As notícias da semana passada e a expectativa do Governo Dilma cair ainda impactaram o mercado de capitais do Brasil de ontem. Atrelado a isso, estão fatos políticos, como a deflagração da Operação lava Jato em âmbito internacional, na madrugada de domingo para segunda-feira. A nova atuação do Banco Central também interferiu nos resultados.
Apesar de operar de forma mais lenta ante a semana passada, a Bolsa de Valores fechou o pregão, ontem, com valorização de 0,7%, com 51.171.55 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 5,589 bilhões. O dólar comercial operou em alta de 0,79%, sendo cotado a R$ 3,6083 na compra e R$ 3,6103 na venda. A elevação foi reflexo da venda de swap reverso (dólar no mercado futuro) do Banco Central (BC) para conter queda expressiva da moeda.
Influências
O economista Eldair Melo, diretor executivo da Finanq, diz que a Operação Lava Jato que chegou a Portugal segurou a subida do dólar. De fatores externos, ele cita o aumento dos preços das commodities. O preço do barril de petróleo subiu 0,9%, fechando a US$ 39,22. Porém, a ameaça de que a equipe da Polícia Federal na Lava Jato possa ser trocada pelo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, fez a moeda subir um pouco.
Marcos Mourão, assessor de investimentos da Multinvest/XP Investimentos, analisa que a “expectativa da expectativa” da saída de Dilma vem fazendo a Bolsa subir. “Fatores externos, diz, têm pouca influência. “Você pode olhar isso (alta da Bolsa) como um movimento mais especulativo e não por fundamentos econômicos, porque nossa economia está frágil”. O percentual maior de investidores no mercado de capitais brasileiro é de estrangeiros, que enxergam a bolsa do Brasil como mais barata. “Depois da perda do grau de investimento do País nas três maiores agências de classificação riscos (Fitch, Moody’s e Standard & Poors), aumentou o investimento de grandes grupos especulativos”. Ele analisa que esse mercado especulativo é mais negativo, porque visa lucro rápido, não fortalecendo as empresas listadas em Bolsa.
Para Marcos Melo, professor de Finanças do Ibmec/DF e sócio da Valorum Consultoria Empresarial, o fator interno também influencia mais. “A cada fato novo a respeito da mudança da troca de Governo gera esperança para que economia volte a funcionar melhor. A Lava Jato sem dúvida influenciou, mas no curto prazo. O avanço da possibilidade de impeachment é o que pesa”, diz.
Questionado se há alguma medida que o Governo possa fazer para retomar a confiança do mercado, Melo diz que não há condições. “Mesmo que eles tentem e tentaram, mesmo que consigam implantar a CPMF, o mercado perdeu a confiança. O Governo prometeu ajustes que não conseguiu cumprir”, afirma. Uma das medidas prometidas é a reforma da Previdência Social, que, por conta da piora da crise política, o Ministério da Fazenda já admite que poderá não ser mais enviada ao Congresso em abril.
Michael Viriato Araujo, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper (SP), alerta que a melhora do mercado com a expectativa do impeachment não é definitiva. Pois, diz, a queda da presidente já está prevista pelo mercado. “Uma hora, mesmo que aconteça o impeachment, a Bolsa não vai dar outra disparada”.
Fonte: O Povo – 22/03/2016