O novo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), terá de conciliar os interesses de três grandes grupos durante os seis meses e meio de mandato. Com projetos de poder distintos, o Centrão (PR, PSD, PP, PTB e outros partidos menores), o Centrinho (PSDB, DEM, PPS e PSB) e a nova oposição (PT, PCdoB, PDT, PSOL e Rede) serão as forças políticas do país até a próxima eleição, em 2018.
Além desses blocos, o PMDB – que afirma ser independente – pretende atuar como o fiel da balança nos principais embates na Casa. Maior grupo da Câmara e da base aliada, o Centrão é composto por 17 partidos e tem uma bancada de 232 deputados. Considerados em sua maioria conservadores, os parlamentares do bloco demonstram um apetite voraz por cargos no governo. Para Antônio Augusto de Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), esse grupo tem um perfil fisiológico, com diversas forças e interesses dispersos.
“Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conciliava os pleitos do Centrão quando presidia a Casa, mas agora falta um líder”, avaliou Queiroz. Antiga oposição durante o governo petista, o Centrinho tem 117 deputados e se uniu à gestão de Michel Temer para conseguir aprovar o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.
Na opinião do cientista político Carlos Melo, professor da escola de negócios Insper, o grupo liderado pelo PSDB tenta se diferenciar do Centrão ao estabelecer uma relação de apoio crítico ao Executivo.
“Não ficou claro se eles terão sucesso com esse estilo de atuação, mas o que é certo é que eles têm um projeto político próprio”, destacou Melo. Para o primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), o Planalto terá dificuldades cada vez maiores para unificar a base. “Eles demoraram demais a defender a unidade. E tem um grupo que sustenta o governo – o chamado Centrinho – que tem um projeto definido para 2018. Eles vão com o governo Michel Temer até determinado ponto”, apostou Mansur. ESQUERDA FRÁGIL Além dos grupos que sustentam o governo Michel Temer, a oposição – capitaneada pelo PT – tem cinco partidos e 97 deputados. Carlos Melo, do Insper, comentou que esse grupo foi a base de sustentação da gestão de Lula e de Dilma Rousseff durante os seus mandatos presidenciais e teve a imagem profundamente afetada pelos sucessivos escândalos de corrupção dos últimos anos.
“A polaridade entre esquerda e direita não existe mais. Atualmente, temos uma tensão natural entre o fisiologismo e a necessidade de se construir uma agenda para retomada do crescimento do país”, disse. O analista político do Diap ressaltou também que, em meio aos interesses distintos dos três grupos políticos que se formaram na Câmara, o PMDB, partido do presidente em exercício com 66 parlamentares, será o fiel da balança nas principais discussões da Casa.
Queiroz explicou que a agremiação possui diversos grupos ligados ao agronegócio e a setores econômicos que possuem pautas no parlamento. “O PMDB prega independência e será relevante para que o governo aprove os projetos do seu interesse”, afirmou. Para Queiroz, a tendência é de que o Centrinho ganhe espaço na condução dos assuntos de interesse do governo já que a pauta será dominada por assuntos econômicos e de reformas para equilibrar as contas públicas.
Por outro lado, o Centrão precisará de um líder para aglutinar os interesses fisiológicos do grupo. “Por fim, a oposição terá de se reinventar depois de todo o desgaste político”, comentou.
Fonte: Correio Braziliense – DF – 14/07/2016