasileiro plantou a ideia da compra na cabeça do americano no início de dezembro. Com o aval imediato de Buffett, Lemann e Alex Behring, sócio do 3G, foram à sede da Heinz, em Pittsburgh, apresentar a primeira proposta ao presidente da companhia, William R. Johnson. Segundo fontes, após uma primeira oferta de US$ 70 por ação ser recusada, o valor subiu para US$ 72,50. “O negócio era tão bom que decidi apresentá-lo imediatamente ao conselho de administração”, disse Johnson ontem, durante o anúncio da aquisição. “A aprovação foi unânime.”
A compra da Heinz é o maior negócio global de fusão ou aquisição de empresas anunciado este ano. No segmento de alimentos e bebidas, os US$ 28 bilhões pagos pela Heinz representam a quarta maior transação já feita, conforme relatório da Thomson Reuters. O acordo fica atrás de duas negociações relativas à Kraft (de US$ 61,5 bilhões e US$ 36,1 bilhões, fechadas em 2007 e 2012, respectivamente) e de outro negócio no qual os brasileiros estiveram envolvidos – a compra da Anheuser-Busch pela InBev, que somou mais de US$ 60 bilhões em 2008. O acordo com a Heinz supera também os cerca de US$ 20 bilhões que a AB InBev pretende pagar pela cervejaria americana Modelo.
Behring, que representou o3G no anúncio da compra da Heinz, afirmou que o trabalho de internacionalização da companhia pavimenta o caminho para a transformação da Heinzem uma marca “verdadeiramente global”. Apesar ainda de ser lembrada pelo ketchup, a Heinz desenvolveu uma estratégia agressiva de aquisições para ampliar seu portfólio – incluindo a brasileira Quero, por R$ 1,2 bilhão. “Em comparação a outros negócios (adquiridospelo3G no passado), a Heinz vinha apresentando resultados bons por um longo período antes do nosso envolvimento.”
Pé no acelerador. A confiança de Buffett no 3G é justificada, segundo analistas, pela capacidade dos sócios de gerir negócios globais. “É uma habilidade destilada ao longo de anos de instabilidade no Brasil, com foco na produtividade”, afirmou o consultor Marcos Gouvêa de Souza, da GS&MD – Gouvêa de Souza. A campanha de expansão da Heinz fora dos Estados Unidos deverá ser acelerada com o fechamento de capital da empresa, que permitirá decisões agressivas ao estilo Ambev, disse o coordenador-geral de MBAs da escola de negócios Insper, Silvio Laban. “Acho que (a Heinz) é só o começo.”
O Estado de S. Paulo – SP – 15/02/2013