As ações da Petrobras desceram ontem ao menor valor histórico em quase dez anos, sem contar a desvalorização da inflação. Os papéis preferenciais (sem voto), que são os mais negociados, terminaram o dia valendo R$ 12,45, com queda de mais 1,19%, devido ao escândalo na estatal.
É a menor cotação desde 25 de maio de 2005, muito antes das primeiras descobertas de reservas do pré-sal, em 2007, e quando a companhia era apenas a sexta parte da gigante de hoje.
Àquela época, essas mesmas ações valiam R$ 12,33 na Bolsa, enquanto a soma de todos os ativos da companhia (campos de exploração, refinarias, plataformas, pesquisas etc.) chegava a R$ 64,533 bilhões, depois de descontadas as dividas – o chamado patrimônio líquido.
Hoje, a Petrobras é uma das maiores petroleiras do mundo, com valor patrimonial alçado a R$ 362,240 bilhões, contando as reservas de petróleo comprovadas, propriedades, tecnologia e ativos muito maiores e sofisticados. No entanto, a estatal vale na Bolsa praticamente os mesmos R$ 158,859 bilhões daquela época. Ou seja, é negociada com um desconto de 56,1% em relação ao mínimo que deveria valer.
As ações ordinárias (com voto), que foram vendidas em agosto de 2001 aos fundos com recursos do FGTS, tiveram recuo de 1,57%, para R$ 11,94. Estão no menor valor desde 15 de setembro de 2004.
Novo balanço
Além dos desdobramentos policiais do caso, a preocupação atual é com o provável efeito do reconhecimento de perdas decorrentes de desvios e da contabilização inflada das refinarias.
“Não é sabido o tamanho da quantia desviada, nem como isso vai impactar o resultado da companhia”, diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
O analista Fabio Fuzetti, da Antares Capital, acredita que apenas a diferença de valor das refinarias Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ) possa chegar a R$ 48 bilhões.
Helio Corazza, técnico do CFC (Conselho Federal de Contabilidade), que ajuda a elaborar as regras contábeis brasileiras, afirma que a retificação não precisa ser retroativa. Isso implicaria a inviabilidade da correção de impostos e de dividendos pagos maiores do que o devido.
Para Eric Barreto, especialista em contabilidade do Insper, o mais provável é que a estatal reconheça e retifique as perdas de anos anteriores no próximo balanço. “Só vai republicar os balanços anteriores se a CVM exigir.”
No caso das refinarias, os auditores devem pedir um ajuste entre o valor patrimonial (quanto foi gasto nas instalações ) e quanto a unidade gerará de receitas. “Se a refinaria não se pagar, essa diferença será lançada como despesa, reduzindo o lucro ou levando ao prejuízo.”
Investidor deve evitar vender papel na baixa
Ao ver a ação da Petrobras atingir o menor valor desde 2005, o pequeno investidor que tem papéis da companhia pode se sentir tentado a vendê-los.
Mas a recomendação de analistas é: não venda sua ação quando ela esta com preço muito baixo.
Um exemplo ocorreu neste ano: em 17 de março, as ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, estavam no menor preço desde 8 de junho de 2005, ao fechar em R$ 12,57. Em 9 de setembro, ela valia R$ 24,56.
O investidor que se desfez dos papéis naquele 17 de março “realizou o prejuízo”, jargão da Bolsa para definir quem vende ação num momento de baixa.
Fonte: Folha de S. Paulo – 19/11/2014.