19/02/2014
Ofensas do PT a Campos visam tirá-lo do 2° turno: Para o cientista politico do Insper, Carlos Melo, a presença de Eduardo Campos (PSB) no segundo turno contra Dilma é um cenário nebuloso. Pode permitir que o PSDB decida a balança eleitoral em favor do socialista.
Ataques a Campos visam barrar socialista do 2° turno
Para cientista politico, discurso de Rui Falcão com ataques aos candidatos de oposição expressa temor com concorrente de Dilma na reta final.
Em entrevista do DCI, o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Carlos Melo, afirma que a estratégia do PT de confrontar seus adversários, como o discurso da última segunda-feira (3), no 34° aniversário do partido, é um sintoma de que o PT acusou o golpe ao perder Campos para a oposição.
“Eu tenho a impressão de que o PT está sentindo o golpe em relação à candidatura Eduardo Campos com Marina (Silva). O PT sabe que essa candidatura, esse racha do que um dia foi a sua base tira alguns votos da Dilma de uma forma perigosa para levar [a decisão] para o segundo turno”, diz.
Na fala de Falcão, o dirigente sugere – sem citar nomes – que Eduardo Campos pertence às velhas oligarquias do Nordeste e atua para censurar os veículos de imprensa que publicam noticiário negativo contra o socialista.
Para Meio, o Partido dos Trabalhadores expõe, com a estratégia, uma decisão e uma fragilidade: a decisão é a de atacar o presidente nacional do PSB e enfraquecer a postulação de Campos ao Planalto. A fraqueza: a impossibilidade de prever o que será do projeto de reeleição de Dilma se o adversário no segundo turno for o pernambucano.
No entendimento do professor do Insper, um segundo turno entre Dilma Rousseffe Aécio Neves é um cenário razoável porque é possível dividir os votos de Campos e Marina entre a petista e o tucano. Já a disputa entre Dilma e Eduardo Campos seria uma incógnita. “Se o segundo turno for com o Campos, a tendência é dos votos do Meio irem em bloco para o socialista. Há um medo, um perigo de a Dilma perder votos para Campos- Marina”.
Balão de ensaio
O cientista do Insper diz que os ataques ao pernambucano iniciaram quando de uma mensagem ofensiva postada na página oficial do PT no Facebook, no começo de janeiro. Naquela oportunidade o texto- apócrifo – chamava Eduardo Campos de “tolo”, “playboy mimado” e de beneficiário direto do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que teria feito chegar verbas federais a Pernambuco. Na época. o presidente nacional do PSB disse que não responderia à altura dos que dispararam contra ele
Mais tarde, o texto foi atribuído a Alberto Cantalice, responsável pela área de mídias sociais do partido. A seguir, o PT definiu que ficariam vedadas publicações apócrifas e que qualquer nova publicação teria de pssar pelo crivo da direção nacional.
“Está se tentando bater no Eduardo para não deixar ele subir”, resume Carlos Meio. “É uma estratégia de levar a eleição para uma situação dramática: só nós (PT) podemos fazer o que estamos fazendo para o povo brasileiro. Então dramatiza e transforma a eleição, já no primeiro turno em algo plebiscitário”, aponta o estudioso do Insper.
Sobre a questão de oligarquias, Carlos Melo comenta que o discurso de Rui Falcão sinaliza oportunismo na medida em que o PT tem forte vinculação com outra poderosa oligarquia no País: a família Sarney, no Estado do Maranhão .
“Falar que o Eduardo Campos está ligado a oligarquias nordestinas regionais é esquecer que estão de braços dados com os Sarney. O discurso do Rui Falcão é oportunista”, critica.
No estado, o PT vive um atrito Interno. Se regionalmente quer apoiar o comunista Flávio Dino, que deve deixar a presidência da Embratur para disputar o governo, em nível nacional a legenda jura fidelidade à atual governadora Roseana Samey (PMDB), que ainda não definiu quem será o seu sucessor no governo local.
Cretinismo eleitoral
Carlos Melo aponta ainda que essa estratégia de ataque a adversários é ruim para o país.
“Quantos vão morrer nas ruas ainda?. Um fala isso, outro responde, a molecada vai para a rua, a polícia desce o porrete, outros soltam rojão . Aí pega um cinegrafista e pronto: atentado contra a imprensa. Não é. É uma morte numa manifestação, o que é terrível, mas ai já vem uma outra conotação”, afirma.
Para ele, a sociedade brasileira vive uma terrível dissonância, vide os protestos de rua, que tendem a se tonar frequentes com a Copa e podem ameaçar a reeleição de Dilma.
“É a natureza da nossa crise. Há uma grande, uma fantástica crise de liderança. Faltam profissionais da política, profissionais no sentido político. Do cretinismo eleitoral tá cheio por aí. Gente do vem cá, deixa disso, vamos tomar cuidado com a democracia, isso falta”, opina.
Por fim, sobre a cada vez mais tensa relação do PT com os aliados, Carlos Melo comenta que o presidencialismo de coalizão não foi inventado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sim inaugurado na era Fernando Henrique Cardoso. Ele faz coro ao ex-presidente tucano quando este prega que o projeto de governo do PT sofre de “fadiga de metais”.
“Isso [governo de coalizão ] já vinha do Fernando Henrique Isso dá muito certo quando você tem um ou dois mandatos. Quando você vai para quarto mandato, você já distribuiu, já deu tudo o que tinha que dar. E a base continua pedindo mais”, finaliza.
Fonte: DCI – SP – 17/02/2014