Como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem aumentar em mais 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia (Selic), elevada a 12,25% ao ano – o maior patamar em três anos e meio. Em nota, o Banco Central afirma que a decisão levou em conta “o cenário macroeconômico e também a inflação”.
Setor produtivo afirma que efeito de alta dos juros será ‘cruel’ em 2015
Representantes de segmentos como indústria gráfica e construtoras afirmam que começam a sentir no dia a dia mudança na política monetária. Economistas afirmam que ação é necessária
Como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem aumentar em mais 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia (Selic), elevada a 12,25% ao ano.
Segundo nota divulgada ontem pelo Banco Central após a reunião, a decisão foi tomada por unanimidade, e levou em conta o cenário macroeconômico e também para inflação.
O professor de economia do Instituto Insper, João Luiz Mascolo, afirma que a alta de juros não surpreendeu e que foi necessária em um momento de realinhamento de preços da economia.
“Afirmar que subir juros é algo bom é uma mentira. No entanto, dada a ‘herança maldita’ da equipe econômica anterior, foi necessário”, diz o professor do Instituto Insper, João Luiz Mascolo.
“A nova equipe está recebendo uma economia com uma série de preços desalinhados, como nas tarifas de energia, de transporte público, além de benefícios fiscais que foram dados a alguns setores, e que fizeram a inflação de 2014 quase estourar o teto de 6,5%. Então, se a ideia é realinhar preços e colocar a economia em ordem, não tem outro jeito”, acrescenta.
Para Mascolo, a alta mais intensa na taxa de juros neste início de ano deve corrigir alguns desalinhamentos na economia, além de permitir que os juros caiam no futuro.
“O governo vai continuar implementando medidas impopulares entre 2015 e 2016, para poder chegar em seu final de mandato em 2018 com possibilidades de ‘soltar a economia’ e oferecer benefícios”, afirma Mascolo.
O professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Carlos Honorato, também considera a definição do Copom previsível, além de reafirmar um cenário de recessão. “Alta de juros somada a aumento de imposto, mais elevação de tarifas públicas, com certeza representa um cenário de retração da economia”, diz.
“Se o PIB [Produto Interno Bruto] crescer zero neste ano, já será uma vitória”, ressalta.
O presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato, afirma que a alta da Selic tem um “impacto cruel para o setor”. “O aumento de 0,5 ponto percentual nos juros recai diretamente para os nossos custos. As empresas dependem de capital de giro para sobreviver que captam, muitas vezes, por meio dos bancos”.
Prejuízos
O representante afirma que empresas do setor que têm contratos pré-fixados com clientes acabam se prejudicando, pois não podem repassar custos. “Além disso, essa conjuntura de juros e inflação altos nos faz repassar custos para os produtos sem agregação de valor ou tecnologia. Há muitos anos estamos vindo nesse samba de uma nota só”, afirma o presidente da Abigraf.
O CEO da Vitacon Incorporadora e Construtora, Alexandre Lafer Frankel, diz que o juro alto tem começado a impactar o setor. “Mesmo com a oscilação para cima da Selic, o crédito imobiliário, tanto para a produção como para o consumidor, estavam estáveis. Agora percebemos que o crédito já sendo pressionado e isso dificulta a sobrevivência das empresas, além de desincentivar os financiamentos de imóve i s”, afirma Frankel.
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a alta reafirma as apostas em uma postura mais agressiva da autoridade monetária no combate à inflação. A entidade projeta que a taxa básica pode chegar a 13%, ainda no primeiro semestre deste ano.
Projeção é de nova alta de 0,25 ponto
O pico da Selic será 12,50% ao ano, subindo mais 0,25 pontos percentuais na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Mas o mercado vai aumentar as apostas, projetando a taxa em 12,75% ou 13% ao ano.
A decisão de hoje [ontem] é mais uma sinalização de mudança da abordagem econômica. Já tem o pacote de medidas fiscais, a discussão do preço da eletricidade e da gasolina, o corte de gastos e o aperto da política monetária vêm se somar a isso. É todo um pacote que mostra o governo mais comprometido com novas prioridades.
É difícil que essa decisão [aumento dos juros] tenha impacto na inflação deste ano. A decisão afeta mais a expectativa para 2016, consistente com o discurso da autoridade monetária de trazer a trajetória da inflação para o centro da meta [de 4,5% ao ano] no ano que vem.
Fonte: DCI – 22/01/2015