25/06/2014
As principais escolas de negócio do país estão se credenciando frente às mais importantes acreditadoras acadêmicas do mundo. Mais do que um selo que confere status, uma acreditação de renome coloca a instituição em um seleto grupo de escolas de ensino em nível global e abre as portas para a internacionalização, facilitando o ingresso em redes de pesquisas, o fechamento de parceiras e convênios e a atração de alunos que querem ter aqui o mesmo padrão de suas escolas de origem.
A Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV -Eaesp) é a única do país a ter as três principais acreditações, tendo sido a primeira da América Latina a alcançar esse feito. A principal acreditação é a conferida pela americana AACSB – The Association to Advance Collegiate Schools of Business. Criada na década de 1930, é a mais tradicional e respeitada acreditação e avalia todo o escopo acadêmico: portfólio de cursos, pesquisa, infraestrutura e corpo docente. A EQUIS (European Quality improvement System) é conferida pela EFMD – The European Foundation for Management Development, com sede em Bruxelas, que também faz uma análise completa avaliando a qualidade do ensino de administração e negócios. A EAEP ainda tem a acreditação inglesa AMBA – The Association of MBAs que avalia os cursos de MBA.
“Optamos por ter as três acreditações porque queríamos nos expor a padrões internacionais de qualidade, alcançar um aprendizado e passar a fazer parte de uma comunidade global de escolas de excelência. Ficou mais fácil fechar parcerias”, diz Maria Tereza Leme Fleury, diretora da FGV-EAESP. Ela explica que nos EUA não há uma regulação de cursos como a que o Ministério da Educação (MEC) realiza no Brasil. E, com o surgimento das escolas de negócios na primeira metade do século XX, apesar de haver escolas seculares de excelência – como Harvard e Stanford -, houve uma proliferação de instituições de menor qualidade.
“A AACSB surgiu como uma organização privada que estabeleceu padrões para as escolas de administração americanas. A acreditação consiste numa visita de avaliação, análise de materiais e uma segunda auditoria final. Na pós-graduação, é avaliado o número de professores com doutorado que fazem pesquisa e publicam artigos”, diz Maria Teresa. A primeira certificação ocorreu em 2000. Na segunda, em 2009, a instituição promoveu renovou o corpo docente para melhor organizá-lo em relação aos programas dos cursos. A AMBA foi obtida em 2004 e 2009 e deve ser ratificada este ano. A EQUIS, em 2002, 2007 e 2012.
O Insper também se prepara para alcançar as três acreditações. Hoje a escola de negócios já conta com as certificações da AACBS e da AMBA e, segundo Luca Borroni, diretor de educação executiva e relações internacionais do Insper, está trabalhando para obter a certificação da EFDM. Ele explica que o processo é longo e caro. O Insper levou sete anos para se preparar para a primeira acreditação de ACCBS, obtida em 2010. Agora a escola deve ser reacreditada em 2015. A certificação da AMBA foi obtida em 2008 e 2013.
“A primeira análise da ACCBS visa a identificar fraquezas. Foi um processo doloroso pois, embora tivéssemos excelência em âmbito regional, tínhamos gaps no contexto global. Contávamos com um grande número de economistas; então, nos foi recomendado ampliar o quadro de administradores. Entre diversas ações tivemos de ampliar a titulação do corpo docente patrocinando e incentivando-os a fazer mestrado e doutorado. Eles também têm de ter experiência de mercado”, conta Borroni. Ele explica que a acreditação não é uma camisa de força para todas as escolas ficarem iguais. “O ponto de partida é a missão e a visão, pois há uma grande preocupação para que a pessoa que esteja comprando o curso não seja enganada”, diz Borroni.
A Fundação Dom Cabral já obteve as acreditações da AMBA e da EFMD e só não tem a da ACCBS porque os cursos de MBA, foco da instituição, não se encaixam nos padrões da acreditação americana. Segundo Paulo Resende, diretor executivo de programas de pós-graduação, a instituição já está na terceira certificação da EFMD e na segunda da AMBA. “Ser certificado indica muito mais do que um selo, mostra que estamos no caminho certo. Nas áreas corporativas – finanças, RH, processos – tínhamos carência de professores com experiência acadêmica, mas, nas áreas mais novas – inovação, liderança -, dava-se o contrário: muita experiência acadêmica e pouca prática”, diz.
Para Adriana Victoria Garibaldi Hilal, vice diretora de relações internacionais do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead /UFRJ), as certificações representam adesão a um padrão de qualidade internacional vigente nas melhores escolas do mundo, respeitando sempre especificidades do contexto local. A instituição escolheu o selo Equis da EFDM, e, por ser pública e sujeita a restrições orçamentárias, ainda não pode se candidatar às demais acreditações.
“O nome MBA é usado com muita liberalidade no Brasil, com cursos muito distantes dos da Europa e dos EUA. A acreditação assegura que a instituição atende a padrões internacionais e permite a formação de alianças com as melhores escolas do mundo”, diz Adriana. O Coppead /UFRJ é a única unidade do sistema federal que tem acreditação internacional.
O Ibmec Rio credenciou-se na AMBA e, segundo Flávia de Almeida, coordenadora dos MBAs, foi buscar a acreditação para que o aluno possa ter um reconhecimento internacional. Ela diz que a instituição teve de ampliar a carga horária de 360 para mais de 500 horas. “Para fortalecer a capacidade de gestão criamos um core básico para todos os cursos com dez disciplinas comuns aos cursos de finanças, gestão de negócios, gestão de projetos, controladoria e comunicação estratégica”, acrescenta Flávia.
A Fundação Instituto de Administração (FIA) escolheu o AMBA por considerá-lo o organismo internacional mais seletivo e formado por ex-alunos, sem compromisso com as escolas. “A AACBS e a EFDM são associações de escolas. Fomos a primeira do Brasil a obter o AMBA, e nosso foco foi criar um MBA desenhado de acordo com os padrões internacionais, aumentando a carga horária de 400 para 500 horas”, diz James Wright, coordenador do programa de estudos do futuro da FIA.
Fonte: Valor Econômico – SP – 18/06/2014