A consultoria Hays divulgou ontem (13/11), em um evento no Insper (SP), o Guia de Salários 2014. O levantamento, feito com 483 empresas e 8.024 profissionais, apresenta dados de remuneração e outras questões relacionadas à relação entre o funcionário e a organização – tanto do ponto de vista das empresas quanto dos executivos.
Além da lista de salários por cargo e setor, alguns aspectos comportamentais levantados na pesquisa chamaram a atenção dos pesquisadores. Os assuntos que mais ganharam destaque foram os relacionados à confiança na atual economia brasileira – tema da reportagem de capa da Época NEGÓCIOS de novembro, que está nas bancas. Quando questionadas sobre quais as dificuldades do atual panorama econômico, 68% das empresas responderam “falta de confiança na economia”. No ano passado, esse número correspondia a menos da metade, 33%. Em segundo lugar, tanto em 2013 quanto em 2014, aparece o excesso de impostos. Este ano, com 65% das respostas das organizações.
Talvez porque a falta de confiança tenha se tornado tão relevante este ano, outro aspecto ficou em segundo plano para as empresas: a falta de profissionais qualificados. O item caiu nove pontos percentuais. Foi de 56%, no ano passado, para 45%, em 2014.
As demissões, outro tópico que geralmente tende a crescer em um contexto de insegurança econômica, diminuiu no último ano. Em 2013, 61% de empresas afirmaram ter demitido profissionais. Agora, esse número baixou para 48%. Regina Madalozzo, a pesquisadora do Insper responsável por conduzir o estudo, afirma que uma possível forma de compensar a ausência de demissões em um mercado frágil foram os congelamentos de salários, adotados por 74% das companhias.
Essa compensação pode ter levado a outra. Houve aumento no volume de empresas que responderam oferecer benefícios aos empregados. O número cresce de 91% para 97%. “Com mais salários congelados, é provável que as empresas tenham aumentando os benefícios“, diz Regina. “Mas a estratégia parece não ser suficiente para os profissionais”. Isso porque metade dos entrevistados afirma receber remunerações abaixo do que acreditam que deveriam ganhar. Já 48% dizem que seus salários estão adequados. E 2% dizem ganhar mais do que deveriam.
Os atributos que as empresas valorizam nos empregados também refletem o momento de falta de confiança na economia. A capacidade de trabalho é a mais importante qualidade, escolhida por 36% das empresas – em comparação a 33%, no ano passado. Em segundo lugar, a motivação também cresceu, de 29% para 31%. Em seguida, a capacidade de adaptação caiu dois pontos percentuais, de 16% para 14%. “As empresas querem pessoas que trabalhem bem e possam se adaptar às necessidades do ambiente”, diz Regina.
A rotatividade, no geral, manteve-se a mesma que a do ano passado. Entre as empresas, 64% afirmaram não haver grande troca de funcionários em seu setor de atuação. Os investimentos em recursos humanos também se mantiveram estáveis em 44% das empresas, em comparação a 51% no ano passado. As que aumentaram os investimentos foram 36% do total, tanto em 2013 quanto em 2014.
Para a maioria dos funcionários (34%), o mercado de trabalho foi considerado bastante difícil, em comparação a 14% no ano passado. Em segundo lugar, aparece a resposta “está reaquecendo aos poucos”, que teve 27% de aderência, menos que os 34% de 2013.
Outro dado que chama a atenção é o alto número de funcionários empregados que querem mudar de trabalho: 79% – mas 59% deles ainda está só na vontade, ainda não começou a procurar uma nova oportunidade. O principal motivo para o desejo de mudança são as perspectivas de crescimento pessoal e profissional, resposta escolhida por 35% dos profissionais. Em segundo lugar, aparece a remuneração, com 23% e, em seguida, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Fonte: Época Negócios Online – 17/11/2014.