11/11/2014
Para garantir visibilidade e manter o projeto presidencial de 2018, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pretende manter o estilo de “oposição raivosa” que caracterizou o PT durante as gestões do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto.
Durante esse período, o PT ganhava destaque apontando as contradições do governo FHC ao utilizar a tribuna do Congresso para criticar o Planalto e adotando todas as manobras regimentais possíveis para atrasar ou impedir a votação de propostas no Congresso. Pelo discurso de Aécio no Senado, anteontem, essa será a postura dos tucanos de agora para frente no Congresso.
“É (um discurso) natural, ele tem que se colocar mesmo como porta-voz da oposição, já que ele teve esses votos todos. Tem que ter firmeza. Mas tem que fazer oposição democrática, sem cair nesse retrocesso que seria apoiar um pedido de impeachment (de Dilma Rousseff), e não reconhecer o resultado das urnas“, afirma Carlos Melo analista político e professor do Insper.
E para manter essa “aura” de oposição responsável, Aécio divulgou nota ontem para negar que o partido tenha pactuado com “qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações na CPI da Petrobras”.
No mesmo dia em que fez o discurso do Senado, membros da CPI Mista da Petrobras, incluindo parla mentares tucanos, fizeram um “acordão ” para blindar os políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
Na nota, Aécio afirma que o PSDB lutou pela instalação da CPI e defende que as investigações sejam concluídas sem poupar nenhum dos envolvidos. “Temos de ir a fundo na apuração do chamado petrolão e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária. Essa é a posição inarredável do PSDB”, disse o senador, que ficou muito irritado com o desempenho dos aliados na CPI.
Posicionar o PSDB contra qualquer suspeita de manipulação da CPI faz parte do processo de associar o PSDB à ética, assim como o PT se colocava na gestão de FHC. Na época, os petistas buscavam ganhar apoio com esse tipo de postura.
O deputado Carlos Sampaio (SP) representou o PSDB na reunião que definiu o “acordão ” na CPI. Depois da reunião, ele confirmou ao jornal “Folha de S.Paulo” que seu partido concordou em excluir das convocações os políticos e as pessoas citadas nas delações premiadas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef. Ontem, Sampaio disse que não houve acordo para poupar políticos, apenas a construção de um roteiro até o fim da CPI.
Negativa
Nota. Os lideres do DEM, PSDB, PPS e SD na Câmara também emitiram nota negando o acordo: “Reafirmamos nossa disposição de ir até o fim em busca dos responsáveis pelos desvios”.
Petrobras – Senador defende nova apuração
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ontem que vai articular a criação de uma nova CPI mista da Petrobras em 2015 para investigar as denúncias de corrupção envolvendo a estatal, caso a comissão atual encerre suas atividades sem apresentar resultados claros. “Vamos cobrar que as investigações continuem”, disse Aécio em entrevista à “Rádio Estadão “.
Na sua volta ao Senado após a derrota pela disputa à Presidência, Aécio condicionou o estabelecimento de um diálogo com o governo Dilma Rousseff à investigação das denúncias contra a estatal. Segundo ele, o “nível do diálogo” vai depender de “gestos claros” da presidente.
“Se no encerramento da CPI mista este ano, em dezembro, não estiverem ainda elucidados em profundidade todo esse esquema, quem ele atingiria, quais suas ramificações dentro do governo, já anunciei que a partir do dia 10 de fevereiro, na reabertura do Congresso, vamos iniciar a coleta de assinaturas para uma outra CPI mista”, afirmou durante a entrevista.
Atualmente, duas comissões estão em curso no Congresso, a CPI do Senado e uma CPI mista, composta por deputados e senadores. O regimento do Congresso determina o fim das comissões antes do começo de uma nova legislatura.
De acordo com Aécio, o PSDB, do qual é presidente nacional, tem uma “minoria pouco expressiva na CPI mista”. “0 governo é que define as oitivas”, disse.
Questionado se a investigação também não vai atingir seu partido, o senador afirmou que defende a apuração. “Tem que investigar todo mundo. Se houver alguém de outro partido tem que ser punido exemplarmente”, afirmou.
Frases
“Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado petrolão e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária.”
“Se no encerramento da CPI não estiverem ainda elucidados em profundidade todo esse esquema, quais suas ramificações dentro do governo, já anunciei que a partir do dia 10 de fevereiro vamos iniciar a coleta de assinaturas para uma outra CPI mista.”
Relator nega acordo para barrar oitivas
O relator da CPI da Petrobras, deputado Marco Mais (PT-R5), negou na ontem que a base e a oposição tenham feito um acordo para barrar oitivas de nomes ligados ao escândalo na estatal.
Maia argumentou que houve um entendimento “de procedimento” entre os partidos políticos sobre quem deverá ser ouvido pelo colegiado faltando pouco mais de um mês para o encerramento dos trabalhos da CPI.
O petista descartou, no entanto, que tenha ocorrido uma “blindagem”. “Não há nenhum acordo”, resumiu.
Dados omitidos protegeram o PT
Terceira colocada na disputa pelo Palácio do Planalto, Marina Silva (PSB) publicou ontem um artigo em que diz que representantes do governo federal “omitiram deliberadamente” dados oficiais sobre a economia do país para proteger – e não constranger – a presidente Dilma Rousseff (PT) durante a campanha.
A ex-senadora usou de exemplo os dados divulgados anteontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mostram que a miséria no Brasil aumentou pela primeira vez desde 2003, quando o PT as sumiu a Presidência e o indicador começou a cair. Entre 2012 e 2013, o número de pessoas que vivem com renda mensal abaixo de R$ 70 passou de 3,6% para 4% da população .
“O Ipea, órgão vinculado à Presidência, adiou o anúncio das estatísticas sobre pobreza e miséria no país e alegou que tal decisão era para não favorecer nenhum candidato (na verdade, não queria oferecer constrangimento à candidatura petista)”, diz a socialista no texto publicado em seu site oficial.
Para endossar o discurso, Marina disse ainda que Dilma “autorizou reajuste de preços, alta de juros e divulgação de informações que na campanha negava ou condenava”. Para ela, “a realidade se mostra na exposição de dados oficiais omitidos, deliberadamente, por representantes do próprio governo durante a campanha presidencial.”
Sem mandato, Marina tenta se manter como uma das principais lideranças da oposição, posto que deve dividir com o senador Aécio Neves (PSDB), derrotado no segundo turno das eleições . Para isso, cobrou ações do governo sobre a Amazônia.
Fonte: O Tempo – 07/11/2014.