São Paulo – O ingresso de aportes estrangeiros continua em queda no Brasil e até abril deste ano tiveram retração de 31,2%, para US$ 11,609 bilhões, em relação aos primeiros quatro meses de 2014.
Naquele período, os investimentos somaram US$ 16,905 bilhões. Os dados são do Banco Central (BC) e foram divulgados ontem. O setor com maior participação nos aportes estrangeiros, os serviços (53,8%), apresentou a maior queda até abril, de cerca de 40%, para US$ 6,248 bilhões. No mesmo período do ano passado, o segmento havia recebido US$ 10,408 bilhões em aportes. Os serviços financeiros foram o subsetor com a maior retração, de 85%, para US$ 485 milhões. Já na indústria, houve uma diminuição de 25% nos recursos externos destinados ao setor, que foram de US$ 4,634 bilhões, nos primeiros quatro meses de 2014, para US$ 3,547 bilhões, em igual período de 2015.
Na agropecuária, os aportes ficaram estáveis, e passaram de US$ 1,792 bilhão para US$ 1,751 bilhão, na mesma base de comparação. No caminho inverso do desempenho geral do investimento direto no País (IDP), os aportes na extração de minerais metálicos e na indústria de papel e celulose se elevaram, em 44%, para US$ 664 milhões e em 164%, para US$ 337 milhões, respectivamente.
O professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Orlando Assunção Fernandes, relaciona o crescimento do investimento em celulose ao fator câmbio. “A indústria de celulose é exportadora e, naturalmente, a desvalorização do real frente ao dólar gera dinamismo ao segmento”, diz Fernandes. Vantagem competitiva Para o professor do Instituto Insper, Joao Luiz Mascolo, a estabilidade dos investimentos na agropecuária pode ser explicada pela vantagem comparativa do setor com relação a outros países.
“A agricultura é menos suscetível a problemas econômicos de curto prazo. É um setor que tem uma vantagem comparativa e está muito sujeito a preços internacionais. Já a indústria nacional está muito sujeita ao câmbio e a medidas protecionistas, como aumento de tarifas de importação, por exemplo. É um setor que não tem competitividade, então fica sujeito a circunstâncias internas ruins”, afirma o professor do Insper, ressaltando que a competitividade é capaz de amortecer desarranjos econômicos de curto prazo.
Com relação à elevação de aportes na extração de minerais metálicos, os especialistas lembram da demanda chinesa que, apesar de ter desacelerado, continua em alta. “A taxa de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] chinês ainda está na faixa de 7%. Isso pode ter feito com que as exportações de minério de ferro tenham se mantido”, avalia o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Carlos Honorato. Já os aportes em petróleo e gás sofreram retração de 18% até abril deste ano, para US$ 746 milhões, em relação ao mesmo período de 2014. A queda pode ser atribuída aos escândalos de corrupção envolvendo a Petrobrás. A dinâmica de retração dos serviços, por sua vez, está vinculada aos processos de desaceleração da economia. “Nesse setor, os investimentos dependem da renda da população”, diz o professor do Insper. Para os especialistas, a expectativa de retomada dos investimentos estrangeiros ainda é incerta e as medidas de ajuste econômico anunciadas até o momento não foram suficientes para retomar a confiança dos investidores externos.
José Luis Mascolo avalia que o fato do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não ter comparecido ao anúncio do contingenciamento do Orçamento da União (R$ 69,9 bilhões) deixou dúvidas em relação ao tamanho e à força do ajuste fiscal.
“Cada vez que o Levy toma um revés, isso coloca em cheque a estratégia do governo para fazer o ajuste econômico. Mostra que o ministro não tem total apoio do governo e, portanto, reduz a credibilidade”, opina. Honorato concorda com essa análise, mas também acredita que a retração dos investimentos é temporária. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que tem espaço para crescimento de produtividade”, finaliza o professor.
Fonte: DCI – 27/05/2015