A indústria de private equity e venture capital desponta como uma das oportunidades de capital disponíveis em um cenário marcado por custo elevado do mercado de dívida, dificuldade do acesso ao mercado de capitais e redução no ritmo de crescimento.
“Entre 2010 e 2013, a indústria alcançou taxas de expansão entre 12% e 15% ao ano em dólar. Não vejo descontinuidade neste ritmo de crescimento”, diz o professor Claudio Furtado, diretor-executivo do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVcepe) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
Ele avalia que o volume de capital comprometido pode chegar a algo entre 3,5% e 4% do PIB, levando em conta fatores como o aumento de captação recente e a chegada de players como a Caixa Econômica Federal.
Furtado acredita que setores atrelados ao crescimento da classe média e suas cadeias de valores, bem como aqueles apoiados em atividades inventivas, como aplicativos, softwares e materiais médicos, estão entre os que mantêm sua atratividade para os gestores, já que não respondem a curtíssimo prazo à variação do PIB.
Outro dado favorável é a taxa de retorno. Segundo ele, em private equity gira entre 3 e 3,5 vezes, consideradas as operações que tiveram saída, enquanto em venture capital a predominância é de 4,5 vezes. Dados levantados pela KPMG para a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP) no ano passado apontaram que, em 2013, o capital comprometido total chegou a pouco mais de R$ 100 bilhões, 21% mais que no ano anterior.
Os dados de 2014 serão apresentados no congresso da entidade, em abril. “O Brasil ainda é considerado um solo fértil para investimentos comparado a outras regiões da América Latina. O crescimento do setor de participações deve continuar na faixa de 30% ao ano”, adianta Fernando Borges, presidente da ABVCAP e “co-head” das operações de private equity do Carlyle Group no Brasil e na América do Sul.
Cate Ambrose, presidente da Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (LAVCA, na sigla em inglês), concorda com ele. “O Brasil domina o mercado latino-americano, com cerca de dois terços de captação e investimentos. Os gestores indicam que o custo benefício do país é imbatível”, diz. Para Marco André Almeida, sócio da KPMG, a economia mais lenta faz surgirem oportunidades de investimentos em carve out, com a venda de ativos não core, a exemplo da aquisição de ativos da Energisa e da Rede Energia pela Brookfield, em 2014.
“Estamos trabalhando para gestores neste sentido. A oportunidade de redução de custos e ganhos operacionais é grande”, diz. Segundo ele, o momento pode ser favorável para investimentos, com dólar alto e preços baixos. “Fundos entrando agora com saída daqui a quatro, cinco anos têm tendência a valorizar de novo lá na frente“, avalia a professora do Insper Andrea Minardi. “A indústria tem um componente contracíclico. Muitos bons negócios são feitos nos momentos mais difíceis”, defende Mário Malta, sócio da Advent. “É um capital disponível para ajudar empresas em estratégia de crescimento e acaba sendo a única opção em um cenário desafiador.” Em 2014, a gestora levantou US$ 2,1 bilhões para a sexta geração de seu fundo dedicado à América Latina, o Latin American Private Equity Fund (LACEF), recorde para a região. De lá para cá, a variação cambial fez o valor saltar de R$ 5 bilhões para mais de R$ 6,5 bilhões. Segundo Malta, entre os movimentos que podem se acentuar estão as transações entre fundos.