Os bilhões de reais subtraídos da Petrobras no caso do petrolão abalaram as suas finanças e a levaram ao constrangimento de não divulgar o seu balanço financeiro. As perdas estimadas até aqui poderão chegar a 20 bilhões de reais. O prejuízo da maior empresa do país com o seu uso político pelo governo Dilma Rousseff, entretanto, supera, em muito, o valor desviado pela gangue capturada na operação Lava-Jato.
O principal fator de destruição de riqueza se dá na política para o preço dos combustíveis. Para evitar que a inflação estoure o teto da meta oficial, uma vez que não quis combatê-la, o governo decidiu segurar os reajustes da gasolina e do diesel. A Petrobras é obrigada a amargar um prejuízo bilionário com a venda de combustível a preços inferiores aos pagos para importá-lo, dado que a produção nacional é insuficiente.
As perdas acumuladas com a operação de abastecimento da Petrobras chegavam a 60 bilhões de reais até junho passado – o triplo do que foi desviado. Trata-se da metade do que a empresa arrecadou com a venda de ações no fim de 2010, com o objetivo de se capitalizar para bancar a exploração do pré-sal.
Como resultado da política de usar a estatal para os propósitos do governo e não para renumerar os seus acionistas, a companhia deixou de atrair a atenção dos investidores. O seu valor de mercado desabou 59% desde o início do governo de Dilma Rousseff, uma perda de 226 bilhões de reais (veja o quadro abaixo). Medida em dólares, a desvalorização das ações foi ainda mais acentuada, superando 70%. No mesmo período, o valor de mercado da americana Exxon cresceu 10%, e o da anglo-holandesa Shell avançou 13%.
Na análise do mercado brasileiro, o desempenho da Petrobras encontra respaldo em outras estatais, também vítimas da interferência nociva do governo. A Eletrobras deve encerrar 2014 com prejuízo pelo terceiro ano seguido e corre o risco de não distribuir dividendos aos seus acionistas, algo inédito, porque a sua reserva está no fim. As dificuldades operacionais e financeiras se agravaram há dois anos.
A estatal foi a mais prejudicada pela decisão federal de renegociar os contratos de energia no fim de 2012. A medida resultou em uma perda contábil de 10 bilhões de reais. Depois, impactou a sua receita em decorrência da tarifa mais baixa. Mais recentemente, a estatal tem perdido dinheiro com o baixo nível dos reservatórios de usinas hidrelétricas. Como a geração está aquém do previsto, a Eletrobras é obrigada a adquirir energia no mercado à vista, a valores elevados, para honrar os seus contratos de entrega a consumidores.
Nos nove primeiros meses deste anos, essa despesa totalizou 6,8 bilhões de reais. Os bancos públicos também têm sido submetidos a interferências que afetam os seus resultados, como fica evidente quando se compara o desempenho das ações do Banco do Brasil com o dos papéis dos maiores bancos privados.
“Trata-se do modelo mental do atual governo. O Estado sabe tudo, pode tudo“, resume Sergio Lazzarini, professor do Insper e autor do livro Capitalismo de Laços. “A lição é que usar as estatais para controlar preços não funciona. Você quebra a estatal e não resolve o problema porque é muito difícil remar contra forças de mercado. O melhor é criar um ambiente de regras estáveis que permita que as empresas invista e aumentem a eficiência ao longo do tempo.”
Fonte: Revista Veja – 24/11/2014.