10/09/2014
Ele tem formação superior, mas não se sente preparado para abrir um negócio. Quer abrir várias empresas, mas acha difícil conseguir crédito. Não entende de gestão financeira, mas busca informações sobre planejamento estratégico. Saiba quem é e como age o jovem empreendedor brasileiro.
Vontade de empreender não falta aos jovens brasileiros. Entre aqueles que ainda não abriram um negócio, 93,4% afirmam ter o desejo de se tomar fundadores. E, entre os que já são donos de uma empresa, 7796 querem abrir a segunda. O nível de escolaridade entre os empreendedores é alto: 89% completaram o ensino superior. Apesar disso, a maior parte se queixa da falta de preparo para encarar o dia a dia. Outros obstáculos à gestão são a dificuldade em encantar mão de obra, a burocracia e a gestão financeira.
Esses dados fazem parte de uma pesquisa inédita sobre o empreendedorismo jovem no pais. Foram entrevistadas tanto pessoas que já abriram seus empreendimentos quanto aquelas que pretendem dar esse passo. O levantamento é resultado de uma parceria entre Pequenas Empresas & Grandes Negócios e a Conaje (Confederação Nacional dos Jovens Empresários).
Em junho passado, 5.151 pessoas com idades entre 18 e 39 anos responderam a um questionário online. “Os dados mostram um amadurecimento da percepção sobre o empreendedorismo. Esses Jovens querem abrir um negócio para aproveitar uma oportunidade, e não para se livrar do chefe”, afirma Rodrigo Paolilo, presidente da Conaje.
Perfil: Com alto nível de escolaridade, os jovens demonstram disposição para empreender – um quarto deles já são sócios de duas empresas. A área de serviços é a preferida, seguida pelo comércio e pela tecnologia.
Domínio masculino
A pesquisa mostra um percentual de empreendedoras (27,9%) muito menor do que o divulgado pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor). Que é de 52%. “São o amostras diferentes. Esse percentual é semelhante ao que encontramos nas empresas de impacto, onde predominam jovens com alto nível de escolaridade”, diz Pamella Gonçalvess, gerente de pesquisa da Endeavor. “Talvez as mulheres estejam menos dispostas a liderar negócios de risco”, diz.
Isso não significa que estejam preparados para esse desafio. A maioria dos entrevistados afirma que falta capital para começar, e quase metade deles ainda não se sente pronta para empreender. “Ter conhecimentos de gestão é determinante para o jovem se sentir seguro”, diz Cynthia Serva, coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper. “O problema é que a maioria das escolas não inclui no currículo disciplinas relacionadas ao empreendedorismo. “
Atração Digital: O interesse por atividades que envolvem tecnologia ajuda a explicar a ampla preferência pelo setor de serviços, segundo Renato Fonseca, gerente da unidade de desenvolvimento e inovação do Sebrae-SP. “Nessa área, o investimento inicial é menor. Também é mais fácil colocar as ideias em prática, pois os empreendedores nessa faixa etária se sentem seguros no ambiente digital.”
Motivação: Motivado pela identificação de uma boa oportunidade, o jovem cultiva desde cedo a vontade de empreender – a necessidade de uma fonte de renda é citada apenas por uma minoria. A escassez de capital e a falta de preparo são os maiores obstáculos para tirar os planos do papel.
“Explorar uma oportunidade é sinal de um começo promissor, mas não basta. O jovem precisa avaliar se vai gostar de trabalhar na atividade escolhida, porque no começo não vai ter folga nem no fim de semana”, diz Cynthia Serva.
Sonho de Liberdade: Quem planeja abrir um negócio ainda se deixa seduzir pela ilusão de que terá mais independência. “Muitos ainda sonham em se livrar de chefes e ter horários flexíveis. Esse mito precisa ser desconstruídos”, diz Cynthia Serva, coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper. “O empreendedor tem um chefe hem severo: o cliente. ”
Capital em Falta: Segundo Rodrigo Paolilo, da Conaje, bancos e investidores têm melhorado a oferta de capital para novas empresas. Mas os jovens não costumam ter acesso d esses recursos – por falta de pesquisa, de planejamento ou de garantias que possam apresentar aos bancos. “Por isso, muitos esperam ter todo o capital necessário para só depois abrir o negócio, afirma Fonseca, do Sebrae-SP.
Preparação: O número de jovens que afirma não estar pronto para empreender alto: 45,8%. Mesmo assim, a maioria não pede ajuda ou orientação externas. Na hora de procurar recursos, recorrem a soluções caseiras – o capital vem da família ou de amigos.
A voz da experiência: “Contar com a ajuda de um empreendedor veterano é uma boa maneira de se capacitar para enfrentar os desafios de um novo negócio”, afirma Cynthia Servado, do Insper. “O mentor transfere para o jovem sua bagagem de vida”, diz Felipe Maluf, sócio diretor da consultaria YCoach. “Procure alguém que você admire e peça conselhos,”
Gestão: Falta de capacitação, dificuldade em encontrar mão de obra, burocracia e alta carga tributária estão entre as dificuldades do empreendedor. Para enfrentar esses obstáculos, sal em busca de informações sobre planejamento estratégico, marketing, inovação e gestão.
Primeira Viagem: Jovens que nunca ocuparam cargos de gestão costumam se sentir inseguros ao assumir o comando de um negócio. “Ter uma experiência anterior em uma empresa ajuda. Mas essa falta pode ser compensada com o apoio de mentores”, afirma Rafael Cosentino, membro do Lide Futuro, braço jovem do Lide – Grupo de lideres Empresariais.
Cultura Empreendedora: Conviver com outros fundadores é uma boa maneira de adquirir conhecimentos de gestão. Os colegas podem ajudar a resolver problemas e inspirar a adoção de boas práticas. Quem participa de redes de empreendedores, comparece a eventos e se depara com outras realidades tem mais chance de se aprimorar, diz Rodrigo Paolilo, da Conaje.
Fonte: Revista PEGN – 08/09/2014.