Embora a teoria diga o contrário, a primeira impressão do pequeno empresário, hoje, é que novos aumentos nos juros devem ser bons para os seus negócios e ajudar a impulsionar as vendas. Na percepção desses empresários, os prejuízos com a inflação, que aparecem em aumento de custos e perda de vendas, ultrapassaram o ponto em que é melhor conviver com ela do que arcar com as consequências de combatê-la.
Esse é um dos dados revelados pelo Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios no Brasil (IC-PMN), feito trimestralmente pelo Centro de Pesquisas em Estratégia do Insper em parceria com o banco Santander. A pesquisa, que verifica o otimismo do empresário em relação à economia e aos negócios para os próximos três meses, perguntou também sobre a expectativa com relação às medidas tomadas de combate à inflação, como o aumento da taxa de juros, e os efeitos sobre o próprio negócio.
Para surpresa dos pesquisadores, 47% dos entrevistados disseram que os negócios aumentariam (37%) ou aumentariam muito (10%). Entre os demais, 30% alegaram que os negócios “permaneceriam inalterados” ante juros mais altos e outras medidas de combate à inflação; 18% disseram que diminuiriam e apenas 5% responderam que as vendas diminuiriam muito.
“Foi um resultado que nos chamou a atenção, já que a princípio é contraintuitivo“, disse o economista e professor do Insper Gino Olivares. “O que o empresário está dizendo é que a inflação já está atrapalhando. Ela acaba fazendo um estrago pior do que os efeitos que um eventual combate a ela podem ter sobre a sociedade.”
Para o professor, a situação chegou a um ponto em que os juros mais altos podem até acabar resultando em mais investimentos, e não o contrário. “O que o empresário que planeja investir quer é ver a economia crescendo. Se, como aparece na pesquisa, ele está incomodado com a inflação a ponto de achar que isso prejudica o desempenho, então o combate a ela via aumento de juros pode ter efeito positivo no longo prazo. O empresário vê que a inflação melhorou, a atividade é retomada e ele pode investir.”
O índice de confiança do Insper atingiu nesta edição o menor patamar na série histórica, iniciada em 2008: somou 58,9 pontos, queda de 7,2% em comparação aos 63,4 pontos do levantamento anterior. A pontuação diz respeito às expectativas do empresário para o primeiro trimestre de 2015 – a pontuação é dada em escala de zero a 100, em que, quanto mais próximo do 100, maior é o otimismo.
O pior desempenho foi no quesito que verifica as expectativas em relação à economia brasileira no próximo trimestre: houve queda de 10,2%, para 51,6 pontos. A perspectiva quanto ao faturamento da empresa recuou 8,8%, para 54,7%, e a intenção de fazer investimentos no período teve pontuação 4,8% menor, caindo a 57,5 pontos.
O levantamento foi feito entre 10 e 12 de dezembro com 1,3 mil empresários em todo o país, que representam empresas que faturam até R$ 80 milhões ao ano.
Fonte: Valor Econômico – 17/12/2014