O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência internacional de riscos Standard & Poors foi uma notícia ruim para a economia, mas garantiu a volta do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, às rédeas do debate da política econômica.
No entanto, isso pode durar pouco tempo. Essa é a avaliação de analistas de mercado financeiro ouvidos pelo Fato Online. A dúvida sobre até quando o ministro irá manter uma liderança se deve aos sinais ainda contraditórios do governo e a falta de clareza sobre quais medidas serão adotadas para cobrir o rombo no projeto de Orçamento de 2016 e concluir o ajuste fiscal.
“O que percebemos é que o próprio governo, com ausência de coordenação mais clara e definida, tem um horizonte curtíssimo em suas decisões. Achamos que pode acontecer determinadas coisas, mas o histórico mostra que de repente o governo acorda raciocinando diferente e tudo muda”, avaliou o professor de economia do Insper, Otto Nogami.
Até a decisão da agência de risco Standard & Poor’s, que tirou o grau de investimento do país – uma espécie de selo de bom pagador das suas dívidas –, os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) obtiveram mais vitórias em embates internos com Levy.
A última, que foi a entrega do projeto de Orçamento de 2016 ao Congresso Nacional com previsão de deficit de R$ 30,5 bilhões, no dia 31 de agosto, foi considerada a gota d’água para que a S&P retirasse o grau de investimento e levasse o país de volta ao grupo das economias especulativas.
Desencontros Nessa semana, um outro episódio de discursos desencontrados deixou clara a falta de convicção do governo sobre a condução do ajuste fiscal. Um dia antes do anúncio da S&P, que ocorreu na quarta-feira (9), enquanto o ministro Levy sinalizava uma possível alta na alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física, durante sua passagem por Paris (França), o vice-presidente Michel Temer sugeria a elevação da Cide (Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico) que incide sobre os preços dos combustíveis.
Já o líder do governo no Senado, senador Delcídio Amaral (PT-MS), alertava que a elevação de tributos traria impactaria negativamente a inflação e, por isso, não havia definição alguma. Após o rebaixamento, Levy tentou – em entrevista coletiva – pregar que agora haveria unidade no governo. Pouco avançou nesse sentido. E ainda evitou responder as perguntas sobre como está a sua situação como titular da Fazenda. “O impasse básico permanece. Esse efeito [de Levy reconquistar espaço no governo] ocorre sim, favoravelmente, mas não permanece. Acho difícil haver disposição [do governo] em aceitar com perseverança o ajuste, que sempre demora muito tempo”, destacou o ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero. “Uma vez que arranha a credibilidade do governo, o mercado sempre vai desconfiar. Mesmo com Levy à frente, o problema é que o governo é o mesmo” Zeina Latif, XP Investimentos Ricupero lembrou que a maioria dos ajustes fiscais, aplicados na economia do país desde 1945, trouxeram instabilidade política e brigas internas nos governos.
Ele lembrou, por exemplo, os ajustes que Getúlio Vargas e João Goulart tentaram fazer em suas administrações e encontraram barreiras no caminho que, no caso do segundo, levou a um golpe de estado.
“E isso se agrava quando o partido no poder tem no seu próprio DNA ideias contrárias àquelas que estão sendo executadas”, prosseguiu. O PT – partido da presidente da República – tem criticado publicamente as ações do ajuste de Levy. Diversas correntes do partido, com destaque àquelas mais à esquerda, fizeram moções públicas de repúdio à atual política econômica. Essa divergência interna somada à lentidão no resultado do ajuste – que Levy afirmava ser uma solução “rápida” – propiciou certo protagonismo de Mercadante e Barbosa nas decisões da presidente Dilma Rousseff.
Dessa maneira, se Levy teve um pequeno respiro esta semana, o mesmo não pode ser dito da imagem do governo junto ao mercado financeiro após as muitas reviravoltas. “Uma vez que arranha a credibilidade do governo, o mercado sempre vai desconfiar. Mesmo com Levy à frente, o problema é que o governo é o mesmo”, afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “Levy era considerado o avalista do ajuste fiscal, que é extremamente necessário no atual estágio do país”, prosseguiu Otto Nogami.
Fonte: Fato Online – 12/09/2015