Com a decisão de adiar o aperto na liquidez, a vice-presidente do Fed, Janet Yellen, assumiu a dianteira nas preferências do mercado. Mas do que uma opção de política, na avaliação de analistas que acompanham a discussão, o recado que o mercado está tentando passar é um clamor por transparência e melhora na comunicação da instituição.
Na avaliação do analista Rodolfo Oliveira, da consultoria Tendências, por já ser do board, Yellen tem uma visão mais conhecida pelo mercado. Com ela, imaginam continuar com as mesmas diretrizes atuais. “É um nome que gera menos incertezas”, afirma.
Já o segundo mais cotado, Donald Kohn, vice-presidente do Fed entre 2006 e 2010, deu recentemente declarações sobre os estímulos à economia percebida como ambíguas pelo mercado. “A omissão pode causar uma crise financeira potencialmente mais severa do que a crise da qual estamos apenas começando a sair”, disse.
Nesse momento, trata-se de uma falha considerada grave. “Não está claro se seguiria a política atual”, afirma, lembrando que o outro cotado, o ex-secretário o Tesouro Timothy Geithner, teria dito estar fora da disputa.
A questão da transparência é o ponto principal de uma avaliação bastante crítica divulgada ontem pelo analista do UBS, Paul Donovan. “O Fed errou sério, destruído qualquer pretensão de transparência. Os economistas não estão irritados com o Fed, apenas terrivelmente desapontado”, escreveu.
O fato é que o escolhido não terá alternativas e terá que adotar uma política mais restritiva. Essa é a avaliação do professor de finanças do Insper, Alexandre Chaia. “É o dilema do Fed. Todos sabem que podem estar criando uma bolha. O que o Kohn falou é verdade. Na prática, disse que se for ele (o futuro presidente do Fed), não se deve esperar que mude radicalmente a política”, afirma.
Para Chaia, a vantagem de Yellen é ser mais aberta e ter mais apoio na relação com o mercado e com os economistas. Isso lhe garantiria uma quarentena, um período de calmaria antes das críticas. “O Bernake sofreu porque pegou a crise e teve que trabalhar pelo reaquecimento, mas conseguiu fazer a economia deixar de patinar. A agenda do próximo presidente do Fed será tirar o incentivo econômico que está criando uma bolha inflacionária. Terá que fazer com que o mercado acredite na economia e lidar com a pressão do mundo inteiro”, afirma Chaia.
Segundo ele, a pressão mundial é um capítulo importante da decisão porque a redução da liquidez gera efeitos para parceiros comerciais importantes dos Estados Unidos. Não interferirá na decisão, mas obrigará o futuro presidente a ter uma estratégia de comunicação mais clara. “Essa agenda é mais do que suficiente para os próximos três anos de trabalho. Existe uma preocupação grande em desarmar a bolha sem gerar uma crise cambial”, resume, avaliando que o espaço para outras iniciativas, como uma regulação mais efetiva do mercado de derivativos, será limitado.
“Existe pressão dentro do partido democrata para um aperto na regulação e, nesse ponto, a Janet Yellen tem a preferência dos políticos, mas a principal agenda é a normalização das condições monetária e o ajuste do balanço do Fed”, completa Oliveira, da Tendências.
Fonte: Brasil Econômico – SP
Data: 20/09/2013