Ganho real de aplicação atrelada à inflação chega a 6% no Tesouro Direto
Depois de meses de instabilidade e perdas, os títulos públicos prefixados ou corrigidos pela inflação tiveram boa rentabilidade em fevereiro e estão oferecendo ganhos reais de 6% ao ano aos investidores, os maiores níveis desde 2009. São papéis como as Notas do Tesouro Nacional da Série B (NTN-B, que rendem uma taxa prefixada de juros e mais a inflação) e as Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixados). Eles voltam ao centro das recomendações dos especialistas principalmente após a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada na semana passada, indicar a aproximação do fim do ciclo de aperto monetário. Para economistas, a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,75%, deve ser elevada apenas mais uma vez, em abril, para 11% ao ano.
Na semana passada, as LTNs com vencimento em 2017 ofereciam ganho de 12,46% ao ano aos investidores. Já as NTN-Bs com vencimento em 2020 tinham taxa de 6,17% ao ano e mais a inflação pelo IPCA, projetada atualmente em 6,12% para os próximos 12 meses no boletim Focus, do BC. Os dois títulos são vendidos pelo Tesouro Nacional a pessoas físicas pela internet, no Tesouro Direto (www.tesourodireto.gov.br).
— O rendimento está alto em comparação ao fim de 2012. Naquela época as NTN-Bs ofereciam 3% ao ano de juro e mais a inflação. Com uma taxa de 5,5% esse papel já estaria valendo a pena — diz Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper. — Nos dois casos, o melhor é comprar o título que vence a curto prazo e mantê-lo até o vencimento. Os com prazo mais longo, como 2050, podem oscilar muito e, inclusive, ter perdas maiores do que ações.
PAPÉIS CHEGARAM A PERDER 30%
O professor de finanças do Ibmec- Rio Alexandre Espírito Santo lembra que os títulos prefixados e os atrelados à inflação chegaram a perder 30% no ano passado, afetados pelo aumento da Selic. Quando os juros sobem, os papéis antigos, com rendimentos mais baixos e menos atraentes, perdem valor.
— Quem acha que a situação do Brasil vai piorar, o dólar vai disparar e a Selic vai subir muito deve ficar longe desses papéis. Eu não acredito nesse cenário. O Copom pode elevar a Selic em mais 0,25 ponto em abril e parar, em 11% ao ano. Isso não vai atrapalhar — diz Espírito Santo.
Mas se o investidor tem uma visão mais pessimista quanto ao desempenho da economia, o professor do Ibmec-Rio sugere títulos pós-fixados, que acompanham a alta da Selic. É o caso das Letras Financeiras do Tesouro (LFT) com vencimento em 2017. Esse prazo já é suficiente, inclusive, para a aplicação ser tributada no vencimento pela menor alíquota de IR, de 15% para títulos mantidos por mais de dois anos.
Segundo Fabrizio Tota, gerente de home broker da corretora Socopa, uma parcela dos investidores começa a migrar dos títulos pós-fixados para os prefixados. Existem atualmente 383 mil investidores no Tesouro Direto, a maioria na região Sudeste (70% do total) e com 26 a 35 anos de idade (33%). Homens representam 79% do público.
— Uma parte dos clientes saiu do Tesouro Direto e foi para fundos imobiliários com os juros baixos e depois houve a turbulência no mercado de juros. Eles podem começar a voltar agora — avalia o especialista da TOV.
Acostumado a investir no mercado de ações, o empresário André Giaquinto, de São Paulo, resolveu experimentar o Tesouro Direto. No começo do ano passado, comprou NTNBs com vencimento em 2015. Apesar das perdas no ano passado, ele não vendeu os títulos. E, agora, o empresário planeja adquirir mais papéis.
— Minha maior dificuldade foi entender todos os códigos referentes aos títulos. Nessa hora, pedi ajuda ao consultor da corretora pelo chat. Fiquei com receio de comprar o título errado. Acabei optando pela NTN-B, que me dá proteção contra a inflação e ainda oferece um ganho real — diz Giaquinto.
Para investir no Tesouro Direto é preciso estar cadastrado em uma das 74 corretoras de valores listadas no site do Tesouro Direto. A taxa de administração cobrada por essas corretoras fica, na média, em 0,31%, variando desde zero (ou seja, isenta) a até 2% ao ano.
Fonte: O Globo – 10/03/2014